quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

 

PARA NÃO ESQUECER – 19 DE JANEIRO DE 1931
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A MARCHA DA FOME
(Ernesto Germano Parés)
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O período foi de grandes modificações, tanto para os trabalhadores como para a burguesia. O capitalismo brasileiro procurava se solidificar e enfrentar a crise mundial. O movimento sindical procurava defender as conquistas alcançadas e encontrar um caminho para resistir ao novo avanço do sistema.
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O período de que tratamos marca o início do crescimento das grandes cidades. Junto com a industrialização e o aumento do número de operários, vai se ampliando também a quantidade de pequenos comerciantes e pequenos industriais, da burocracia estatal, de intelectuais e profissionais liberais, uma camada conhecida como “setores médios urbanos”.
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Mesmo marcante, o crescimento no número de trabalhadores na indústria ainda não representa uma supremacia do proletariado industrial. As estatísticas oficiais mostram que, em 1925, os operários da indústria ainda representavam 12% da mão de obra nacional enquanto o setor agrícola representava 68% da população economicamente ativa. Mas as lutas e experiências anteriores já são suficientes para colocar a burguesia em alerta.
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Em 1920, os patrões criam uma Associação, em São Paulo, para trocar ideias e experiências sobre novos métodos de trabalho (ou de como explorar melhor os trabalhadores) e para passar nomes de militantes sindicais mais perigosos que não deveriam encontrar emprego nas suas empresas. Assim surgiam as Listas Negras e foi esta a origem da tão poderosa FIESP.
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É uma fase de grandes mudanças. O declínio da imigração fazia crescer o número de operários vindos do campo de onde eram expulsos por várias razões. Na cidade, a introdução de novas máquinas já não exigia muita especialização da mão-de-obra. Algumas categorias profissionais, que tiveram um importante papel na origem do movimento operário, começam a desaparecer dando espaço a outras. Crescia a importância de metalúrgicos e trabalhadores na indústria alimentícia e diminui a participação e o peso dos chapeleiros, sapateiros, cocheiros, tipógrafos e outros que representaram o setor mais ativo no período anterior.
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O Tratado de Versalhes havia levado o governo a criar uma certa legislação social que, mesmo superficial e descumprida pelos patrões, era como uma “benção” para aqueles trabalhadores que vinham do campo e para quem o fato de encontrarem um emprego já era um “imenso favor” que os patrões faziam. A burguesia ainda tentava resistir a algumas das leis sociais, como a de férias ou da jornada de trabalho. Diziam os patrões que os operários tendo mais tempo livre iam se dedicar à bebedeira, a farras e desordens e que os menores também iam se corromper e virar malandros se não tivessem que passar o dia todo trabalhando.
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A fome no planeta era um fenômeno novo, mas uma questão demasiado chocante para a sociedade. Um problema que era tratado como “tabu” por todos os países.
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Em 1927 realiza-se no Rio de janeiro o Congresso Operário Sindical. Sob a direção dos comunistas que agora vão suplantando os anarquistas no movimento, o Congresso imprimia nova disciplina. Os participantes do Congresso se comprometiam a: 1) reconhecer os princípios da Luta de Classes, aplicar esses princípios na luta entre o capital e o trabalho; 2) obedecer a uma disciplina proletária, resultante do Congresso, reconhecer e aceitar todas as resoluções do Congresso.
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Mas, no mesmo ano, o governo precisava urgentemente de empréstimos estrangeiros e de agradar as empresas inglesas que pretendiam instalar-se no país. Para demonstrar sua “boa vontade” e que a questão dos trabalhadores estava sob seu controle, decretou uma nova Lei contra as organizações sindicais. A Lei Celerada autorizava o fechamento de sindicatos e de jornais operários pela polícia e a prisão de militantes sindicais. No ano seguinte os sindicalistas respondem com uma nova onda de publicações. Ressurge A Classe Operária e aparecem novos jornais como “O Internacional”, “O Trabalhador Gráfico”, “A Vida”, “O Sapateiro”, “A Abelha”, “A Voz do Gráfico”, “Voz Cosmopolita” e outros.
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Em 1929 acontece a greve dos gráficos de São Paulo, liderada pelos comunistas. A polícia invadiu a sede do Sindicato carregando documentos e dinheiro do cofre da entidade, foram bloqueadas as contas bancárias para abafar o movimento. A greve durou três meses, apesar da repressão, e terminou com um acordo e vitória parcial dos trabalhadores
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Em 1929 os comunistas convocam novo Congresso Sindical que contou com a participação de mais de 100 entidades. Ao final do encontro estava fundada a Confederação Geral dos Trabalhadores Brasileiros.
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Ao contrário dos anarquistas, a CGTB defendia a centralização do movimento sindical, sem romper com a tradição beneficente das associações de ofício anarquistas. Seu principal dirigente, Minervino de Oliveira, foi candidato à presidência da República em 1930, numa campanha marcada pela perseguição e repressão policial.
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Em Manifesto à população, a CGTB conclama os brasileiros a não ficarem passivos e a se unirem para protestar contra o desemprego e as condições degradantes em que vivem. Diz o documento: “Basta, camaradas! Não toleraremos mais esta situação de miséria e fome! Compareçamos todos à nossa Marcha da Fome e tomemos à força o que de direito nos cabe! Contra o governo, contra a polícia, contra a burguesia, organizemos a nossa demonstração, assaltemos armazéns e levemos o pão para os nossos filhos”.
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A polícia fez de tudo para impedir as manifestações. Nos dias anteriores à data marcada, militantes que pregavam cartazes foram presos no Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, São Paulo e Santos. Policiais invadiram casas e apreenderam documentos. Desde cedo, soldados da cavalaria e da infantaria ocuparam pontos estratégicos das cidades. No Rio de Janeiro, chegaram a armar metralhadoras na praça da Bandeira. Vários dos presos foram posteriormente deportados, sob a alegação de serem comunistas estrangeiros.
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No Rio de Janeiro a Marcha foi praticamente inexistente tal a repressão e o número de prisões de sindicalistas, mas houve muita mobilização em outras capitais e, na cidade de Santos, litoral paulista, os sindicalistas enfrentaram a polícia de armas nas mãos.
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É PRECISO LUTAR! É POSSÍVEL VENCER!
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VIVA A LUTA DA CLASSE OPERÁRIA!
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Na imagem, repressão policial à Marcha da Fome 



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