sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A universidade africana considerada a mais antiga do mundo

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seg., 28 de nov. às 17:03

 

 

 

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A universidade africana considerada a mais antiga do mundo

Valentina Candido

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Valentina Candido

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Fotografia da parte interna da
                            Universidade Al Quaraouiyine localizada em
                            Fez, Marrocos.Parte interna da Universidade Al Quaraouiyine

Cerca de 200 anos antes da primeira universidade ser fundada no contexto medieval europeu, o mundo árabe já convivia com centros de erudição e produção de conhecimento. Esses espaços, chamados de madrasas, costumam ser desconsiderados pelos livros de história ocidentais.

Entre eles, a Universidade de Al-Karaouine é a mais antiga. Fundada em 859, ela é considerada pela Unesco e pelo Guinness Book of World Records como a mais antiga universidade em funcionamento contínuo do mundo.

Sua fundação começou com o investimento de uma mulher, Fátima al-Fahri. Localizada na cidade de Fez, no Marrocos, ela conta com um centro de estudos voltado principalmente para a formação acadêmica e religiosa, e com uma biblioteca, que também é considerada a mais antiga do mundo em atividade e conta com mais de 4.000 manuscritos raros, alguns datados do século 9.

O surgimento

O islã é uma religião que, desde sua origem, esteve sempre associada à busca pelo conhecimento. Em razão da prática de leitura do Corão, os ensinamentos do islamismo determinam que seus fiéis estejam sempre estudando sobre sua fé e sobre a vida do profeta Maomé. A educação é vista como uma forma de evitar aquilo que é considerado errado e aspirar o correto.

Diferente do que aconteceu com o cristianismo na Europa medieval, o ápice do islamismo foi um momento de crescimento acelerado da produção do conhecimento, sempre associado ao desenvolvimento religioso e espiritual.

Por essa razão, quando Fatima al-Fahri decidiu investir a herança que haviam recebido na construção de um complexo educacional ainda no século 9, essa escolha estava alinhada com a sociedade árabe da época.

A princípio, a Universidade de Al-Karaouine era apenas uma mesquita e, posteriormente, foi expandida como um espaço para a instrução religiosa. Aos poucos, ela passou a acumular textos raros e ofertar formação em campos como gramática, retórica, lógica, medicina, matemática e astronomia.

Ao longo de sua história, Al-Karaouine abrigou intelectuais como o cartógrafo Mohammed al-Idrisi (1110- 1165), cujos mapas ajudaram a expansão europeia durante o Renascimento, e também de estudiosos cristãos, como o papa Silvestre 2º (946-1003), conhecido por ter introduzido o sistema numérico decimal hindu-árabe na Europa.

A instituição foi oficialmente integrada ao sistema universitário do Marrocos em 1963. Antes disso, a instituição era desconsiderada como um centro universitário pelo mundo ocidental. Isso ocorreu porque não há um consenso sobre como as madrasas podem ser traduzidas para fora do contexto muçulmano.

A disputa pelo pioneirismo

Alguns estudiosos defendem que as madrasas não podem ser igualadas à proposta ocidental de universidade, pois estão integradas ao ensino religioso. Nessa perspectiva, ainda que o modelo árabe seja reconhecido como referência para a criação das universidades europeias, somente as instituições que surgiram na baixa Idade Média são consideradas pioneiras. A que deveria então receber o título de mais antiga é a italiana Universidade de Bolonha, fundada em 1088, 229 anos depois da universidade marroquina.

Em contraposição a essa visão, alguns acadêmicos defendem que as madrasas e outras instituições de ensino superior são semelhantes às universidades. O intelectual Edward Said, que inspira uma parte desses pesquisadores, defendia que um movimento acadêmico tentava separar e inferiorizar o conhecimento muçulmano em relação ao europeu com o propósito de construir uma perspectiva primitivista sobre esses povos a fim de justificar sua dominação.

O Guinness World Records e a Unesco reconhecem a Universidade de Al-Karaouine como “instituição de ensino superior mais antiga que continua em operação no mundo”. Em seu site, o Guinness cita outros momentos da história em que surgiram centros educacionais que são mais velhos, como as escolas de escribas dos Sumérios, mas a Al-Karaouine tem o mérito de ainda estar em operação.

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