segunda-feira, 11 de abril de 2022

Cheguei, mas preciso seguir

 

Sexta-feira, 8 de abril de 2022
Cheguei, mas preciso seguir

Olá, 

Cheguei ao Intercept Brasil há cerca de três meses e publiquei minha primeira grande reportagem nesta semana. Nela, conto o verdadeiro inferno vivido por pessoas negras no Brasil por conta do sistema de reconhecimento fotográfico utilizado em investigações. Não há critérios transparentes apresentados pelas delegacias ao montar os álbuns de suspeitos e apresentá-los às testemunhas — os personagens nem sempre sabem como foram parar lá! Todos os anos, centenas de brasileiros negros são presos injustamente com base apenas no suposto reconhecimento. E, na maioria dos casos, levam anos para conseguir provar sua inocência. 

Também nesta semana, revelei no nosso blog Notas que Jair Bolsonaro apresentou um projeto de lei que, se aprovado, dará ainda mais liberdade para os policiais matarem impunemente. Qualquer policial que alegar ter sido amedrontado, surpreendido ou estar com o ânimo perturbado poderá ferir ou matar à vontade. A "licença para matar" já havia sido apresentada por Moro em seu Pacote Anticrime, mas a versão de Bolsonaro é ainda mais violenta e perigosa.  

Antes de seguir, preciso agradecer, porque minha contratação não seria possível sem o apoio dos leitores do TIB. Em 2021, tivemos um bom ciclo de doações e cheguei no começo deste ano à redação exatamente porque nossa comunidade garantiu os recursos para isso. Muito obrigada!

Fui contratada pelo Intercept para cobrir direitos humanos e segurança pública, temas que não são exatamente caros à mídia tradicional, mas por aqui são prioridade. Fico feliz em poder desenvolver esse trabalho no TIB porque sei que essa redação se preocupa em garantir as condições necessárias para isso: temos mais tempo de apuração, liberdade para investigar e segurança. 

Isso é uma das coisas que fazem do Intercept um lugar tão atraente. Também posso garantir: hoje, muitos colegas nutrem o desejo de trabalhar aqui. E não só por conta dos recursos disponíveis, mas sobretudo porque sabemos como esses recursos são garantidos. É muito bom poder fazer jornalismo sem anunciantes, sem ceder para a força de empresários e multinacionais. 

Porque o jornalismo não pode existir para atender aos interesses dos poderosos. Eles já têm suas próprias agências de relações públicas. A imprensa não pode ter rabo preso com os poderes institucionais: ela existe para denunciar a podridão dentro desses poderes. E não estamos falando somente dos políticos, mas também das corporações privadas que alimentam a corrupção no Brasil, mantendo o país entre os mais desiguais do mundo.

A verdade é que hoje as forças conservadoras que disputam o poder — falo de políticos, mas também de empresários e investidores — jogam pesado, com muito mais exposição, força e dinheiro do que a mídia independente. Do lado de cá, nós precisamos todos os dias fazer e refazer contas, correr atrás para viabilizar a estrutura necessária para estar na linha de frente, investigando, denunciando e reportando. 

Esse é um conflito desigual e por isso precisamos de mais pessoas do nosso lado. Eu quero ter a certeza de que continuarei reportando e investigando sobre os temas que realmente importam e, para isso, preciso da sua ajuda. Doando a partir de R$ 10 mensais você faz a diferença e torna meu trabalho possível. Posso contar com você hoje?

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Ah, para doar menos de R$ 25, clique no botão R$ OUTRO da nossa plataforma de doações.

Um abraço,

Carol Castro
Repórter
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