Tudo isso em meio ao caos e no momento em que o Brasil superou a marca dos 400 mil mortos pelo coronavirus e o governo Bolsonaro segue acuado. Nesta semana, a CPI vai tomar os depoimentos de todos os ministros da Saúde que passaram pela pasta. Amanhã serão ouvidos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Na quarta, o General Eduardo Pazuello. E, na quinta, Marcelo Queiroga. Folha informa que o Planalto teme desgaste com quebra de patentes de vacinas contra Covid-19 e tenta barrar projeto aprovado no Senado. Se texto passar na Câmara, veto de Bolsonaro será a única saída para garantir entrega de imunizantes negociados. Isso ocorre no momento que até os EUA estão pensando em adotar a quebra da patente para acelerar a vacinação.
Atenção à notícia que ganhou manchete da BBC Brasil: o Brasil tem um exército de 5,9 milhões de desempregados que estão fora do índice oficial. De acordo com os dados divulgados, os desalentados somaram 5,9 milhões em fevereiro, recorde na série histórica da Pnad Contínua, que começa em 2012. O levantamento é feito em trimestres móveis – o dado de fevereiro, portanto, é uma média composta com dezembro e janeiro.
De um ano para cá, mais de um milhão de brasileiros desistiram de procurar emprego. Alguns porque buscavam há meses, sem sucesso. Outros, porque simplesmente não veem novas vagas sendo abertas na cidade onde moram. Apesar de estarem disponíveis para trabalhar, essas pessoas não entram no cálculo da taxa de desemprego. Para ser considerado desempregado, pelos parâmetros internacionais de estatística, é preciso estar ativamente buscando uma vaga. O país portanto tem hoje mais de 20 milhões de desempregados. É um escândalo.
Na cena internacional, a notícia do dia é o Golpe em El Salvador. Com maioria governista, o novo Congresso salvadorenho removeu juízes da Suprema Corte. Magistrados foram acusados de 'converter a Corte num superpoder' ao impedirem ações do presidente Nayib Bukele. Além deles, o procurador-geral também foi removido do cargo. A medida recebeu críticas dos Estados Unidos e de entidades internacionais e aumenta o temor de que Bukele, eleito em 2019 com um discurso populista de direita, promova uma escalada autoritária no país. No Brasil, Eduardo Bolsonaro comemorou o golpe nas redes sociais.
Folha destaca na editoria de política que a CPI da Covid virou palco de retaliações na disputa entre aliados de Bolsonaro e senadores da oposição e independentes, que são maioria. Além de disputas judiciais e bate-boca, congressistas dos dois grupos preparam batalha de requerimentos contra adversários. Painel da Folha relata que o senador Otto Alencar (PSD-BA) vai apresentar na CPI da Covid requerimento para que o CTNBio, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, informe se a vacina Suptnik tem os chamados vetores replicantes. "O senador diz que a presença desses vetores foi a base da Anvisa para não registrar o imunizante russo. Alencar afirma que desconfia do argumento e quer checá-lo", diz a nota.
Painel informa que Bolsonaro foi aconselhado a 'sair da bolha' para vencer a eleição em 2022. Ele se reuniu com ministros e debateu estratégias para a próxima eleição. Aliados recomendaram que o presidente intensifique viagens pelo país. Ele disse estar preocupado com os vetos do Orçamento na Infraestrutura por atingirem o que pode ser uma de suas vitrines: obras públicas.
Entre os colunistas, vale a leitura de Celso Rocha de Barros na Folha. Ele diz que não há mais governo, e ninguém se dispõe a derrubar quem já desistiu de governar. "Resta-nos confiar no que ainda temos de burocracia profissional no país", sublinha. Otimista, ele aponta que o governo dos se desfaz a olhos vistos. "Pela primeira vez na história, os chefes das Forças Armadas renunciaram conjuntamente em protesto contra o presidente da República. Logo depois, o Supremo Tribunal Federal tomou coragem e cumpriu seu dever constitucional obrigando o Senado a abrir a CPI do assassinato em massa. Bolsonaro manobrou para barrar a CPI, fracassou; manobrou para tirar Renan Calheiros da relatoria da CPI, fracassou", enumera.
Sobre a crise sanitária, duas informações importantes: 1) Nelson de Sá destaca na Folha que os EUA já admitem renúncia de patentes de vacina, por conta da pressão interna e externa. A OMS decide nesta semana se aceita imunizantes chineses para seu programa voltado a países mais pobres. Na NBC, no domingo, o senador Bernie Sanders voltou a defender que o governo americano determine às farmacêuticas que renunciem a esses direitos "quando milhões de vidas estão em jogo ao redor do mundo".
E 2) Governos já encomendaram 11,6 bilhões de doses de vacina contra a Covid-19, segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Seriam doses suficientes para vacinar pelo menos a população mundial inteira com 19 anos ou mais (cerca de 5 bilhões de pessoas). Os laboratórios têm capacidade de fabricar o que foi encomendado? De acordo com o próprio Unicef, em tese, sim. É a manchete da Folha.
BRASIL NA GRINGA
Financial Times publica na edição online um artigo de Michael Pooler destacando que as igrejas evangélicas no Brasil se tornaram um campo de batalha da Covid. Cristãos apoiam a oposição do presidente Jair Bolsonaro às restrições à pandemia. "A adoração coletiva se tornou um campo de batalha nas guerras de bloqueio no Brasil", escreve. "Na linha de frente estão crescentes massas de evangélicos, cujo número deve ultrapassar o de católicos até 2030. Freqüentemente liderados por pregadores carismáticos, eles fornecem um alicerce de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, em quem vêem um defensor dos valores familiares tradicionais". E destaca: "A negação do presidente sobre a gravidade da Covid-19 inclua oposição às autoridades locais e estaduais que fecham instalações comerciais e religiosas".
Ele lembra que, em abril, várias cidades brasileiras sediaram a chamada Marcha da Família Cristã pela Liberdade. "Os participantes enfeitados com a bandeira nacional agitaram faixas que incluíam denúncias de comunismo", registra. "Para alguns observadores, o protesto carregou ecos do passado. Em 1964, uma manifestação em massa em São Paulo com nome semelhante à marcha reuniu forças hostis ao presidente de esquerda João Goulart. Logo depois, foi deposto por um golpe que instalou uma ditadura de 21 anos". Segundo Pooler, os partidários mais radicais de Bolsonaro pedem o fechamento do Congresso e da Suprema Corte, bem como a intervenção das Forças Armadas.
Em outro texto, na edição de domingo, o jornal britânico noticia que investidores pedem que Brasil use títulos verdes para salvar a Amazônia. "O movimento é visto como uma opção inexplorada que poderia satisfazer a necessidade do Brasil de capital para conter o desmatamento crescente", destaca o correspondente Bryan Harris. A emissão de títulos verdes soberanos poderia se tornar uma alavanca para o país. "Se bem feito, vão atingir uma parede de dinheiro. É provavelmente a primeira coisa que eu faria se fosse responsável por financiar o Brasil", afirma Thede Rüst, chefe de dívida de mercados emergentes da Nordea Asset Management, que tem € 250 bilhões em ativos sob gestão.
"Seria um passo muito positivo do Brasil se eles vinculassem parte – ou todo – o uso dos recursos dos títulos verdes aos resultados [redução do desmatamento]. Este seria um passo muito positivo, não apenas para investidores que se preocupam com as ESG como nós, mas também de uma perspectiva de financiamento para o Brasil". Apesar disso, especialistas não acreditam na hipótese. "Fazer tal mudança não seria impossível se o governo [Bolsonaro] a considerasse uma prioridade", diz o jornal. "O Congresso do Brasil é notoriamente lento e as mudanças legislativas muitas vezes podem levar anos".
Le Monde também traz nova reportagem denunciando a destruição da floresta tropical: "A Amazônia, nosso último baluarte, está se balançando", emitindo mais carbono do que absorvendo-o. Diz o jornal: "Essa mudança importante e sem precedentes na floresta amazônica brasileira nos últimos dez anos se deve às mudanças climáticas e também às atividades humanas". O jornal reproduz a conclusão de estudo publicado na revista científica Nature Climate Change. "A floresta amazônica brasileira, vítima das mudanças climáticas e da atividade humana, rejeitou, nos últimos dez anos, mais carbono do que absorveu, uma mudança importante e sem precedentes, segundo estudo", relata.
O inglês The Guardian traz reportagem da correspondente Flávia Milhorance apontando a "calamidade das mortes maternas" e que, no Brasil, cresce a preocupação com as grávidas. "Após 803 mortes de grávidas e pós-parto, as autoridades alertaram as mulheres para adiar a gravidez, porque aumentam os riscos", informa. "Mais da metade dessas mortes, 432, aconteceram este ano, enquanto a pandemia no Brasil acelerava para sua fase mais mortal". A jornalista escreve que especialistas e ativistas dizem que a situação no Brasil é particularmente alarmante. "Estamos enfrentando uma calamidade de mortes maternas aqui", disse Carla Andreucci, obstetra brasileira e integrante da força-tarefa de gravidez.
O francês Le Monde trouxe reportagem no domingo relatando o aumento da pobreza no Brasil, que ocorre quando a pandemia Covid-19 se agrava. "Enquanto a barreira dos 400 mil mortos foi superada no final de abril, o presidente da extrema direita, Jair Bolsonaro, afirma não ter cometido 'nenhum erro' na gestão da crise".
Escreve o correspondente Bruno Meyerfeld: "35 milhões de brasileiros – de uma população total de 210 milhões – vivem em extrema pobreza, com menos de 38 euros por mês, um valor acima de 45% em relação a 2019. Nas grandes cidades, pontos de distribuição de lanches embalados, mantidos por ONGs locais, reúnem milhares de pessoas todos os dias. Portanto, o cumprimento de qualquer contenção é impossível para um grande número de brasileiros".
O principal jornal da França replica ainda reportagem da France Presse sobre as manifestações pró-Bolsonaro ocorridas no sábado nas principais capitais brasileiras. "Comícios em apoio ao presidente brasileiro foram realizados em várias cidades importantes do país, incluindo Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro", informa. O texto destaca que poucos protestos da oposição foram planejadas para o 1º de Maio, mas os principais políticos da oposição de direita e esquerda, estavam a participar de um ao vivo em redes sociais. Entre tais personalidades, o ex-presidente Lula que deve disputar um terceiro mandato contra Bolsonaro em 2022.
O jornal argentino noticia nesta segunda que milícias de direita crescem no Rio de Janeiro. Grupos armados que estão em sintonia com a ideologia de Jair Bolsonaro. "O Brasil é um coquetel explosivo, mas não apenas pela falta de controle sanitário. Milhares de partidários de Jair Bolsonaro saíram às ruas no dia 1º de maio gritando 'Eu autorizo' e deram ao presidente rédea solta para convocar as Forças Armadas com o objetivo de impor a livre circulação da população", escreve Gustavo Veiga.
"Se a saída dos militares de seus quartéis é uma ameaça potencial de autogolpe, as milícias de extrema direita que estão em sintonia com as idéias do chefe de Estado são uma realidade. E uma realidade crescente". Ele cita a pesquisa A expansão das milícias no Rio de Janeiro realizada pelo Grupo de Estudos de Novas Ilegalidades (GENI) da Universidade Federal Fluminense e Observatório das Metrópoles da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Eric Nepomuceno escreve no Página 12 sobre suas memórias de abril, que em 2015 levou Eduardo Galeano, e em 2014, Gabriel García Marquez. O mês agora o aterroriza este ano: "Houve um abril, do macabro 2021, que acabou com meu país destruído sob o comando de um genocida e sua gangue de inúteis para outra coisa senão cumplicidade com o horror", escreve. "A perspectiva é que até o final de junho a marca de 500 mil mortos seja atingida. Dos 5.170 municípios brasileiros, apenas 49 têm população de meio milhão de habitantes. Essa é a dimensão da tragédia. De genocídio".
INTERNACIONAL
O New York Times destaca em manchete de capa que alcançar a 'imunidade de rebanho' é improvável nos EUA, acreditam os especialistas. Variantes de coronavírus em ampla circulação e hesitação persistente sobre vacinas manterão a meta fora de alcance. O vírus veio para ficar, mas vacinar os mais vulneráveis pode ser o suficiente para restaurar a normalidade.
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