sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Para não esquecer MORRE NELSON WERNECK SODRÉ – 13 DE JANEIRO DE 1999

 PARA NÃO ESQUECER

MORRE NELSON WERNECK SODRÉ – 13 DE JANEIRO DE 1999

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(Ernesto Germano Parés)
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Algumas vezes, comentando com os alunos, falei que considero Nelson Werneck um dos meus pilares, uma das bases dos meus estudos. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de abril 1911.
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Cursou a Escola Militar do Realengo de 1931 a 1933 e foi imediatamente destacado para o 4o Regimento de Artilharia Montada, em Itu (SP). Mas já tinha o prazer por ler e escrever. Era correspondente do Correio Paulistano e suas colunas eram publicadas duas vezes por semana.
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Quando se instala no país a ditadura do Estado Novo, em 1937, ele é chamado para ser ajudante-de-ordem do general José Pessoa e vai para o Comando da 9ª Região Militar, em Mato Grosso. E isso o despertou para outras realidades pois, quando o Exército foi chamado a intervir em conflitos de terra entre grandes proprietários e agricultores pobres naquele estado brasileiro, Sodré despertou para a outra realidade brasileira e começou a assumir uma posição mais de esquerda. Começou a ler sobre o marxismo.
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Em 1938 publica seu primeiro livro, “História da literatura brasileira”, onde faz uma bela análise da literatura nacional a partir das relações de propriedade e dos conflitos sociais. Dois anos mais tarde ele conhece Graciliano Ramos e tornam-se amigos. Logo depois faz amizade com Jorge Amado e outros da mesma grandeza. Não existe um registro exato, mas supõe-se que nessa época já estava filiado ao PCB.
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Entre 1938 e 1945 publicou algumas centenas de artigos e sete livros: além de “História da Literatura Brasileira”; “Panorama do Segundo Império”, em 1939; a segunda edição de “História da Literatura Brasileira”, em 1940; “Oeste”, em 1941; “Orientações do Pensamento Brasileiro”, em 1942; “Síntese do Desenvolvimento Literário no Brasil”, em 1943; “Formação da Sociedade Brasileira”, em 1944 e “O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil”, em 1945.
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Em 1944, iniciou o curso da Escola de Comando e Estado-Maior, concluindo-o em 1946. No ano seguinte, começou a lecionar na Escola, onde permaneceu até 1950 como chefe do Curso de História Militar.
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Nessa época ainda havia militares progressistas e não comprometidos com o fascismo no exército brasileiro. Em 1950, nas eleições para a direção do Clube Militar, nosso mestre apoia a chapa encabeçada por dois nacionalistas: generais Newton Estillac Leal e Júlio Caetano Horta Barbosa.
E eles vencem, convidando Nelson Werneck Sodré para assumir o cargo de Diretor Cultural do Clube.
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Mas ele já estava bastante engajado nas lutas da esquerda e abraçou a campanha “O Petróleo é Nosso”, passando a ser perseguido pelo alto comando militar. Foi transferido da Escola de Comando e Estado-Maior para o 5o Regimento de Artilharia, em Cruz Alta (RS), e lá ficou por cinco longos anos.
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Volta para o Rio em 1956 e, imediatamente, passa a colaborar com o jornal Última Hora escrevendo uma coluna sobre literatura. Colaborava também com o jornal nacionalista “O Semanário”. No mesmo período começa a lecionar no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), o que acaba irritando ainda mais a direita de farda.
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Antes de seu retorno ao Rio, no início de 1954, Sodré foi convidado a participar do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP), que oferecia cursos, em nível de pós-graduação, no auditório do Ministério da Educação e Cultura.
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O IBESP foi, de acordo com Sodré, a “fase preliminar do ISEB”, e sua convivência com os ibespianos só teve início na sua volta ao Rio de Janeiro. Mas é preciso entender o ISEB para saber a razão de ter irritado tanto a cúpula militar.
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Ao final do governo Café Filho, em 1955, o IBESP passou por uma reformulação que alterou o seu nome para Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Como parte de seus integrantes se alinhara à candidatura de Juscelino Kubitschek, e a instituição “(...) não tinha sede nem estrutura, continuou, sob outro título, o novo, aquilo que o IBESP vinha fazendo”, conta Sodré.
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Com o início do governo JK, em 1956, a estrutura do ISEB foi fortalecida e se tornou mais estável, embora os cursos ainda fossem ministrados no auditório do Ministério da Educação e Cultura. A partir do ano seguinte, o Instituto passaria a ocupar a sede que lhe havia sido destinada, no bairro de Botafogo.
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No ISEB são travadas as grandes polêmicas que marcaram o período até o golpe de 1964. Entre os intelectuais brasileiros, como já mostramos em outro texto, havia duas tendências bem distintas e com suas fronteiras marcadas: a que sustentava a participação de capitais estrangeiros na economia brasileira para acelerar o ritmo de sua expansão, e a que defendia o caráter autônomo do processo de industrialização no país, admitindo a presença do capital estrangeiro apenas sob o rígido controle do Estado.
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Como seria de esperar, Sodré se identificava com a tese do desenvolvimento autônomo de nossa economia. Através de estudos direcionados para a relação entre o colonialismo e o imperialismo, para a formação e constituição das classes sociais no Brasil e, em especial, para a discussão de quem seria o povo brasileiro e o papel que poderia desempenhar na luta anti-imperialista, o mestre passou a orientar toda a sua produção intelectual para a identificação da classe ou da aliança de classes que poderia encaminhar o processo revolucionário no país.
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A participação no ISEB também assinalou o retorno de Nelson Werneck Sodré à publicação de livros. Em 1957, foram lançados: “As Classes Sociais no Brasil”, curso pronunciado no IBESP em 1954, e; “O Tratado de Methuen”. Em 1958, foi a vez de “Introdução à Revolução Brasileira”.
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Com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, Sodré apoia a posse de João Goulart. Foi preso e interrogado durante 10 dias. Depois disso foi transferido para Belém, mas essa foi a “gota d’água” em sua ligação com a farda. Vai para a reserva, em 1962, com a patente de general (ele tinha dois diplomas de curso do Estado-Maior).
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A partir de então, dedica-se integralmente ao seu compromisso de intelectual e escritor. Foi chefe do Departamento de História do ISEB. Com o golpe de 1964, teve seus direitos cassados por 10 anos e precisou se refugiar em uma fazenda de parentes no interior de São Paulo. Encontrado, foi preso e transferido para o Rio, no dia 26 de maio, e passou 57 dias na cadeia.
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Perdeu o direito de lecionar e passa a dedicar-se integralmente aos seus estudos e produção de novos livros.
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Nelson Werneck Sodré esteve lúcido até os seus últimos dias de vida. Continuava trabalhando quando foi internado na Santa Casa de Itu, em 11 de janeiro de 1999, para uma operação. Faleceu em 13 de janeiro do mesmo ano, devido à falência múltipla dos órgãos, septicemia e broncopneumonia.
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Na vastíssima obra de Sodré vamos encontrar: “História da Imprensa no Brasil”, “Memórias de um Soldado”, “Fundamentos da Economia Marxista”, “Fundamentos da Estética Marxista”, “Fundamentos do Materialismo Histórico, “Fundamentos do Materialismo dialético” “Síntese de História da Cultura Brasileira”, “Memórias de um Escritor”, “Brasil: Radiografia de um modelo”,
“Introdução à Geografia”, “A Verdade sobre o ISEB”, “Oscar Niemeyer e A Coluna Prestes”, “Vida e Morte da Ditadura”, “Contribuição à História do PCB”, ‘O Tenentismo”, “História e Materialismo Histórico no Brasil”, “História da História Nova”, “A Intentona Comunista de 1935”, “O Governo Militar Secreto e Literatura”, “História no Brasil Contemporâneo”, “A República: uma revisão histórica”, “A Marcha para o Nazismo”, “O Fascismo Cotidiano”, “A Ofensiva Reacionária”, “A Farsa do Neoliberalismo” e outros não citados aqui.
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Meus prediletos: “Formação Histórica do Brasil”, “O que se deve ler para conhecer o Brasil”, “As Razões da Independência”, “Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil”, “Pequena História da Burguesia Brasileira” e “A Ofensiva Reacionária”.
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VIVA O MESTRE NELSON WERNECK SODRÉ!
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Nas imagens: 01) Nelson Werneck Sodré; 02 o livro “Formação histórica do Brasil”
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