Por Andrew Osborn e Peter Graff
LONDRES, 9 Jun (Reuters) - Um ex-funcionário da CIA que trabalhava como terceirizado na Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos revelou ter sido o responsável por vazar detalhes de um esquema de espionagem do governo norte-americano, e disse ter agido desta forma para proteger "direitos básicos das pessoas em todo o mundo".Enclausurado em um quarto de hotel em Hong Kong, Edward Snowden, de 29 anos, disse que pensou muito antes de pulicar os detalhes do programa da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), denominado Prism. Segundo ele, o país estava criando uma imensurável rede secreta de espionagem que vigia cada cidadão norte-americano.
"Eu não quero viver em uma sociedade que faz esse tipo de coisas... Eu não quero viver em um mundo onde tudo o que eu faço é gravado. Isso não é algo sob o qual eu quero viver minha vida", disse ele ao jornal The Guardian, que publicou o vídeo com seu testemunho no site na Internet.
"A NSA construiu uma infraestrutura que permite interceptar tudo. Com a capacidade que ela tem, a maior parte da comunicação estabelecida entre os seres humanos na rede seria automaticamente registrada, sem que houvesse um alvo, um objetivo para tal. Se eu quisesse ver seus emails ou o telefone da sua esposa, tudo o que eu precisaria era usar esses mecanismos de interceptação do Prism. Poderia ter acesso a emails, senhas, gravações de telefone, cartões de crédito", disse Snowden.
O jornal The Guardin revelou nesta semana que os serviços secretos de segurança norte-americanos já rastreiam chamadas de telefones celulares da operadora Verizon e informações da Internet oriundas de companhias como o Google e o Facebook.
A informação a respeito dos serviços secretos desencadeou um interminável debate nos Estados Unidos e no exterior sobre o crescimento do alcance da NSA, que expandiu seus serviços de vigilância dramaticamente na última década. Agentes norte-americanos garantem que a NSA atua dentro da lei.
A decisão de Snowden de revelar sua identidade, bem como seu rosto e outros dados pessoais, reforça o apelo deste que já é um dos maiores casos de vazamento de dados secretos do governo norte-americano na história, e aumenta ainda mais o constrangimento do presidente Barack Obama.
Snowden também sabe que sua opção o expõe demais às autoridades norte-americanas. O Guardian o comparou a Bradley Manning, um soldado agora em julgamento por supostamente ajudar forças inimigas, que vazou para o Wikileaks documentos militares sigilosos.
O atual espião afirmou que deixou a namorada no Havaí sem contar a ela onde iria, e se disse ciente do risco que corre, mas pensou que toda a mobilização em torno da sua descoberta faria o risco valer a pena.
"Meu primeiro medo era que viessem atrás da minha família, dos meus amigos, da minha namorada. Qualquer um que me conhecesse", admitiu.
"Terei de me sacrificar pelo resto da minha vida. Eu não posso me comunicar com eles. As autoridades deverão agir de forma contundente contra qualquer um que me conheça. Isso me mantém sempre em alerta."
Ele falou sobre o quão corajoso foi largar uma vida confortável no Havaí, onde ganhava cerca de 16 mil dólares por mês.
"Eu estou disposto a me sacrificar porque eu não posso, em sã consciência, deixar que o governo dos Estados Unidos destrua a privacidade, a liberdade de Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo, tudo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo."
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