domingo, 12 de dezembro de 2021

Isso a extrema direita sabe fazer

 


ven. 10 déc. à 12:15

Sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
Isso a extrema direita sabe fazer

Olá,

Ontem nós publicamos a reportagem "Justiça paralela" e eu quero trazer alguns dados que me chocaram. A repórter Juliana Sayuri revelou como a produtora de documentários de extrema direita Brasil Paralelo – apesar de alardear a defesa da liberdade de expressão – tem usado seu departamento jurídico para silenciar críticos. Isso é grave, mas quero alertar sobre algo que me assustou ainda mais: eu não tinha ideia de quantos assinantes o Brasil Paralelo tem e nem de quanto dinheiro eles arrecadam todos os meses. São 250 mil apoiadores.

Isso, você leu bem: duzentos e cinquenta mil pessoas depositam dinheiro para uma produtora que, em 2018, foi a principal propagandista da mentira sobre a fraude das eleições em nosso país.

É um número que me faz pensar: como nós, do campo progressista, vamos atravessar 2022? Será que teremos força e apoio para não jogar nossa chance histórica no lixo? Eu não quero pensar o que seria do Brasil com mais quatro anos de Bolsonaro ou de Moro no poder.

O problema é que não dá pra pensar em derrotar esse projeto de poder apenas com boa vontade.

Confesso que não venho acompanhando o fenômeno Brasil Paralelo com afinco: sabia que era uma produtora de conteúdo grande com figuras de extrema direita em seu "elenco". Mas até ontem não tinha dimensão de quão grande e poderosa a plataforma de streaming, que nasceu em 2016, tinha se tornado desde a última vez que ouvi falar nela. 

Os números de seguidores nas redes sociais, com mais de 1 milhão no Instagram e 2,2 milhões no YouTube já impressionam, claro. Mas o que me impactou foi a multidão de membros apoiadores, ou seja: que pagam mensalidades em apoio ao projeto. Atualmente, eles passam de 250 mil.

Com frequência, contamos nas nossas news e nas redes sociais que, após três anos de financiamento coletivo recorrente, atingimos o número de 12 mil apoiadores mensais — número que, é verdade, vem crescendo, ainda que com um ritmo lento na crise, com taxas recorde de desemprego e a volta da inflação. Trabalhando há dois anos na equipe de arrecadação do TIB, foi inevitável comparar os dois quadros.

Brasil Paralelo, que a Associação Nacional de História denuncia como um núcleo que espalha "versões mentirosas" sobre a historiografia do país, que adota um "discurso incoerente e falacioso sobre evidências já trabalhadas nas pesquisas", que comete uma "série de omissões factuais, distorções do registro histórico e silêncios sobre dados inconvenientes do mesmo período" pra relativizar a ditadura militar de 64 e que já cometeu uma falsificação histórica com uma foto de Sebastião Salgado, mostrando um garimpo registrado pelo fotógrafo como se fosse uma guerrilha comunista.

Essa Brasil Paralelo tem 20 vezes mais apoiadores do que o Intercept. 

Com seus 250 mil apoiadores, a Brasil Paralelo tem a missão de "ter a capacidade de competir com a grande mídia, com os produtores de cinema e com as universidades (?!)”, e que essa é sua "reforma cultural”.

Com 12 mil apoiadores, as reportagens do TIB investigam poderosos intocados pela mídia, dão origem a novas leis, ajudam a responsabilizar corruptos e abusadores, libertar inocentes presos, proteger comunidades em risco, reverter injustiças – colocar o dedo na ferida ao revelar como as empresas queridinhas da "nova economia" roubam seu dinheiro e sua saúde mental para faturar mais. Tudo isso usando o jornalismo independente como arma.

Fico pensando do que seríamos capazes se tivéssemos 250 mil apoiadores. Mais modestamente, fico pensando o que faríamos se cada um dos nossos 12 mil apoiadores trouxesse mais uma pessoa para o nosso time.

Sabemos que sensacionalismo, conservadorismo e desinformação são a bola da vez no Brasil. Isso certamente garante o sucesso da Brasil Paralelo: estão vendendo seus guarda-chuvas na tempestade. A esses recursos, pode ter certeza, não vamos recorrer. Nossa missão vai na contramão da deles: queremos informar para além do que o jornalismo já fazia.

Tudo isso me chamou a atenção para um fato: a extrema direita sabe se organizar. Não é só uma questão de poder aquisitivo, mas de foco e mobilização. Precisamos conhecer oponentes e reconhecer suas vantagens: essa eles têm. Mas hoje eu quero te propor subverter isso. 2022 está ali na esquina e será uma oportunidade para quem quer voltar a ver o Brasil crescer, sem fome e sem esse ralo gigante de direitos que se tornou o Palácio do Planalto na gestão Bolsonaro. 2022 será uma prova de fogo para todos que defendem a liberdade de imprensa, a cultura e a educação — alguns dos maiores pilares da democracia, setores vistos pelo Brasil Paralelo como concorrentes. 

Precisamos correr contra o tempo se quisermos crescer até 2022. Falta pouco para o ano terminar e temos nossa meta para bater. Precisamos de você, que nos acompanha e nos lê, mas ainda não nos apoia. 
 
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Abraço,
Táia Rocha
Analista de Arrecadação

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