segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Quando a Igreja Católica peca

 

Terça-feira, 21 de dezembro de 2021
Quando a Igreja Católica peca

Olá,


Abrimos a semana falando de um tema sempre cheio de tabus e gatilhos: abusos sexuais no coração da Igreja Católica — desta vez, em Frederico Westphalen, cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul. O repórter Matheus Chaparini conta como o bispo Antonio Carlos Rossi Keller foi acusado de pedofilia em uma carta assinada por membros da própria igreja e acabou denunciado pelo Ministério Público por estupro de vulnerável. Ele tinha prática de morar com adolescentes, a quem dava presentes caros como celulares, notebooks e até um cheque em branco – coisas que as famílias dos jovens, no geral formadas por gente simples do interior, não poderiam lhes oferecer. 

O caso teria todos os elementos para ser um escândalo local, se a Igreja não comandasse o principal grupo de comunicação da região, com a rádio mais popular, jornal impresso e site. Esse é exatamente o tipo de denúncia que nos sentimos motivados a fazer, porque o Intercept é capaz de romper a espiral do silêncio em locais onde a imprensa é totalmente controlada pelo poder.

O resultado da denúncia até agora? O afastamento, pela igreja, de dois dos padres denunciantes. Já a denúncia do Ministério Público, que cita um ex-coroinha que na época dos abusos teria 13 anos, foi rejeitada pelo juiz da comarca local que viu “excesso acusatório” nas palavras dos promotores. O MP recorreu e o caso hoje aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 

Nosso repórter teve acesso ao caso, que corre em sigilo, e entrevistou vários envolvidos, inclusive a vítima, que fez transição de gênero e hoje é Tainá, uma mãe de santo que ainda vive na cidade de Frederico. Tainá contou que, quando resolveu dar um basta na história, recebeu um laudo psiquiátrico e quase foi internada à força por conluio de membros da igreja com seu pai.

A importância de tornar públicos casos como o de Tainá e do bispo Keller não está somente em trazer notoriedade para algo que a Igreja Católica por muito tempo escondeu. Esse já seria um motivo relevante, mas enquanto jornalistas com a missão de defender os direitos humanos e o lado mais fraco da corda, queremos mudar o final dessas histórias. Queremos amplificar os relatos de quem rompe a mordaça e se sujeita a perseguições e ao julgamento da sociedade para lutar por justiça. E recentemente nós conseguimos. 

No dia 1º de setembro, publicamos a reportagem "Assédios sacros - Jovens do Mosteiro de São Bento acusam religiosos de abuso sexual”. As repórteres Caroline Cavassa e Janaína Cesar passaram um ano e meio investigando o caso, ouviram denunciantes e testemunhas e reuniram relatos impressionantes de ex-seminaristas que implicavam noviços, monges e até o abade responsável pelo famoso mosteiro em São Paulo. A reportagem pautou diversos veículos da mídia grande, chegando ao programa Fantástico. No dia 28 de novembro, a 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou recurso do Ministério Público e deu prosseguimento a uma ação penal aberta contra quatro religiosos do Mosteiro de São Bento.

O MP já havia denunciado os religiosos em 2020, mas o processo foi extinto sem julgamento pela 8ª Vara Criminal da capital, que entendeu que o caso prescrevera, já que as vítimas não denunciaram o crime à polícia dentro do prazo, como prevê a lei. Como as vítimas eram menores de idade na época dos crimes, o MP recorreu. A decisão do TJSP veio mais de um ano depois e apenas dois meses após a nossa reportagem. É para isso que a imprensa existe. Para lançar luz sobre histórias de opressão que permaneceriam amordaçadas, e ajudar a levar justiça a vítimas do poder. Que o caso de Tainá também continue sendo investigado e os dois tenham um desfecho digno para as vítimas e firme com os abusadores.

Se você se revolta com relatos como esses e acredita que o jornalismo combativo faz a diferença em casos de abuso de poder que não podem mais ser silenciados, te faço um apelo: venha para o lado do Intercept hoje. Temos poucos dias até 31 de dezembro, e ainda faltam quase R$ 200 mil para batermos a meta do ano e continuarmos esse trabalho com força em 2022.

VAMOS DENUNCIAR OS ABUSOS DOS PODEROSOS →  

Abraço,

Paula Bianchi
Editora

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