quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Quando as denúncias vêm de todo lado

 

Quinta-feira, 7 de outubro de 2021
Quando as denúncias vêm de todo lado

Olá,

Sugestões de pauta, denúncias, pistas que podem se desdobrar em grandes reportagens chegam todos os dias à nossa redação. É normal. Mas o que aconteceu na história que eu vou contar é uma coisa rara: ao longo do ano, dois grupos diferentes vieram nos informar, com meses de intervalo, sobre os abusos da mesma empresa, a dona do aplicativo TikTok. Sabe por que eu me arrepio só de escrever isso? Porque, com apenas 5 anos, nosso trabalho está se tornando algo que veículos levam décadas para se tornar: referência. Explico melhor.

Em março, nossa equipe recebeu a sugestão de Felipe [nome fictício], que trabalhou em ritmo alucinado para a ByteDance, dona do TikTok, transcrevendo vídeos. Ao sair da empresa, por não aguentar mais o nível de exploração, ele não recebeu a (baixíssima) remuneração prometida pelas dezenas de horas dedicadas ao projeto. Por meio de Felipe, conseguimos contatar outras pessoas na empresa e ir reunindo material para a denúncia.

Agora em setembro, meses depois desse primeiro denunciante, outros ex-prestadores de serviço da ByteDance se juntaram e resolveram nos procurar para delatar seus casos também. O que é mais impressionante nessa história toda é: esse segundo grupo nunca teve contato com o primeiro. Ambos viram no trabalho do Intercept o caminho para denunciar as injustiças e o assédio moral que estavam sofrendo.

Este vai ser um texto curto, não vou me alongar aqui sobre os pormenores da reportagem. Se você ainda não leu, recomendo muito procurar em nosso site. Foi um trabalho que atravessou sete meses e reuniu evidências, depoimentos e apuração detalhada para contar uma história tensa de exploração, em um momento tão crítico das instituições que, mesmo levada ao Ministério Público do Trabalho de São Paulo, a denúncia foi indeferida, considerada sem "repercussão social relevante”. 

É muito bom ser lembrado da maneira mais prática possível de que, quando as instituições de defesa pública falham, o jornalismo sério e com função social ainda pode fazer algo para ajudar a corrigir injustiças e mudar a vida das pessoas.

Quando o assunto é TikTok e big techs como Google e Facebook, podemos dizer que o Intercept é lembrado imediatamente para denúncias sobre o lado menos bonito da tecnologia: desde fevereiro de 2020, já fui procurado por estudiosos do tema em universidades, por jornalistas estrangeiros e por cineastas produzindo documentários sobre essa rede social. É mais uma área em que nos tornamos especialistas em dedo na ferida.

Uma curiosidade divertida antes de encerrar esta news: na segunda-feira, quando a Facebooklândia parou por algumas horas, o TikTok postou uma gracinha no Twitter brincando que o aplicativo dos "challenges" (desafios) de dança não havia caído. Nossa equipe de redes respondeu na sequência com um link para nossa denúncia, dizendo "A nossa reportagem que detalha a cadeia de trabalho terceirizado, precarização e calotes envolvendo o TikTok também não caiu". Eles apagaram o post 🤷🏿‍♂️

Se ver um site movido por pessoas comuns se tornar uma referência contra injustiças de big techs internacionais também te empolga, seu lugar é ao nosso lado. Precisamos de você porque não podemos nem queremos aceitar anúncios ou parcerias de quem queremos investigar. Ajude o TIB a se consolidar como uma referência de denúncias nessa e em outras áreas. Vamos fazer barulho!

ESSE É MEU LUGAR, QUERO AJUDAR →  

Abraço,

Paulo Victor Ribeiro
Repórter
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