- The Intercept Brasil <newsletter.brasil@emails.theintercept.com>Se désinscrireÀ :gsgouvea10@yahoo.com.brmar. 13 juil. à 11:31
Terça-feira, 13 de julho de 2021
Por quanto você vende sua atenção?Na semana passada, fizemos uma reunião de avaliação da nossa campanha para reunir 5 mil novos doadores até nosso aniversário, em agosto. A campanha não anda bem, mas não é disso que quero falar com você.
Durante a reunião, um colega fez uma observação divertida. Ele disse: "o mundo é injusto, mesmo. A gente só precisa de um domingo de anúncio da Folha. Só um domingo e estaríamos tranquilos".
Achei um exagero, mas por curiosidade fui olhar a tabela para anunciantes que o jornal paulistano disponibiliza em sua página sobre publicidade. Nossa! A gente, na verdade, só precisa de meio domingo da Folha de S.Paulo.
Um anúncio de página inteira num domingo por lá custa R$ 601.224,00. Para anunciar no caderno Poder, cada coluna sai por R$ 12.434,00. Uma pechincha para marcas de veículos, para o agronegócio ou para a indústria de bebidas.
A iniciativa privada, como se vê, não investe pouco no jornalismo em que ela acredita. Isso porque nem estamos falando dos números do Jornal Nacional ou dos programas de rádios como a CBN e a BandNews. Certamente alguns minutos do horário nobre do jornalismo de rádio e TV seriam suficientes para financiar a operação anual do Intercept.
Mas nós não estamos abertos para anunciantes e também não temos como passar o chapéu na Barão de Limeira, sede da Folha, ou nos estúdios Globo.
O que nos resta é te pedir para refletir sobre essa desigualdade. Há décadas o jornalismo vive sustentado por uma equação: trabalho profissional bancado por empresas privadas. O jornal vende pro anunciante a minha e a sua atenção. Comercializa sua audiência. Por isso, não importa o anunciante: o importante é que ele liquide a fatura.
Os grandes jornais brasileiros não se constrangeram em publicar meia página paga pelo grupo "Médicos pela Vida", em um anúncio vergonhoso para divulgar medicamentos ineficazes para a covid-19. Essa, como se nota, é uma relação puramente comercial. Dane-se a informação.
Acredito, como jornalista, como leitora e como parte da redação do Intercept, que não é preciso ser sempre assim. Esse modelo que se perpetua há tanto tempo e com tantos problemas que nós conhecemos pode ser reinventado. Na verdade, ele precisa mudar!
Na Folha, o preço de meia página em dia de semana é R$ 240 mil. Acredito que foi quanto os médicos pagaram para difundir lorotas sobre um inexistente "tratamento precoce". Esse valor é um pouco menor do que arrecadamos mensalmente em média com doações. Ou seja: você tem dimensão do que podemos fazer com essa cifra. Uma lista rápida só para refrescar a memória: revelamos que o governo Bolsonaro vai pagar 2 dólares a mais por cada unidade de Sputnik V; investigamos a milícia; demos os principais furos sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes; ajudamos a derrubar Ricardo Salles; expusemos nacionalmente o escândalo das crianças tiradas de famílias pobres no Amapá num grande esquema de adoções ilegais.
O jornalismo pode existir sem "vender espaço", sem ceder ao poder econômico. Ele pode ser de qualidade, ousado e fazer a diferença servindo ao interesse público. É isso que o Intercept faz hoje com a ajuda de mais de 10 mil pessoas.
Nosso trabalho mostra que é possível fazer diferente, mas ele está em risco porque sem novos apoiadores não vamos conseguir colocar em prática o planejamento que fizemos para 2021. Isso é realmente muito frustrante.
Hoje quero te pedir para contribuir com o equilíbrio dessa balança. A lógica que rege a imprensa é bastante injusta e não vamos resolver isso de um jeito simples. O efeito virá quando formos ainda mais pessoas juntas doando um pouquinho. Chegamos até aqui com contribuições médias de R$ 30 de milhares de brasileiros. Sabemos que é possível, só precisamos trazer mais gente para o nosso lado.
Se puder, junte-se ao jornalismo que não se vende. Venha para o Intercept.
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