quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Desinformação mata. Nós investigamos para que ela gere menos vítimas

 

Em agosto, publicamos uma reportagem sobre um grupo de mídia evangélica que dissemina desinformação sobre diversos assuntos, incluindo a pandemia. Semanas depois, o senador bolsonarista Arolde de Oliveira, dono do grupo, morreu de Covid-19.

Muitos chamaram de ironia do destino. Mas além de trágica e lamentável – como cada uma das mais de 160 mil mortes causadas pelo coronavírus –, a morte do senador mostra que o buraco é mais embaixo. "Arolde de Oliveira foi mais uma vítima da desinformação, ainda que ele fosse também um dos vetores dela", explica a repórter Ethel Rudnitzki, autora da reportagem e do texto da newsletter de hoje. 

Como combater a desinformação no dia a dia para que ela não faça ainda mais vítimas? Responda a este email e envie sua reflexão para as "Cartas dos Aliados"!

Um abraço, 

Giulia Afiune
Editora de Audiências
Desinformação mata.
Nós investigamos para que ela gere menos vítimas

por Ethel Rudnitzki
 

No dia 31 de agosto, eu e a repórter Laura Scofield publicamos uma matéria sobre o grupo MK de comunicação e seu portal de notícias, o Pleno.News – que é um dos que mais dissemina desinformação, segundo especialistas que entrevistamos. Entre as informações falsas publicadas pelo site, várias tratavam da pandemia de Covid-19, como a manchete "Sol forte pode matar coronavírus em 34 minutos", que foi escolhida para abrir nossa reportagem. 

Menos de dois meses depois, o senador Arolde de Oliveira – cuja família é dona do grupo MK, e que havia ele próprio duvidado da gravidade da pandemia – faleceu de complicações decorrentes da infecção por coronavírus. 

Alguns chamam de ironia do destino. Já eu não vejo coincidência no caso, uma vez que o congressista tinha 83 anos e as estatísticas apontam que a grande maioria das mortes por coronavírus no Brasil estão nessa faixa etária. E também não vejo graça, nem acho "bem feito", como muitas pessoas nas redes sociais ressaltaram.

Para a publicação da reportagem, eu entrevistei o senador por telefone, depois de alguns dias tentando horário na sua agenda. Ele me atendeu com muita disposição e falamos por cerca de uma hora. Comecei perguntando de sua trajetória política, sem poupá-lo de perguntas sobre polêmicas em que se envolveu, como a denúncia de uso de concessão pública para propaganda eleitoral, e a investigação por participação em atos antidemocráticos. O congressista me respondeu a todas elas, de maneira transparente e respeitosa, ainda que algumas de suas respostas não me soassem exatamente corretas. Tentei inclusive rebater, mas meu papel como jornalista não era convencê-lo de nada, mas saber suas opiniões, que ele deixou bem claras. 

Ele era contra o isolamento social, queria combater os ideais de esquerda, acreditava que as instituições estavam aparelhadas e que era perseguido politicamente, além de ser um grande admirador do presidente Jair Bolsonaro. Também era entusiasta dos meios digitais e falava com orgulho de suas campanhas nas redes.

Tudo isso já era mais do que muitos bolsonaristas estão dispostos a falar em on para um veículo de jornalismo profissional. A maioria dos seguidores do presidente simplesmente se recusa a dar entrevistas para a imprensa ou preferem falar em off, ou seja, pedindo para não ser identificado. 

Por isso, logo que fiquei sabendo que Arolde tinha sido diagnosticado e internado com Covid-19, fiquei preocupada. Quando o senador faleceu, a sensação foi de tristeza. Da mesma forma que me entristeço a cada vez que ligo o jornal e vejo os números de mortos pela pandemia aumentando.

Ao reportar e denunciar o grupo MK como propagador de desinformação, eu procurava justiça. Ela poderia ter vindo na forma de uma retratação do Pleno.News sobre as notícias falsas que publicou, ou na abertura de uma investigação judicial sobre o assunto – mas não veio. O principal objetivo, no entanto, era que a informação de qualidade chegasse a mais pessoas, para que a desinformação gerasse menos vítimas.

Arolde de Oliveira foi mais uma vítima da desinformação, ainda que ele fosse também um dos vetores dela.

Quem vê a morte do senador como justa ou "bem feita", reproduz a máxima "olho por olho, dente por dente", e não contribui para o combate à desinformação. Meus pêsames à família.

Ethel Rudnitzki é repórter da Pública. 

Rolou na Pública
 

Violência em comunidades terapêuticas. Na última sexta-feira, publicamos uma reportagem que denuncia torturas e agressões em uma comunidade terapêutica para adolescentes em Minas Gerais. A matéria saiu no Correio Braziliense e na Carta Capital. Em outra reportagem, contamos a história de Lucas Rosa, assassinado dentro do local. Foi republicada pelo MSN e Yahoo!.

Ligações perigosas. reportagem que revela as ligações entre narcotráfico, política e agronegócio saiu em 13 sites, entre eles Brasil de FatoJornal GGN e Dom Total.

Amazônia reverberando. Nossa cobertura sobre Amazônia é cada vez mais referência sobre o tema: relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Amazon Watch que denuncia as violações dos direitos indígenas por empresas cita algumas de nossas reportagens. 

Nossas eleições estão aí. As eleições municipais estão chegando e nós queremos entender o papel das religiões no pleito. Para isso, estamos recolhendo relatos de leitores sobre campanhas em templos e igrejas. Envie sua história ou, se preferir, nos ajude a divulgar o questionário.

Comentários sobre a newsletter "Brasil afora, prefeitos usam cloroquina como arma na eleição", de 28 de outubro de 2020:
 

Que pena esta matéria esteja tratando de um assunto que não tem embasamento científico. Realmente as fakenews estão em alta. Estou cheia de mentiras vindas deste governo.

Rosa Santos, Salvador (BA)

Entendo que os que estão distribuindo esses kits deviam ser responsabilizados por quaisquer danos sofridos pelos infelizes que caírem nesse conto. Devem ser processados e ir pra prisão por distribuir substâncias comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. Acho que esses prefeitos são apenas criminosos, bandidos que 

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