sábado, 10 de julho de 2021

The Intercept Brasil

 

Sábado, 10 de julho de 2021
Pânico nos quartéis

O que temem os oficiais?

O que temem os oficiais das Forças Armadas? Por que estão nervosos soltando notas golpistas? Por que mostram desespero em entrevistas

Eu respondo: porque sabem que o rastro da corrupção na compra de vacinas pode chegar no general Braga Neto, ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro.

É preciso estar atento às falas dos senadores na CPI. Não às bombásticas e pensadas como meme de rede social, mas às que verdadeiramente importam. Os senadores estão ouvindo muita gente e recebendo muita documentação. Omar Aziz, por exemplo.

Ele tentou arrancar de Roberto Ferreira Dias o nome de quem dava as ordens na cadeia de pessoas que, agora se sabe, criaram as condições ideias para roubar dinheiro público enquanto brasileiros morriam sem vacina. Dias chegou no Ministério da Saúde pelas mãos de Abelardo Lupion, ligado à Cida Borgheti, mulher de Ricardo Barros, o líder do governo na Câmara. Barros está implicado nos casos Covaxin e Sputnik (revelado pelo Intercept ontem).

Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, não respondia apenas a políticos, mas também a militares. Acima dele estava Élcio Franco, militar. E acima de Franco, Eduardo Pazzuelo, militar. E quem comandava o comitê de crise contra a covid-19 criado pelo governo Bolsonaro? O general Braga Neto.

Dias, na CPI, disse que dois dos três coordenadores comandados por ele foram trocados por ordem superior, ordem de Élcio Franco, sem motivo informado. Um de logística e outro de finanças. E mais não disse.

Aziz estava tentando arrancar de Dias uma confissão, esperava que, com a pressão da CPI, o ex-diretor entregasse o esquema no qual aparenta ser um mero executor. Como não conseguiu, o próprio Aziz deu a senha: revelou que Dias fez um dossiê “para se proteger”, disse que sabe “onde e com quem” o dossiê está e garantiu que Dias “recebeu várias ordens da Casa Civil por um e-mail”.

O governo Bolsonaro é um governo militar, com mais de 6000 fardados pendurados na máquina. Muitos nas altas bocas de cargos de diretoria. Muitos em ministérios. Entre eles, como está ficando cada vez mais claro, há uma parcela de ladrões. A CPI está aí parar apurar e oferecer embasamento para que as instituições cheguem nos culpados. As Forças Armadas podem lidar com isso como desejarem, mas a sociedade não vai permitir que bandidos saiam impunes, vistam eles ternos ou fardas.

Leandro Demori
Editor Executivo

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