sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

TIB Na Meca do bolsonarismo, olha o que eu descobri

 

Sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
Na Meca do bolsonarismo, olha o que eu descobri

Olá,

Nesta semana, publicamos uma reportagem que no jornalismo costumamos chamar de "suíte" — a continuação de uma matéria anterior. No Intercept, não somos muito adeptos de suítes, costumamos trazer novas histórias, mas esse é um caso especial: passados mais de três anos, voltamos à cidade que mais votou em Jair Bolsonaro em 2018 para saber se, depois de tudo que o presidente fez (e que não fez), as pessoas teriam mudado sua visão. A resposta me surpreendeu.

Na pequena Nova Pádua, na Serra Gaúcha, 83% dos eleitores apostaram em Bolsonaro no primeiro turno de 2018 e, no segundo, 93% fecharam com o atual presidente. E não foi a primeira vitória do conservadorismo por lá: em 2014, 88% dos votos já tinham ido para Aécio Neves, na disputa contra Dilma Rousseff. 

Passei dois dias no "pequeno paraíso italiano" com a fotógrafa Tânia Meinerz. Apesar de no primeiro dia quase ninguém falar comigo (muitos reclamaram da primeira reportagem), aos poucos fui conseguindo conversar com os paduenses. 

A cidade contou 411 casos e 12 mortes de covid-19, número alto para 2.563 habitantes, mas para um padre local, bolsonarista ferrenho, os números da pandemia teriam sido "falsificados pela globolixo" — o que inclui diversos veículos jornalísticos, na visão dele. Outros moradores também chamaram a imprensa de "esquerdista".

É difícil encontrar por lá alguém que não vá repetir o voto no ex-capitão, mas muitos são mais moderados: pretendem votar em Bolsonaro, mas têm críticas a seu jeito de se comunicar, ou conseguem apontar medidas que deveria ter tomado e não tomou. O que me chamou a atenção, no entanto, foi onde o bolsonarismo não conseguiu influenciar nem mesmo seu séquito fiel encravado na Serra Gaúcha: a vacinação.

Até minha visita, em janeiro, 83% de toda a população de Nova Pádua havia tomado as duas doses ou a dose única da vacina, e um terço já havia aplicado a dose de reforço. O engajamento na vacinação é tão grande que, apesar de comandada por um bolsonarista convicto, a Secretaria de Saúde do município não só divulga a campanha, como liga pessoalmente para cada morador que ainda não se vacinou, explicando a importância da imunização e convidando um por um a se vacinar.

Essa matéria, que você lê na íntegra no nosso site, não é o único conteúdo comparativo que vamos fazer das eleições 2022 com o pleito de 2018: visitei também Guaribas, no Piauí, a cidade que mais votou em Fernando Haddad nas últimas eleições gerais. Sobre essa, não vou dar muito spoiler, não, só um gostinho: parece que não fomos os únicos a levantar o resultado das urnas de 2018. Depois de 98% da população apertarem o 13 nas urnas no segundo turno, aumentou o número de igrejas na cidade nos últimos três anos (de três igrejas para cinco), e os pastores estão declaradamente engajados em conseguir votos para Bolsonaro. Mas segurem a ansiedade, que em breve essa matéria vai ao ar!

Trabalhos como esse, que unem jornalismo em campo com análise crítica dos dados, são uma delícia de fazer. Gosto de ter esse privilégio: pegar uma curiosidade que acredito que seja de todos os brasileiros, "como pensam os lugares que mais votaram nos protagonistas de 2018", embarcar num avião e passar dias cavando a resposta.

Para mim, matérias como essa resumem o tom da cobertura que queremos fazer: a que investiga, denuncia, dá nome aos bois, mas que também traz personagens reais para ilustrar os fatos. Um jornalismo que sai da superficialidade e foge do óbvio para te ajudar a compreender tanto o contexto do país como a complexidade das pessoas. 

Em 2022, vamos precisar de mais repórteres, mais segurança, muitas horas de voo para chegar às Novas Páduas e Guaribas Brasil afora e, falando em português claro, grana para ampliar nossa cobertura e diversificar nossos formatos em vídeo, texto e áudio. Sem você, não conseguiremos nada disso.

Se você quer ver mais reportagens analisando o cenário eleitoral a fundo, para além dos números, nos ajude a seguir em frente. Junte-se a nós com qualquer quantia hoje:

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Um abraço,

Nayara Felizardo
Repórter
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