PARA NÃO ESQUECER – 20 DE NOVEMBRO DE 2004
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MORRE CELSO FURTADO
(Ernesto Germano Parés)
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Celso Monteiro Furtado nasceu em Pombal (PB), no dia 26 de julho de 1920 e foi um dos mais destacados economistas e intelectuais brasileiros no século passado. Toda a sua vida foi dedicada a entender a situação do Brasil e produzindo projetos que pudessem transformar a situação em benefício do povo.
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Em 1944, formou-se em Direito e, em janeiro de 1945, embarcou para a Itália como aspirante a oficial da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Retornou ao Brasil em agosto e, em 1947, viajou para a Inglaterra para um período de estudos na London School of Economics. Em sua volta ao país foi trabalhar na Fundação Getúlio Vargas. Em 1949 se mudou para Santiago do Chile onde foi ser pesquisador na recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). No ano seguinte, em 1950, foi nomeado diretor da divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal.
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Voltou ao Rio de Janeiro em 1953, convidado para presidir o Grupo Misto de Estudos criado a partir de um convênio celebrado entre a Cepal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) que, na época, ainda não tinha o “S” de social. No final de 1955 voltou à Cepal, no Chile, para dirigir um estudo sobre a economia mexicana, o que acabou resultando em nova mudança, desta vez para a Cidade do México, em 1956.
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Em 1958 o então presidente Juscelino Kubitschek o nomeou interventor no Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Em janeiro de 1959, a pedido de Celso Furtado, Juscelino Kubitschek convocou uma reunião no Palácio Rio Negro, em Petrópolis (RJ), para discutir a situação do Nordeste, que atravessava grave crise decorrente da seca. Naquele encontro Furtado apresentou ao presidente da República os resultados dos estudos que vinha realizando junto ao GTDN, recebendo a incumbência de elaborar um plano de política econômica para toda a região.
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Em nova reunião, um mês depois, agora no palácio do Catete, Celso Furtado expôs seu trabalho, lançando-se a ideia de transformação do Conselho de Desenvolvimento do Nordeste (Codeno) em uma estrutura mais atuante, que daria origem à Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada como meta especial do governo Kubitschek. Ainda no mês de fevereiro foi enviado ao Congresso Nacional o projeto que propunha a criação da Sudene, com sede em Recife, e a indicação de Celso Furtado como superintendente.
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A criação da Sudene foi um daqueles raros momentos da política brasileira que mobilizou praticamente toda a opinião pública e assumiu caráter nacional. O anteprojeto de lei dispondo sobre sua criação teve difícil tramitação no Congresso, devido a resistências à nomeação de Furtado para dirigir o órgão.
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Em 27 de maio de 1959, sob muita pressão de organizações sociais, a Câmara dos Deputados aprovou a criação da Sudene. Em 13 de dezembro foi sancionada a Lei nº 3.692 que instituía o novo órgão, vinculado diretamente à presidência da República.
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Lendo seu documento de fundação vamos ver que a Sudene era definida como uma agência de desenvolvimento regional, incumbida de planejar e coordenar os programas socioeconômicos de interesse do Nordeste, sendo-lhe conferido o poder de atuar como órgão centralizador dos investimentos federais na região.
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Já nomeado superintendente, Celso Furtado foi designado pelo BNDE para coordenar em Recife a instalação do novo órgão. A fim de sistematizar os trabalhos e assegurar-lhes continuidade de ação, a Sudene passou a operar em função de planos plurianuais, denominados planos diretores de desenvolvimento econômico e social do Nordeste.
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O primeiro plano do setor chegou ao Congresso em maio de 1960 e provocou mais um intenso debate político que envolveu vários segmentos da sociedade. O plano apresentava como ponto de partida quatro diretrizes: a sistematização dos investimentos em matéria de transportes, o aumento da capacidade de energia elétrica, o aproveitamento dos recursos humanos e a reestruturação da economia rural. Outros objetivos que seriam decorrentes dos primeiros seriam a industrialização, a colonização do Maranhão, a criação de uma reserva alimentar de emergência e o levantamento dos recursos minerais. O plano também facultava à Sudene a organização ou a incorporação de sociedades de economia mista com o fim de executar obras tidas como prioritárias para o desenvolvimento regional.
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Certamente que o Plano recebeu toda a oposição dos “caciques” políticos nordestinos ligados à conhecida “indústria da seca” e que temiam perder suas posições e privilégios com a atuação da Sudene. Mas houve muita pressão política e o Plano foi aprovado, em agosto de 1961.
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A história da renúncia de Jânio Quadros, em agosto daquele ano, é conhecida. A crise política que se instala no país também. Os golpistas militares decidem vetar a posse do vice-presidente João Goulart, mas Furtado continuou na superintendência da Sudene. Em 1962, Jango finalmente assume o governo e nomeia Furtado para o Ministério do Planejamento, onde seria incumbido de elaborar, em dois meses, um plano de política econômica para o governo. O documento preparado por Celso Furtado foi anunciado em 30 de dezembro com o nome de Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social.
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É preciso destacar que toda a política econômica do governo presidencialista de Goulart baseou-se nas diretrizes traçadas por aquele Plano e foi executada sob a direção de Celso Furtado e San Tiago Dantas. Mas os golpistas já agiam nas sombras e conseguem minar o Plano, impedindo que a estabilização econômica acontecesse.
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Furtado deixa o cargo de ministro e retorna a Recife para dedicar-se integralmente à Sudene. Mas tudo termina com o golpe de 1 de abril de 1964. Com a edição do Ato Institucional nº 1 (AI-1), Celso Furtado teve seu nome incluído na primeira lista de cassados.
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Voltou a Santiago do Chile, a convite do Instituto Latino-Americano para Estudos de Desenvolvimento (Ildes), ligado à Cepal. Em setembro, mudou-se para New Haven, nos Estados Unidos, assumindo o cargo de pesquisador graduado do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Daí em diante, dedicou-se a atividades de ensino e pesquisa nas universidades de Yale, Harvard e Colúmbia, nos EUA, de Cambridge, na Inglaterra, e da Sorbonne, na França, onde assumiu a cátedra de professor efetivo a convite da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Paris.
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Durante toda a década de 1970, dedicou-se intensamente a atividades docentes e à redação e publicação de livros. Foi beneficiado pela anistia decretada em agosto de 1979. Em agosto de 1981 filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em 1984 participou intensamente da campanha das Diretas Já.
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Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney assume a presidência, com a bênção dos militares, e envia Celso Furtado como embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia sediada em Bruxelas, na Bélgica.
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Celso Furtado faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de novembro de 2004. Um dos grandes pensadores de nosso país, comprometido com o nosso povo.
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VIVA CELSO FURTADO!
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Nas imagens: 01) Celso Furtado e Lula, em 2003, no Memorial da Democracia; 02) O livro que mais gosto dele.
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