terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Adeus a marmorista morto é marcado por protestos de parentes contra a PM e pedidos por justiça

 

Adeus a marmorista morto é marcado por protestos de parentes contra a PM e pedidos por justiça

Redação Notícias
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Descrito por parentes e amigos como sendo uma pessoa que vivia para o trabalho, Marcelo Guimarães, de 38 anos, funcionário de uma marmoraria, tinha planos de aproveitar uma pausa para descansar com a família.

Em sua despedida, nesta terça-feira, no Cemitério de Inhaúma, familiares relembraram que ele havia comprado um pacote de turismo e estava com uma viagem marcada para o próximo mês de abril para conhecer, ao lado dos filhos e da esposa, Carla Roberta, com quem completaria 22 anos de casado, o paraíso ecológico de Bonito, no Mato Grosso do Sul.

No entanto, um tiro de fuzil, que o atingiu pelas costas, num dos acessos à Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, interrompeu este e outros sonhos da família na manhã desta segunda-feira.

Durante o sepultamento, que contou com a presença de aproximadamente cem pessoas, parentes e amigos carregavam cartazes em protesto contra a morte de Marcelo e acusaram a Polícia Militar de ter sido responsável pelo tiro que o atingiu."Polícia assassina" e " Não existe confronto quando apenas um tiro é disparado" estavam entre as mensagens carregadas pelo grupo que acompanhou o enterro na tarde desta terça.

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Testemunhas e moradores da Cidade de Deus contaram que o disparo foi feito por um dos dois policiais militares que estavam num carro blindado da PM, nas proximidades da entrada da comunidade. Carina Guimarães, de 34 anos, irmã de Marcelo, disse que seu sobrinho, de 5 anos, ainda não sabe da morte do pai.

— Meu irmão era uma pessoa maravilhosa. Era meu confidente, estava ao meu lado pra tudo. Nossa dor é irreparável. Ele deixou filhos. Um deles, de 5 anos ainda não sabe que o pai morreu. Queremos Justiça — disse Carina, chorando.

A filha de Marcelo, a jovem Vitória Guimarães, de 19 anos, também se emocionou e foi às lagrimas durante o adeus ao pai.

— Olha o que fizeram com o meu pai. Meu pai não era bandido! — disse, chorando, durante a cerimônia de sepultamento.

Marcelo era casado e deixou dois filhos. Ele havia acabado de deixar o menino de 5 anos em uma escolinha de futebol e voltava de moto para casa, na Gardênia Azul, também em Jacarepaguá, quando foi atingido pelo disparo na altura da Avenida Edgar Werneck. Antes de o corpo ser enterrado, um parente de Marcelo fez um desabafo.

— Isso não vai trazer o Marcelo de volta, mas temos que aproveitar para gritar por Justiça. Não queremos que outras famílias passem por isso — disse o familiar.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital.

Nesta terça-feira, uma perícia foi feita no blindado da PM, no pátio da especializada. De acordo com a DH, em depoimento, os policiais militares que participaram da ação afirmaram que havia dois agentes no local onde a tragédia aconteceu com um blindado.

Segundo o relato dos PMs aos investigadores, criminosos dispararam contra o blindado e um dos militares efetuou apenas um disparo de dentro do veículo, segundo eles, para que um outro PM pudesse entrar no carro.

Além de ter ouvido os PMs e testemunhas da morte de Marcelo, a Policia Civil também apreendeu um cartucho encontrado no local e vai analisar se o projétil confere com as armas dos policiais.

PM afirma que houve confronto

De acordo com a versão da PM, o confronto começou quando equipes do 18º BPM que faziam um patrulhamento na Edgard Werneck foram alvos de disparos feitos por bandidos que estavam na Cidade de Deus. Os agentes, segundo a corporação, revidaram.

— Não houve operação da PM no local. Marginais rechaçaram com disparos nosso blindado, que vem sendo posicionado no local para dissuadir possíveis investidas. Nesse contexto foi atingido um motociclista que vinha saindo da comunidade e, pela posição dos disparos, é improvável que tenha sido vitimado pelas guarnições da PM — disse o coronel André Silveira, comandante do 18º BPM.

Em nota enviada nesta segunda-feira, a PM informou que, além das investigações da DHC, será aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte de Marcelo:

"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta segunda-feira (4/1), equipes do 18º BPM (Jacarepaguá), que reforçam o policiamento nas imediações da Comunidade Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foram atacadas por disparos de arma de fogo realizados por criminosos de dentro da comunidade quando baseadas na Av. Edgard Werneck. Os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos.

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