domingo, 25 de julho de 2021

Carta Capital, em 24/7/2021

 

24 DE JULHO DE 2021

Amigo leitor,

O governo do presidente Jair Bolsonaro entra em uma nova fase com a iminente nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil.

A confirmação, prevista para a próxima semana, é o sinal mais claro de que a gestão federal abriu de vez as portas para o Centrão.

Com popularidade em queda e chances reais de não ser reeleito, Bolsonaro escanteia os olavistas, limita espaço aos militares e retorna ao berço de origem.

Boa leitura!

 


 

Um governo refém

O presidente apela para a única possibilidade de salvar o seu mandato: ceder tudo ao bloco que antes criticava

CIRO NOGUEIRA E BOLSONARO. FOTO: ISAC NÓBREGA/PR

O presidente Jair Bolsonaro está de volta ao berço de origem. Após incontáveis declarações de repúdio a um governo de coalização e de e cercar-se de olavistas e militares, o capitão caiu no colo do Centrão.

Nesta semana, Bolsonaro confirmou que vai promover o que chamou de "pequena reforma ministerial".

Até o momento, o que está definido é: Ciro Nogueira assume a Casa Civil no lugar do general Luiz Eduardo Ramos. Onyx Lorenzoni, que era da Secretaria de Governo, irá para o Ministério do Trabalho, que será recriado. Outras mudanças devem ocorrer.

Bolsonaro não admite, mas é óbvio que a aliança pretende garantir governabilidade mínima para que ele chegue a 2022 em condições de disputar a reeleição.

Mesmo que isso signifique abandonar o discurso que o ajudou a chegar ao cargo em 2018.

“O Brasil não precisa de marqueteiro, centrões, demagogos e populistas. O Brasil só quer uma coisa: a verdade”, dizia Bolsonaro em campanha.

Para deputados não aliados, as mudanças são um “termômetro do desespero” do chefe do Poder Executivo.

"Ele está correndo contra o tempo e está num verdadeiro vale tudo. Difícil ver com bons olhos essa indicação [de Ciro Nogueira], porque está óbvio que não é em prol do País”, disse o deputado Junior Bozzella (PSL-SP), ex-aliado do presidente, em conversa com CartaCapital.

As trocas são, de acordo com o parlamentar, “mais uma tentativa de compra de apoio ou de legenda”.

“Quanto mais o governo derrete mais depende do Centrão”, completa o deputado Rogério Correia (PT-MG). “O toma lá dá cá é devastador, garantindo ao presidente o beneplácito de não sofrer impeachment, mesmo continuando seus crimes."

Já para o vice-presidente Hamilton Mourão, uma parcela dos eleitores de Bolsonaro pode se sentir "um pouco confundida" com o acordo.

O fato é que, consumada a reforma ministerial, o presidente ganha sobrevida. Já tem ao seu lado o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), e agora terá perto de seu gabinete Ciro Nogueira, político que conhece os atalhos de Brasília como poucos.

O afastamento de Bolsonaro, que era improvável, ganha ares de utopia. Para torná-lo viável, só com mais "povo na rua", como definiu o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), a CartaCapital.

Há uma chance do governo sair das cordas sem precisar recorrer a ameaças, como a feita pelo ministro da Defesa, general Braga Netto, a Arthur Lira.

Mas, como os ventos mudam muito rápido na capital federal, nada está garantido.

 

 
CLAUDIO COUTO

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O maior dos nossos problemas

CartaCapital, o jornalista Laurentino Gomes faz um paralelo entre o auge da escravidão no Brasil e os dias atuais

FOTO: DIVULGAÇÃO

O Brasil nunca foi uma democracia racial, como fizeram crer autores que formaram intelectualmente muitas gerações no País. É o que diz o jornalista Laurentino Gomes, que, nesta semana, lançou o segundo volume da sua trilogia Escravidão.

“Nunca chegamos e estamos muito longe de chegar. Se é que um dia chegaremos”, acrescenta.

Em entrevista a CartaCapital, o escritor vai na raiz do maior dos nossos problemas e defende que o Brasil precisa passar por uma ‘segunda abolição’.

“O famoso quartinho de empregada é um indicador de que a escravidão continua a existir entre nós sob formas sutis e disfarçadas. Da mesma forma, as nossas prisões e penitenciárias”, afirma.

"O racismo produziu um sistema de castas na sociedade brasileira. Basta observar quem mora nas periferias insalubres, perigosas, dominadas pelo crime organizado, pelo tráfico de drogas, sem qualquer assistência do Estado brasileiro. Na maioria, são pessoas afrodescendentes."

As palavras de Laurentino refletem o noticiário que tanto nos humilha, como o dos jovens mortos em um baile funk em Paraisópolis. Nesta semana, o Ministério Público de São Paulo denunciou 12 políciais por homicídio triplamente qualificado.

Ou o do prefeito de Monte Mor, no interior paulista, que expulsou moradores em situação de rua da cidade sob a justificativa de não deixá-la "virar um lixo".

São chagas abertas de um País que naturalizou a brutalidade.

 

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