sexta-feira, 30 de abril de 2021

Esqueletos no armário

Ed. #198 | 30 de abril de 2021
Esqueletos no armário
 

Fechamos a semana com devastadores 400 mil mortos pela Covid e a certeza de que boa parte dessa tragédia poderia ter sido evitada não fosse a conduta do governo federal, que a CPI do Senado promete investigar - com a relatoria de Renan Calheiros mantida pelo STF. Se funcionar pra valer, apesar da ofensiva governista para melar a CPI, pode ser enfim o início de um processo de responsabilização de Jair Bolsonaro pelos crimes que todos nós testemunhamos diariamente, há mais de um ano: o incentivo às aglomerações, a propaganda contra o uso da máscara, a recomendação do presidente e a distribuição, através do Ministério da Saúde, de medicamentos ineficazes e perigosos, a ausência de campanhas de prevenção com informações científicas, o desprezo às vacinas, a única proteção real contra o vírus, que, junto com as outras medidas que o presidente subverte, poderia salvar milhares de vidas. 

Para além do que parece cada vez mais justo chamar de genocídio da população brasileira, há indícios cada vez mais fortes de outros esqueletos no armário da família presidencial. Nesta semana, o Intercept publicou transcrições de grampos telefônicos que sugerem contatos entre o presidente da República e milicianos que protegiam Adriano Nóbrega, o chefe do Escritório do Crime, morto na Bahia em uma operação da PM no ano passado. Nos diálogos obtidos pelo repórter Sérgio Ramalho, há referências a “Jair”, “HNI - Presidente” e "O homem da casa de vidro”, apelido que, segundo fontes do MP ouvidas por Ramalho, alude às fachadas de vidro dos Palácios do Planalto e da Alvorada.

Apesar da gravidade da denúncia, baseada em documentos, não houve repercussão da matéria do Intercept na grande imprensa. Um mistério que veio se somar a outro, abordado na coluna da ombudsman da Folha no domingo passado: o silêncio dos grandes veículos sobre a revelação do gigantesco esquema de exploração sexual de meninas e mulheres de Samuel Klein, o fundador das Casas Bahia, feita pela Agência Pública, com base em processos judiciais e mais de 30 entrevistas. A Folha é parceira de republicação da Agência Pública e, assim como em outras reportagens, já tinha acertado a publicação das acusações contra Klein. Voltou atrás, sem muitas explicações, depois de ter elogiado a qualidade da apuração. 

Se a imprensa pretende manter sua credibilidade está mais do que na hora de deixar de lado preferências e interesses e colocar o interesse público da informação em primeiro lugar. 

Nota: Registro aqui perseguições judiciais que o colega Rubens Valente e a equipe da agência de checagem “Aos Fatos” estão sofrendo. Valente teve de recorrer ao STF para se defender de um ministro do próprio STF, Gilmar Mendes, que o processa por “danos morais” por informações publicadas pelo repórter em seu livro “Operação Banqueiro”. Já “Aos Fatos” foi impedida pela Justiça paulista de publicar uma checagem sobre desinformação disseminada pela revista Oeste. Solidariedade aos colegas!

 
Marina Amaral, co-diretora da Agência Pública 

O que você perdeu na semana


Violência contra crianças. Nos últimos cinco anos, 100 crianças foram baleadas na região metropolitana do Rio. Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, um terço delas foi baleada durante ação ou operação policial e seis em cada 10 crianças foram baleadas na capital. Reportagem do El País analisa o contexto da violência armada que tem vitimado crianças no Rio e suas consequências não apenas para as famílias, mas para a sociedade como um todo.

CPI da Covid. A CPI que irá apurar a atuação do governo Bolsonaro na pandemia começou os trabalhos nesta semana. A BBC Brasil listou seis perguntas que a CPI deverá responder e explicou os recursos que os senadores têm à disposição, como a convocação de ex-ministros que agora criticam o governo e a solicitação de investigações oficiais que apontam irregularidades. 


Cicatrizes da Soja. Dedos amputados, perda de visão e cirurgias na coluna são algumas das cicatrizes deixadas pela crescente produção de soja no Brasil. Pelo menos 6 funcionários de empresa que transporta os grãos pelo rio Madeira (RO), relataram à Repórter Brasil problemas de saúde por conta de acidentes trabalhistas. Além disso, os trabalhadores também se queixam da exposição à poeira repleta de agrotóxicos e da omissão dos empregadores.

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Pauta Pública. No último episódio, o Pauta Pública recebeu o correspondente Jamil Chade para explicar o que fez o ex-chanceler Ernesto Araújo, o ministro do Meio Ambiente e companhia queimarem o filme do Brasil no exterior. Se ainda não ouviu, ouça agora o último Pauta Pública.
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Garimpo ilegal. Ameaçada há anos, a liderança indígena Maria Leusa Munduruku relata que o avanço do garimpo ilegal sobre os territórios de seu povo no sudoeste do Pará está intensificando ameaças e intimidações. A Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn, da qual Maria Leusa é coordenadora, chegou a ser atacada no fim de março. A situação é tão grave que na última quinta-feira (22), o Ministério Público Federal pediu ajuda da Polícia Federal para garantir a segurança dos Munduruku. 

Drauzio diz que vai passar. Referência nacional quando o assunto é saúde, o Dr. Drauzio Varella disse à Pública que médicos não têm direito de receitar medicamentos sem eficácia contra a Covid pois isso fere a ética médica e os direitos do paciente. Em entrevista exclusiva, ele respondeu perguntas dos Aliados e mandou um recado para os brasileiros desanimados e desiludidos: "Vai passar." Quer participar das próximas Entrevistas dos Aliados? Apoie a Pública.


Decisão contra cannabis medicinal. Em decisão unânime, ministros do Superior Tribunal de Justiça negaram o pedido de habeas corpus de uma paciente que queria cultivar maconha medicinal em casa para tratamento de epilepsia. O relator do caso utilizou uma notícia errada para justificar seu voto e afirmar que a paciente deveria procurar autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão já reconheceu o uso medicinal da cannabis em 2015, mas o cultivo não tem regulação no país e, sem um habeas corpus, continua sendo enquadrado como crime.
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Luta contra abusos no meio pornô. Embora tenham pouca visibilidade, os relatos de violência sexual no universo pornográfico brasileiro fazem parte de um cotidiano vivido por muitas mulheres. Reportagem da Ponte conta o caso de atrizes que, apesar do medo de retaliações na vida profissional e a indiferença das autoridades, se juntaram para denunciar ator e diretor por abusos sexuais.
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