Quem lucra com o governo militar de Bolsonaro? por Caio de Freitas Paes Fundador e executivo-chefe do banco privado Forbes & Manhattan, sediado no coração financeiro do Canadá, o indiano Stan Bharti é um personagem ímpar. Da linha do Equador para o Norte, ele tem fama de filantropo, dá nome ao departamento de engenharia de uma universidade canadense e foi o grande amigo no mercado financeiro do ex-apresentador de TV dos Estados Unidos Larry King.
Ultracapitalista, Stan Bharti tem um curioso fascínio por um ícone do campo ideológico oposto: o ditador Josef Stalin, que comandou a antiga União Soviética por 25 anos de guerras e cruzadas contra aqueles que haviam sido seus aliados na revolução de 1917. O que o investidor não alardeia tanto são os negócios de alto risco que ele próprio financia em todo o Sul global, com graves consequências para povos originários e camponeses. Duas mineradoras operadas pelo seu banco, Belo Sun e Potássio do Brasil, foram apontadas como “cúmplices da destruição” da Amazônia em um relatório recente feito em parceria entre a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a ONG Amazon Watch.
A trajetória do oficial da reserva do Exército Cláudio Barroso Magno Filho não deixa por menos. Há mais de 20 anos, a Folha de São Paulo informava que ele “reformulou o Curso de Comandos do Exército (...), como comandante do Batalhão de Forças Especiais” – o mesmo do qual fez parte o coronel Élcio Franco, ex-secretário no ministério da Saúde durante a trágica gestão do general Eduardo Pazuello na pandemia.
Barroso Magno cumpriu papel de destaque durante a MINUSTAH, missão de paz da ONU no Haiti comandada pelo Exército brasileiro, onde pode exercitar novos "modelos" de segurança pública. O oficial comandou batalhões em confrontos armados na Cité Soleil, região semelhante, na ótica do Exército, às favelas cariocas. Não à toa, sua experiência no Haiti serviu de inspiração para as futuras intervenções militares no Rio de Janeiro, como relatado pelo Estadão ainda nos anos 2000.
Quem diria que estes dois homens, anos depois, se uniriam para fazer negócios com o governo brasileiro? A união improvável entre Barroso Magno Filho e Stan Bharti só foi possível graças à ascensão de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência da República. Ou melhor, graças à chegada de integrantes das Forças Armadas ao alto escalão do governo federal – como o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) na Vice-Presidência e o almirante da reserva da Marinha Bento Albuquerque no Ministério de Minas e Energia, etc – o que garantiu amplo acesso da caserna à cúpula da União.
Desde a posse de Bolsonaro como presidente, em 2019, muitos veículos se esbaldam com suas bravatas e com o leva-e-traz dos mais influentes no seu governo. Dia após dia, muito do que lemos, ouvimos e vemos na imprensa parece um mantra de "jornalismo declaratório": "fulano disse isso", "beltrano declarou aquilo", e por aí vai. O método rende ganhos para a imprensa – pela abundância de "notícias" e falsas polêmicas, logo amontoadas e esquecidas – e também para o governo, que consegue manter seus negócios discretos com parceiros avessos aos holofotes.
O jornalismo precisa mostrar quem são os sujeitos ocultos nestas tramas que se desenrolam por baixo do pano. Stan Bharti e Cláudio Barroso Magno Filho são apenas alguns desses personagens, cujos negócios nós investigamos e revelamos no especial sobre o banco Forbes & Manhattan e sua atuação no Brasil sob o atual governo.
Para quem ainda não leu, trata-se de uma história rocambolesca recheada de agendas e reuniões oficiais com o poder Executivo, diretrizes e políticas criadas ao largo do debate público e uma série de decretos e letrinhas miúdas que até nós, jornalistas independentes, por vezes despercebemos.
Enquanto apurávamos o caso, Forbes & Manhattan visivelmente avançou. Nos últimos três meses de 2021, a União relevou problemas em torno dos projetos de mineração do grupo na Amazônia por considerá-los “estratégicos” para o Brasil e permitiu que o grupo instale um garimpo de ouro em áreas destinadas à reforma agrária no Pará. A maré virou a ponto de o Forbes & Manhattan conseguir realizar o antigo desejo de comprar a refinaria SIX, da Petrobras, pólo de desenvolvimento de uma valiosa tecnologia patenteada pela petrolífera e cobiçada há mais de 10 anos pelo banco canadense.
A Controladoria-Geral da União, a Defensoria Pública e o Ministério Público Federal estão cientes das estranhezas em torno dos negócios de Forbes & Manhattan no Brasil – seja com o governo Bolsonaro, seja com a Petrobras. Resta saber o que farão a partir daí. |
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