Olá,
Como curiosa e pesquisadora do empreendedorismo criativo, sempre me fascinaram pequenos negócios, como lojas e estandes de feiras alternativas, que oferecem uma variedade fantástica de produtos mas, surpresa: não cobram por eles. Em vez disso, essas lojas e barracas expõem uma plaquinha escrita: "colabore com quanto quiser" ou "contribuição consciente". Se você já viu algo assim, já deve, como eu, ter se pegado pensando: "como eles não vão à falência?". Que magia é essa?
Para entender isso melhor, vamos dar uns passos atrás no assunto e considerar outros elementos. No comércio tradicional, março é uma dor de cabeça: é o mês perdido ali entre os excessos consumistas do fim de ano e o calendário de datas comerciais. O jornalismo não é um comércio — ou não deveria ser —, mas quando precisa das doações de pessoas, como o jornalismo independente, sente o baque de março da mesma forma que as lojas: as pessoas gastaram muito com Natal, viagens de férias e Carnaval e estão dando uma respirada até os próximos gastos do ano. No Intercept, março também costuma ser um dos piores meses do nosso financiamento. O problema é que, ao contrário do comércio, para conquistar mais doadores não podemos fazer uma promoção imperdível: nosso produto, a informação, já é gratuito, aberto e acessível a todas as pessoas. O que fazer, então?
Em fevereiro, lançamos uma novidade: a doação recorrente via Pix. Foi um sucesso: em poucos dias, o Intercept recebeu na nova modalidade mais de R$ 22 mil em doações! Foi uma injeção de ânimo, mas infelizmente seguida de um balde de água fria. Em março, nosso financiamento está patinando: quase no dia 20 estamos abaixo da metade da meta mensal.
Em 2022, queremos mais que investigar: vamos destrinchar questões sérias ligadas ao cenário eleitoral, como fez a matéria "Canais antivacina do Telegram estão se tornando celeiros de neonazistas", do repórter Victor Silva, que se embrenhou em grupos antivacina do aplicativo e descobriu que eles levam a grupos ainda mais radicais, até chegar a espaços, com dezenas de milhares de pessoas, abertamente neonazistas e antissemitas. Isso está acontecendo agora, no nosso país.
Como jornalistas, queremos divulgar como conteúdos de intolerância e desinformação estão crescendo nos becos da internet, porque essa é a nossa forma de combater a onda de ódio que está se espalhando pelo Brasil e ameaça arrastar a eleição de 2022 como devastou a de 2018. Para seguir nessa toada, de investigar os labirintos da intolerância e denunciar os riscos à democracia para evitar um novo governo de discurso fascista e prática assassina, precisamos de você.
Se nosso jornalismo fosse um comércio, estaria mais próximo daquelas lojas e feiras alternativas que citei lá no início. Volto ao ponto onde parei: como eles não vão à falência? É, de fato, um risco. Mas se você conversar com qualquer comerciante no comando de uma loja dessas, surpresa: muito provavelmente ela ou ele vai te dizer que a coisa mais rara é uma pessoa tomar um copo de café, comer uma fatia de bolo, limpar a boca e sair andando sem deixar alguns reais ali. Parece mágica: elas podem não pagar — mas escolhem pagar. Mas não tem nada de mágico ou sobrenatural nisso.
O mundo está mudando, a economia colaborativa está florescendo e boa parte das pessoas está percebendo que, se uma loja te oferece um ótimo café, um pão delicioso e um bolo de chocolate de lamber a ponta dos dedos, é mais vanta1 contribuir para que ela continue aberta do que tomar o café, amassar guardanapo, jogar o copo na lixeira e ir embora. Nós não temos café, bolo nem pão, mas a mensagem que eu quero te passar hoje é: no Brasil em que grupos neonazistas se multiplicam aos milhares, ficar sem o jornalismo investigativo sério e de impacto pode ter um preço mais alto que perder algumas doses de cafeína. Se você chegou até aqui e concorda com essa ideia, te peço, venha fazer parte do nosso movimento, fortaleça o Intercept: QUERO DAR MINHA CONTRIBUIÇÃO CONSCIENTE →
Antes de me despedir, uma ótima notícia: depois de ser lançado no Festival Visões Periféricas, do Rio de Janeiro, o documentário O elemento tinta (disponível em nosso canal do YouTube), de Luiz Maudonnet e Iuri Salles e produção do Intercept, foi selecionado para quatro festivais de cinema pelo mundo! Isso só foi possível com a contribuição consciente de 13 mil pessoas :) Obrigada!
Veja os próximos festivais com a presença do Intercept:
29ª San Diego Latino Film Festival, EUA - 10 a 20 de março 10ª Liberation Docfest Bangladesh, Bangladesh - 11 a 15 de março 34ª Cinélatino, Toulouse, França - 25 de março a 3 de abril 34ª Filmfest Dresden 2022, Alemanha - 5 a 10 de abril
Se você quer que o TIB chegue a um público cada vez maior e mais diversificado, apostando em novos formatos e linguagens, apoie hoje, como puder:
QUERO QUE O INTERCEPT VÁ LONGE! →
Abraço, |
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