A força do desenho para espalhar histórias que importam por Thiago Domenici Hoje gostaria de falar com vocês sobre a força do desenho para contar histórias necessárias sobre temas que não costumam cativar tanto o grande público quanto uma animação da Disney ou da Pixar. Mas me permita voltar até 2016 para explicar.
Naquele ano, fizemos o especial Amazônia em Disputa, que investigou a atuação das agências governamentais em meio à disputa predatória por terra na maior floresta tropical do planeta. Queríamos que nossas reportagens sobre a floresta e seus algozes furassem a chamada bolha, ou seja, chegassem em públicos diferentes daqueles que se costuma alcançar.
Para isso, decidimos contar aquela história em um formato mais didático, unindo a investigação jornalística à estética do desenho. Publicamos dois vídeos à época: "a questão indígena em 4 minutos" e "a grilagem de terras em 3 minutos". De lá para cá, esses dois vídeos tiveram mais de um milhão e meio de visualizações.
Pode nem parecer tanto comparado a vídeos engraçadinhos de gatinhos que vemos por aí. Mas soubemos, com o tempo, que os vídeos foram exibidos em tevês educativas pelo país afora, levaram os temas para serem discutidos em salas de aula, e apresentaram o assunto para muita gente. Arriscar e ver que muitas pessoas passaram a conhecer nosso trabalho também pelo desenho foi uma grande conquista para nós.
Lembro que no vídeo da questão indígena optamos por fazer os desenhos numa lousa, essas de escola. E no da grilagem, fizemos no papel cartolina. Foram horas bolando os desenhos, os roteiros, as gravações, antes de colocar os vídeos no ar. Até hoje recebemos mensagens sobre essas animações, que contaram com o talento de Caetano Patta no desenho e de Iuri Barcelos na edição de vídeo.
Cinco anos depois, lançamos um novo vídeo naquele mesmo formato. Dessa vez, estamos falando sobre violência no campo num novo especial: Amazônia sem Lei, que investiga violência relacionada à regularização fundiária, demarcação de terras e reforma agrária na Amazônia Legal.
E por que essa animação agora? Explico. É comum escutar que o Brasil é um país violento, certo? Ouvimos muito sobre a criminalidade nas grandes cidades. Mas nessa nova animação, publicada na semana passada, a gente fala de violência no campo porque ela tem tudo a ver com os conflitos por terra. E conflitos por terra têm tudo a ver com o Brasil.
São milhares de casos de conflitos na última década. E, já sob Bolsonaro, o Brasil registrou os maiores números de conflitos no campo desde 1985, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A gente quis mostrar como a soja e o gado que chegam até você na forma de comida, por exemplo, têm a ver com violência. Procuramos explicar como o agronegócio, a mineração e a produção de energia podem estar conectados a violentos conflitos por terra, e como a política, aquela de Brasília, amalgama todas essas questões que levam centenas de defensores como Dorothy Stang e Chico Mendes a tombar na defesa da floresta.
Dessa vez, convidamos para fazer a narração o escritor Itamar Vieira Junior, ele próprio um servidor do Incra há 15 anos e geógrafo de formação. Itamar sempre esteve próximo a questões ligadas à terra, populações tradicionais, trabalhadores do campo e conflitos agrários. “Tudo que aprendi com os camponeses, quilombolas e trabalhadores rurais eu não trocaria por nenhum título acadêmico ou prêmio”, ele nos disse numa entrevista sobre o multipremiado romance Torto Arado (Todavia), que conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia em uma fazenda no sertão da Bahia.
Itamar disse que narrar o vídeo foi um dos trabalhos que mais gostou de fazer nos últimos tempos. E alertou para pressionarmos o Senado, que vai votar agora o PL da Grilagem, projeto de lei já aprovado pela Câmara dos Deputados que flexibiliza regras para regularização fundiária e pode facilitar a legalização de ocupações irregulares. "Barrar esse imenso retrocesso", ele diz, é função de todos nós.
Se já não era novidade que o campo brasileiro é manchado de sangue e impunidade, com o PL da Grilagem os conflitos tendem a explodir. E mais gente a morrer nessa luta. Aqui. E agora. Por isso, nos ajude a espalhar o vídeo e fazer com que esse tema urgente seja debatido pelo maior número de pessoas possível. |
|
Rolou na Pública Nova conselheira. Aqui na Pública temos um conselho consultivo composto por dez jornalistas e profissionais do terceiro setor que admiramos muito. Ontem anunciamos a chegada da jornalista investigativa Cecília Olliveira ao conselho. Especializada em cobertura de violência, tráfico de armas e drogas, Cecília é fundadora da plataforma Fogo Cruzado, criada para monitorar tiroteios no Rio de Janeiro e que hoje virou um instituto, presente nas maiores cidades do Brasil. O conselho consultivo da Pública se reúne duas vezes por ano e aconselha nossa direção sobre questões editoriais e institucionais. Estamos muito animadas para ouvir nossa nova conselheira!
Aliados em Oxford. O Programa de Aliados foi destaque em uma reportagem do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, sobre veículos latinoamericanos que estão apostando em modelos de contribuição de leitores. "Essa é uma forma de nutrir a confiança no jornalismo, criar novas formas de financiamento, e de fazer o jornalismo ser melhor para o público. A participação dos leitores é uma das coisas boas que o jornalismo na era digital trouxe e precisamos aproveitá-la ao máximo", disse nossa editora de audiências, Giulia Afiune, em entrevista. |
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário