A universidade africana considerada a mais antiga do mundo
Valentina Candido
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Valentina Candido
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Parte interna da Universidade Al Quaraouiyine
Cerca de 200 anos antes da primeira universidade ser fundada no contexto medieval europeu, o mundo árabe já convivia com centros de erudição e produção de conhecimento. Esses espaços, chamados de madrasas, costumam ser desconsiderados pelos livros de história ocidentais.
Entre eles, a Universidade de Al-Karaouine é a mais antiga. Fundada em 859, ela é considerada pela Unesco e pelo Guinness Book of World Records como a mais antiga universidade em funcionamento contínuo do mundo.
Sua fundação começou com o investimento de uma mulher, Fátima al-Fahri. Localizada na cidade de Fez, no Marrocos, ela conta com um centro de estudos voltado principalmente para a formação acadêmica e religiosa, e com uma biblioteca, que também é considerada a mais antiga do mundo em atividade e conta com mais de 4.000 manuscritos raros, alguns datados do século 9.
O surgimento
O islã é uma religião que, desde sua origem, esteve sempre associada à busca pelo conhecimento. Em razão da prática de leitura do Corão, os ensinamentos do islamismo determinam que seus fiéis estejam sempre estudando sobre sua fé e sobre a vida do profeta Maomé. A educação é vista como uma forma de evitar aquilo que é considerado errado e aspirar o correto.
Diferente do que aconteceu com o cristianismo na Europa medieval, o ápice do islamismo foi um momento de crescimento acelerado da produção do conhecimento, sempre associado ao desenvolvimento religioso e espiritual.
Por essa razão, quando Fatima al-Fahri decidiu investir a herança que haviam recebido na construção de um complexo educacional ainda no século 9, essa escolha estava alinhada com a sociedade árabe da época.
A princípio, a Universidade de Al-Karaouine era apenas uma mesquita e, posteriormente, foi expandida como um espaço para a instrução religiosa. Aos poucos, ela passou a acumular textos raros e ofertar formação em campos como gramática, retórica, lógica, medicina, matemática e astronomia.
Ao longo de sua história, Al-Karaouine abrigou intelectuais como o cartógrafo Mohammed al-Idrisi (1110- 1165), cujos mapas ajudaram a expansão europeia durante o Renascimento, e também de estudiosos cristãos, como o papa Silvestre 2º (946-1003), conhecido por ter introduzido o sistema numérico decimal hindu-árabe na Europa.
A instituição foi oficialmente integrada ao sistema universitário do Marrocos em 1963. Antes disso, a instituição era desconsiderada como um centro universitário pelo mundo ocidental. Isso ocorreu porque não há um consenso sobre como as madrasas podem ser traduzidas para fora do contexto muçulmano.
A disputa pelo pioneirismo
Alguns estudiosos defendem que as madrasas não podem ser igualadas à proposta ocidental de universidade, pois estão integradas ao ensino religioso. Nessa perspectiva, ainda que o modelo árabe seja reconhecido como referência para a criação das universidades europeias, somente as instituições que surgiram na baixa Idade Média são consideradas pioneiras. A que deveria então receber o título de mais antiga é a italiana Universidade de Bolonha, fundada em 1088, 229 anos depois da universidade marroquina.
Em contraposição a essa visão, alguns acadêmicos defendem que as madrasas e outras instituições de ensino superior são semelhantes às universidades. O intelectual Edward Said, que inspira uma parte desses pesquisadores, defendia que um movimento acadêmico tentava separar e inferiorizar o conhecimento muçulmano em relação ao europeu com o propósito de construir uma perspectiva primitivista sobre esses povos a fim de justificar sua dominação.
O Guinness World Records e a Unesco reconhecem a Universidade de Al-Karaouine como “instituição de ensino superior mais antiga que continua em operação no mundo”. Em seu site, o Guinness cita outros momentos da história em que surgiram centros educacionais que são mais velhos, como as escolas de escribas dos Sumérios, mas a Al-Karaouine tem o mérito de ainda estar em operação.
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