O bacanal das armas no Brasil por Alice Maciel e Bruno Fonseca “Vai ser super bacana”. Foram essas as palavras escolhidas em 28 de março pelo então secretário de Fomento à Cultura, André Porciuncula, para incentivar grupos a usarem a Lei Rouanet para produzir conteúdos pró-armas. “Pela primeira vez vamos colocar dinheiro da Rouanet em eventos de arma de fogo”, ele celebrou, enquanto indicava um valor de mais de R$ 1 bilhão para “agir dentro do imaginário coletivo para que a população mude a percepção e apoie a pauta do armamento”.
Se o financiamento por meio do principal mecanismo de fomento à cultura do país será capaz de mudar o imaginário coletivo do brasileiro, só o tempo dirá. Algo, porém, já está dado: o imaginário do Governo Federal é marcado por uma fixação semiótica e, como revelamos, também orçamentária, em torno das armas de fogo.
Eleito fazendo o gesto de uma arma com os dedos, Jair Bolsonaro é um presidente profundamente armamentista, e que escolheu se cercar de outros iguais a ele. As falas dos responsáveis por traçar a política cultural do Brasil — o ex-policial militar André Porciuncula, que por dois anos analisou e aprovou propostas de uso da Lei Rouanet, e seu chefe à época, o ex-secretário de Cultura Mario Frias — revelam o apreço pessoal de dois entusiastas das armas: “o Mario é CAC [Colecionador, Atirador e Caçador], nós adoramos atirar”, disse Porciuncula durante a Convenção Nacional Pró-armas, em março deste ano. Os dois fizeram questão de marcar posição no evento às vésperas de deixarem seus cargos no governo para disputar as eleições em outubro.
Eles não estão sós. Nesta semana, o ex-ministro da Educação acrescentou ao seu legado um evento que beirou a tragédia: ter disparado sua arma no saguão de um dos maiores aeroportos do país, cujos estilhaços atingiram uma trabalhadora, felizmente, sem causar ferimentos sérios. A irmã do atual ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, é sócia da Glock, que vende armas para o Governo Federal, como mostramos em outra reportagem. E ao falar de armas e ministros, é impossível não recordar de Ricardo Salles, antecessor de Leite no Meio Ambiente, que fez campanha com um santinho que prometia balas contra a esquerda e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Apesar de as revelações da Agência Pública sobre o direcionamento da Rouanet para conteúdos pró-armas terem repercutido em toda a imprensa nacional, isso não intimidou o ex-secretário de Incentivo e Fomento à Cultura. Após a publicação da nossa reportagem, Porciuncula escreveu no Twitter: “Reforço! Usem a Lei Rouanet para produções culturais que mostrem a importância da arma de fogo para nossa civilização”.
O posicionamento, claro, é voltado a seus eleitores e potenciais financiadores da sua campanha eleitoral. Porcincula deixou o cargo em 31 de março deste ano e atualmente é pré-candidato a deputado federal na Bahia pelo Partido Liberal (PL), mesmo partido de Bolsonaro. Coronel da Polícia Militar, ele é uma aposta do movimento pró-armas, cada vez mais midiático. E sua postura também revela a profunda naturalidade com que o governo defende armar a população, inclusive contra governantes — como disse Jair Bolsonaro, para que se levantem contra decretos e prefeitos.
A pauta pró-armas é talvez uma das mais evidentes e constantes políticas públicas da atual gestão. Ela atravessou a pandemia, a crise econômica, o desemprego. Para o governo Bolsonaro, é bacana ser pró-armas, mesmo que isso signifique utilizar meios criticados pelo próprio presidente, como a Rouanet. |
|
Rolou na Pública Movimento pró-armas na cultura. As duas reportagens sobre o uso da Lei Rouanet para conteúdos sobre armas fizeram barulho na imprensa nacional. A reportagem que revelou o caso do livro sobre a história das armas no Brasil foi republicada no UOL, no Sul 21 e repercutida no G1, no jornal O Globo, na Folha de S. Paulo e no Metrópoles.
Conflitos no campo acima da média no governo Bolsonaro. Dados do levantamento “Conflitos no Campo Brasil 2021”, da Comissão Pastoral da Terra, apontam recorde de assassinatos no campo nos últimos quatro anos. A reportagem da Pública que trouxe os dados em primeira mão foi republicada na Revista Galileu, no Terra e na revista IHU Online, e repercutida na Carta Campinas. A reportagem faz parte do Mapa dos Conflitos, feito pela Pública em parceria com a CPT, que será lançado hoje em nosso site – fique ligado!
Bancada evangélica favorável aos “PLs da Morte”. Levantamento da Pública desta semana mostra que a maioria dos deputados da Frente Parlamentar Evangélica apoia pautas antiambientais. Dentre os 196 deputados da FPE, segundo a Câmara dos Deputados, 131 (66%) foram favoráveis ao caráter de urgência do PL 191/2020, que abre espaço para a mineração nas terras indígenas. A reportagem foi republicada no Brasil de Fato e no Onze de Maio. |
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário