ONDA CONSERVADORA
Saiba quem é Volodymyr Zelensky e como ele foi de comediante televisivo a presidente da Ucrânia
Comediante famoso, o líder ucraniano ganhou notoriedade interpretando um homem comum alçado à presidência
Quando o comediante formado em Direito Volodymyr Zelensky estrelou um dos programas de maior sucesso da televisão ucraniana em 2015, ninguém apostava que ele seria empossado presidente do país quatro anos depois.
A série "O Servo do Povo", protagonizada por Zelensky, contava a história de um professor do ensino médio alçado repentinamente a governante máximo do país, após viralizar na internet fazendo um discurso anticorrupção em sala de aula.
A vida imitou a arte, e Zelensky anunciou sua candidatura à presidência no réveillon de 2019, pelo partido "Servos do Povo". Mostrou-se como uma alternativa de renovação, adotou discurso eleitoral contrário à "velha política" e apostou na campanha via WhatsApp.
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Ao apresentar um plano de governo considerado vago, levou para a vida real as críticas feitas, na televisão, aos "oligarcas" da política ucraniana. Defendeu a entrada da Ucrânia na União Europeia e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), questão central do atual conflito com a Rússia.
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Com as urnas apuradas, Zelensky deixou para trás o experiente Petro Poroshenko, que concorria à reeleição, e liderou a votação com 73% dos votos. Ele aproveitou a popularidade em alta, prometeu reformas no sistema político, dissolveu o parlamento e antecipou a convocação de eleições legislativas.
Seu partido, inspirado no nome da série que o catapultou à presidência, obteve vitória histórica no parlamento, garantindo governabilidade. Pela oposição, foi acusado de representar os interesses do bilionário Ihor Kolomoyskyi, dono, entre outras empresas, do canal de televisão que exibia o programa estrelado por Zelensky.
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Kolomoyskyi é um controverso e rico empresário, proprietário do maior banco ucraniano e ferrenho opositor a Putin. Ele formou uma milícia armada sob seu comando, que combate rebeldes russos em território ucraniano.
Zelensky surfou na onda da reviravolta política que marcou o país em 2013. Apoiados pelos EUA e a União Europeia, protestos violentos, de viés anticomunista, demandavam a ocidentalização da Ucrânia e aumentaram a tensão com a Rússia. O resultado foi a queda do então presidente Viktor Yanukovych, e o fortalecimento da extrema-direita no país.
Apoio em meio ao conflito
A maioria dos ucranianos é favorável a Zelenskiy, segundo pesquisa realizada pelo grupo Rating Sociological no último fim de semana. Dos dois mil entrevistados, 91% dos apoiaram Zelensky, 6% disseram que não o apoiavam e 3% estavam indecisos.
O apoio cresceu três vezes em relação a dezembro do ano passado. Moradores da Crimeia e de áreas controladas pelos rebeldes no leste da Ucrânia foram excluídos da pesquisa, segundo a rede de televisão britânica BBC.
Quando perguntados sobre as chances de a Ucrânia conseguir repelir o ataque russo, 70% disseram acreditar que era possível.
Crescimento do neonazismo
Embora tenha origem judaica, Zelensky favoreceu a atuação do grupo neonazista chamado Batalhão de Azov. Criada em 2014 para conter separatistas russos nas regiões de Donetsk e Lugansk, a milícia de extrema direita foi incorporada oficialmente ao governo ucraniano sob a liderança do comediante. É a existência do Batalhão de Azov que justifica, nas palavras de Vladimir Putin, a "desnazificação" da Ucrânia, uma de suas metas no avanço militar sobre a Ucrânia.
Campanha
Ainda durante a campanha, opositores buscaram explorar a inexperiência de Zelinski com a política. Afinal, ele era figura presente na TV desde os anos 90, apenas no ramo do entretenimento, quando começou a participar de jogos de perguntas e respostas. A fama cresceu em 2006, quando venceu a versão ucraniana da “Dança dos famosos”.
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Em meio à corrida eleitoral, o ex-presidente Poroshenko colocou em questão a capacidade de Zelensky de fazer frente à capacidade militar da Rússia e garantir a integridade territorial da Ucrânia. Hoje, no papel real do presidente de um país em guerra, vê a população pobre ucraniana sofrer as consequências da invasão, que já gerou o êxodo de mais de 500 mil refugiados.
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Trump
No primeiro ano de presidência, o comediante foi pivô de uma "trapalhada" de Donald Trump que quase levou o então presidente norte-americano ao impeachment. Em 2019, o republicano ligou para Zelensky pedindo que o filho de Joe Biden, seu adversário na corrida à reeleição, fosse investigado por autoridades polonesas. Acusado de tentar recrutar poder estrangeiro para interferir a seu favor no pleito, Trump teve a interrupção do mandato aprovada pela Câmara, mas barrada pelo Senado estadunidense.
Edição: Rebeca Cavalcante
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