2021 será desafiador, mas muito especial Daqui três meses a Agência Pública completa dez anos. Celebrar uma década de jornalismo investigativo independente é ainda mais significativo depois de um ano como 2020. Lá no dia 13 de março, uma sexta-feira, saímos da redação depois de publicar a reportagem que revelou os desertos de unidades de tratamento intensivo pelo Brasil - informação de extrema relevância para um país que começava a ser afetado pelo coronavírus.
Essa foi a última vez neste ano em que trabalhamos todos presencialmente em nossa redação. Naquele dia publicamos a primeira reportagem do que se tornaria uma cobertura extensa, que envolveu toda nossa equipe e que mostrou como o coronavírus afetou a vida dos brasileiros, principalmente os mais vulneráveis. Revelamos que antes da pandemia os presídios do país já enfrentavam uma epidemia de tuberculose, acompanhamos as incertezas dos trabalhadores informais em São Paulo nos primeiros dias de isolamento social, mostramos que contrariando as recomendações das autoridades de saúde, as mega igrejas evangélicas seguiam fazendo cultos presenciais. Investigamos também a situação dos quilombolas e indígenas frente ao coronavírus. Além de estarem vulneráveis à doença, a crise sanitária fragilizou ainda mais os mecanismos de proteção aos povos indígenas e abriu brechas para a ação de invasores em seus territórios. Em maio, revelamos que em duas semanas, o número de mortes de negros por Covid-19 foi cinco vezes maior do que de brancos no Brasil.
No início de março, publicamos as primeiras reportagens sobre a colaboração do FBI com a operação Lava Jato, revelação que deu o que falar ao longo do ano. Também foi quando cinco novas pessoas se juntaram à nossa equipe para produzir mais podcasts, reportagens, matérias de dados e trabalhar no design de nosso conteúdo. Há quase dez anos, a Pública nascia por iniciativa de três repórteres mulheres que perceberam que o Brasil precisava de uma agência que produzisse jornalismo investigativo de forma independente. Graças à coragem e persistência delas, hoje contamos com uma equipe de 30 pessoas talentosas e comprometidas em fazer jornalismo sério e de interesse público com qualidade.
O espírito valente e inovador que inspirou a criação da Pública sempre nos acompanhou ao longo destes dez anos. Só em 2020 fizemos um projeto de investigações participativas - em que reportagens são feitas com base em relatos do público; lançamos em parceria com outras 10 organizações o Canal Reload, dedicado a levar informação de qualidade aos mais jovens; fizemos uma plataforma para facilitar o acesso dos cidadãos aos pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro; lançamos em parceria com o Meio uma série narrativa sobre o trabalho do Wikileaks no formato inédito de newsletter pop-up. Coordenamos uma investigação com parceiros de outros quatro países sobre a atuação de entidades religiosas que realizam práticas de "reorientação" para LGBTQI+ na América Latina.
Ao mesmo tempo, seguimos cobrindo violações de direitos humanos na Amazônia - mesmo sem poder ir a campo para fazer reportagens, investigamos o avanço do fundamentalismo religioso, o Governo Bolsonaro, redes de desinformação e outros temas urgentes para o país. Vamos tirar as duas últimas semanas que restam em 2020 para descansar e nos preparar para um ano que promete ser tão desafiador quanto este, mas que para nós já é especial por marcar os dez anos da Pública. Muito obrigada por estar com a gente neste ano. Desejamos que 2021 seja melhor e que você permaneça nos acompanhando!
Marina Dias, coordenadora de comunicação da Agência Pública |
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Pauta Pública. Quadrinhos e jornalismo têm tudo a ver. Para falar de como isso é feito, quais as influências em comum e muito mais, o Pauta Pública recebe dois dos nomes mais importantes do Jornalismo em quadrinhos do Brasil. Alexandre De Maio, que colaborou com a Agência Pública na reportagem "Meninas Em Jogo", uma referência no gênero, e Carol Ito, que produziu para a Pública a hq "Mulheres da Craco". Ouça agora. |
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O que você perdeu na semana Grilagem no cerrado baiano. Fornecedora da Cargill, a SLC Agrícola desmatou, em 2020, mais de 5 mil hectares de Cerrado para cultivar soja em Formosa do Rio Preto (BA), mostra reportagem da Mongabay. Parte da produção da SLC adquirida pela Cargill provém de terras griladas, segundo uma investigação do Ministério Público Federal com o Supremo Tribunal de Justiça.
Primavera árabe. Uma década após suicídio de vendedor ambulante dar início à Primavera Árabe, Tunísia vive clima de decepção e protesto, provocado pela precária situação social e econômica, segundo análise do Deutsche Welle. Em países como Iêmen, Egito e Líbia, resultado foi opressão ainda mais forte e recrudescimento da violência.
Kit-covid. Ministério da Saúde prevê gastar R$ 250 milhões para pôr "kit-covid" em farmácias populares. Hidroxicloroquina e azitromicina não têm eficácia comprovada, mas se tornaram aposta do governo Jair Bolsonaro contra a doença, como a Agência Pública já mostrou nesta série de reportagens.
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Últimas do site Nega-te a ti mesmo. Nova série de reportagens da Agência Pública em parceria com veículos de outros 4 países mostra como atuam grupos religiosos internacionais para "reverter" população LGBTIQI+ do Brasil e de países vizinhos. Nossa reportagem chegou a acompanhar evento realizado pelo grupo Exodus Brasil e ouviu falas como esta: “Se você tem problema pra saber quem você é, você faz assim: fica pelado. O que você tem aí embaixo? Não tem um pênis e um testículo? Mulher. Pronto. Acabou. Resolvido o assunto. Deus é Deus”. Investigamos também o caso de uma jovem lésbica que alega ter sido exorcizada em seminário de igreja ligada à ministra Damares Alves e a cantora Ana Paula Valadão. O especial "Nega-te a ti mesmo" contou com a participação dos veículos Ojo Publico do Peru, El Surtidor do Paraguai, Mexicanos contra la corrupción y la impunidad do México e a repórter Desirée Yépez do Equador. Confira todas as reportagens aqui. |
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Pare para ler Apagão do Amapá. Pelo menos 8 pessoas morreram direta ou indiretamente por conta do blecaute que atingiu o Amapá. As autoridades demoraram a prestar atenção na crise energética que assolou o estado. Durante mais de 20 dias, cerca de 765 mil pessoas ficaram isoladas sem acesso à internet e à telefonia. Foram mais de três semanas de incertezas, novos blecautes e um rodízio de energia em 13 cidades. |
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