terça-feira, 4 de outubro de 2022

* A SURPRESA VEIO DOS SOVIÉTICOS

 

PARA NÃO ESQUECER – 04 DE OUTUBRO DE 1957
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A SURPRESA VEIO DOS SOVIÉTICOS
(Ernesto Germano Parés)
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Poucos momentos foram mais relevantes e mais marcantes na minha vida. Eu tinha 9 anos de idade quando Chicão (meu pai) chegou do trabalho com o jornal Última Hora, como sempre fazia. Colocou na mesa da sala e foi falar com minha mãe. Eu olhei a primeira página e vi a manchete “Primeiro satélite artificial em órbita da Terra”!
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No início eu nem entendi direito e peguei para ler. A matéria falava do Sputinik-1, em russo Спутник-1, o primeiro objeto feito pelo homem a circundar a terra em uma órbita perfeita e que enviava sinais de rádio que podiam ser ouvidos por qualquer um em um rádio de ondas curtas.
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Minha paixão pelo espaço começava ali! Eu queria ser um engenheiro espacial e criar foguetes para explorar o infinito. Não deu... outras coisas foram entrando no caminho.
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O Sputinik-1 foi lançado pela União Soviética no dia 04 de outubro de 1957, do Cosmódromo de Baikonur, foi projetado para estudar as propriedades das camadas superiores da atmosfera terrestre, os efeitos da falta de gravidade e a radiação solar nos objetos que chegavam ao espaço.
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Não passava de uma esfera de metal polido, com 58 centímetros de diâmetro e quatro antenas para transmitir os sinais de rádio. Como eu disse, seus sinais eram facilmente detectáveis, mesmo por radioamadores, e foram monitorados por operadores de rádio em todo o mundo. Os sinais, um simples bip-bip, continuaram por 22 dias, até que as baterias de seu transmissor se esgotaram, em 26 de outubro de 1957. Após três meses, 1440 órbitas completas da Terra e uma distância percorrida de cerca de setenta milhões de quilômetros, o satélite desintegrou-se ao reentrar as camadas mais densas da atmosfera, em 4 de janeiro de 1958.
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Ao contrário do que diz a propaganda estadunidense, o “pai” dos voos espaciais não foi Von Braun ou outro qualquer. O primeiro a criar modelos de foguetes que alcançavam grandes altitudes foi Konstantin Tsiolkovski que viveu no Império Russo entre 1857 e 1935. Ele deixou publicados todos os desenhos e cálculos dos seus experimentos. E foram esses documentos que serviram para o desenvolvimento do programa espacial soviético. Ele foi o primeiro a levantar a possibilidade de que, para melhores resultados no espaço, o ideal seria a utilização de combustíveis líquidos, em substituição aos sólidos usados até então.
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Desde a Revolução de 1917 a União Soviética passou a destinar uma grande parte do seu orçamento para a educação e pesquisas nesse terreno. Surgiam grupos de estudantes e cientistas interessados no assunto e logo ficou conhecido o Grupo para o Estudo da Propulsão Reativa (GIRD), no qual trabalharam pioneiros como Friedrikh Tsander, Mikhail Tikhonravov e Sergei Koroliov, que mais tarde seriam reconhecidos como alguns dos mais destacados cientistas soviéticos.
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Não há dúvidas, hoje, que o Sputnik-1 foi um marco na história da ciência. Forneceu informações valiosas sobre a atmosfera da Terra e pavimentou o caminho para o primeiro voo espacial tripulado. Em particular, a densidade da atmosfera superior pôde ser deduzida pela resistência aerodinâmica por ele enfrentada, a propagação dos seus sinais de rádio proporcionou informações sobre a composição da ionosfera, e seus sensores de pressão permitiram a detecção de meteoritos ao longo de sua trajetória. Adicionalmente, seu lançamento teve consequências duradouras como o desenvolvimento da comunicação por satélite, que viria a revolucionar os meios de comunicação nas décadas seguintes, e o princípio da indústria espacial soviética. Como resultado do seu impacto científico e cultural, seu nome adentrou a cultura de massa, dando origem a novos termos e expressões linguísticas e designando uma diversidade de objetos e instituições.
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O cientista ucraniano Sergei Pavlovitch Korolev, que, a partir de 1946, dedicou-se a programas que produziam mísseis nucleares e foguetes espaciais. Da pesquisa conduzida por Korolev, nasceu o Semiorka, um foguete que conseguia transportar um peso de até 1300 kg.
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E foi um Semiorka que conduziu o Sputinik-1 para a órbita terrestre.
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Minha paixão pelo espaço precisou ser interrompida por razões que contarei algum dia, mas ainda guardo recortes de jornais velhos, com o Sputinik-1, com Gagarin, com Valentina Tereshkova, com German Titov e, é claro, com o Lunik-9!
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Nas imagens: 01) selo comemorativo com a imagem de Korolev; 02) selo comemorativo do Sputinik-1; 03) selo comemorativo com Konstantin Tsiolkovski
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