Escuta, classe média
ressentida
Em poucos momentos da história, a justiça
foi tão achincalhada como na tarde de sexta-feira. Negação do contraditório,
fatiamento do transitado em julgado e ordens de prisão para satisfazer a sanha
de uma classe média reacionária e patrimonialista. Tudo, desde o início,
não passou de um espetáculo jurídico-midiático visando ao entretenimento do que
há de mais retrógrado no país. Mesmo os que, no campo da esquerda se opõem ao
PT, não aprovaram o linchamento de lideranças que lutaram contra a ditadura.
Passado tudo isso, veremos que a farsa se voltará contra quem a perpetrou: o
STF, cada vez mais partidarizado, se desmoralizou como instância responsável
pelo cumprimento da constituição. A credibilidade da imprensa, como mostra
pesquisa da FGV, está no subsolo.
Joaquim
Barbosa, longe de ser um magistrado, tornou-se uma figura folclórica da mídia.
Em sua toga há um colarinho em arco, uma rosa que esguicha água, faltando
providenciar o nariz vermelho. Talvez, como os jogadores que marcam três gols em
uma partida, tenha até direito a pedir música no Fantástico e, quem sabe, um
convite para participar de um reality show. Mas numa Corte que já teve
Nunes Leal, ele sabe que é um ponto fora da curva.
Lamento, mas se você é um dos que
festejam, saiba que teve uma vitória de Pirro. Um partido que tem história e
militância comete erros, mas não é destruído por circos macabros. E outra coisa:
você não tem qualquer preocupação com o aperfeiçoamento das instituições. Seu
ódio é contra programas de transferência de renda que lhe retiraram a empregada
barata, o caseiro faminto e ainda puseram no aeroporto, que você julgava seu
espaço privativo, cidadãos que antes só pisavam lá para carregar sua bagagem de
bijuterias baratas. Mas, daqui a pouco, você estará triste novamente. E é do seu
ressentimento que você recolhe forças para reproduzir os mantras que publicações
como a revista Veja lhe proporcionam
semanalmente.
Só uma coisinha mais. Não deixe sua
contrariedade aqui, no Correio do Brasil. Não peça a um site que lhe dê o que
você nunca tolerou que fosse concedido aos seus inimigos políticos: o direito ao
contraditório. Teve um bom fim de semana? O sol estava lindo e a praia
convidativa. Levou a sua revista predileta e aproveitou bastante? Hoje, domingo,
o tempo mudou e chove torrencialmente no Rio? Acredite, meu bom ” republicano”
de ocasião, com sua alegria ressentida acontecerá o mesmo. Ou não tem sido assim
nos últimos anos?
Gilson Caroni
Filho é professor de Sociologia da Facha (RJ) e articulista do Correio do
Brasil.
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