segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

EUA e a estratégia de guerra contra a Rússia na Ucrânia

EUA e a estratégia de guerra contra Rússia na Ucrânia

J. Carlos de Assis

Os Estados Unidos do Prêmio Nobel da Paz Barak Obama empreendem uma guerra virtual contra a Rússia e preparam obstinadamente uma guerra real para ser travada em território ucraniano. Não importa a inviabilidade dessa aventura militar, do ponto de vista estratégico. O objetivo não é controlar o território ucraniano e “salvá-lo para a democracia”, mas esgotar em combate o poderio russo mediante seu estrangulamento econômico e militar numa guerra convencional em terceiro país. É que nem os lunáticos neoconservadores instalados no Pentágono, no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional proporiam um ataque direto à nação russa, dada sua condição de potência nuclear de primeira linha.

A estratégia central norte-americana é afirmar sua hegemonia mundial a partir da força. É-lhe intolerável a realidade de um mundo apolar ou multipolar em face da presença de um competidor nuclear como a Rússia e de uma potência econômica ascendente como a China, também ameaçadora, a médio prazo,  no campo militar. Para os neoconservadores, a hora de agir é agora, antes que essas forças rivais criem raízes mais profundas. O pretexto ucraniano vem a calhar. Depois de derrubar um governo legítimo e colocar em seu lugar um bando de facínoras, o próximo passo é a incorporação da Ucrânia à OTAN, em aberto desafio à Rússia. Só com muito sangue frio Putin poderá contornar mais essa provocação no quintal da Rússia.

É muito fácil começar uma guerra de grandes proporções na terra dos outros,  sobretudo quando se tem a ilusão de um poder assimétrico em relação ao adversário  e mesmo quando não se tem certeza quanto aos efeitos. É que, uma vez instalado o caos que se segue a uma guerra, não basta ter imensa superioridade miliar para controlar suas consequências. Os Estados Unidos são peritos em começar guerras inacabadas: foi assim na Coreia, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão; mais recentemente insuflaram revoluções no norte da África, que resultaram em dramática carnificina e permanente instabilidade na Líbia e no Egito. Entretanto, quando se trata de conseguir a paz, os Estados Unidos lavam as mãos. Os outros é que cuidem do estrago que provocam, como no Haiti e no Iraque.

É muito fácil entender a estratégia dos chamados neoconservadores americanos que acabaram de colocar agora um representante na principal cadeira no Departamento de Defesa. Querem repetir o processo que levou à exaustão a antiga União Soviética. Dado que Estados Unidos e Rússia estão em virtual paridade nuclear, a solução é levar a Rússia à capitulação através de uma guerra convencional, não em território russo, que arriscaria uma guerra nuclear, mas no território de um terceiro país. Nada melhor, pois, que a Ucrânia.

O objetivo dos neoconservadores é tentar repetir uma estratégia que, embora tendo dado certo na liquidação da União Soviética, não liquidou o Estado russo que estava em seu coração. O Estado socialista desmoronou, mas a nação russa, mesmo ferida, continuou de pé. Putin tratou de recuperá-la por inteiro colocando-a na condição de um estorvo nuclear que limita a vontade de poder ilimitada de Washington. A intenção norte-americana de atacar o governo sírio esbarrou efetivamente no veto russo e chinês. Isso, claramente, expôs a impossibilidade prática do exercício de um poder hegemônico na era nuclear partilhada. Transformado num boneco operado pelos neoconservadores, Obama resolveu “estrangular” a Rússia com embargos econômicos.

Recordemos os passos que levaram à extinção da União Soviética a fim de examinarmos os paralelos atuais. Em meados dos anos 70, foi refundada em Washington por influência do então diretor da CIA, George Bush pai, a ONG denominada “Comitee on the present danger”, ou Comitê para o Perigo Presente (CPD). Tinha como principal objetivo estatutário “levar a União Soviética à rendição, se necessário por meios militares”. Do Comitê faziam parte 60 personalidades notáveis do círculo conservador norte-americano, sendo que o futuro Presidente Ronald Reagan filiou-se à ela pouco antes de eleger-se em 1979. Como Presidente, levou a posições de alto destaque no Departamento de Defesa, no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional 33 integrantes do Comitê.

Em 1985, quando estive na Alemanha para cobrir a reunião dos Sete Grandes, andava por lá o chefe do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Richard Perle, membro do CPD, fazendo conferências sobre o conceito subjacente ao programa de escudo nuclear, então conhecido como Guerra nas Estrelas, que se baseava no princípio de “guerra nuclear protegida”. Perguntei aos alemães o que achavam daquilo, pois a guerra nuclear “protegida” no contexto de Guerra nas Estrelas implicava a proteção nuclear do território norte-americano, mas não do europeu. Os alemães com quem conversei estavam perplexos. Imagino que estejam perplexos de novo com a marcha forçada pela guerra em território da Ucrânia, que os expõe diretamente às forças militares russas convencionais em seu próprio território.

É importante assinalar que não se tratava apenas de retórica. Diretivas presidenciais de Reagan, na virada do primeiro para o segundo mandato, introduziram mudanças cruciais nos programas de computador que põem em posição de ataque os três sistemas estratégicos baseados em terra, mar e ar das forças nucleares norte-americanas. Através de vazamentos de imprensa, soube-se de mudanças fundamentais  no SIOP (Single Integrated Operational Program, ou Programa Operacional Integrado Único), a parafernália eletrônica capaz de desencadear uma guerra nuclear contra a então União Soviética a partir do teatro europeu.

A principal alteração no SIOP, de acordo com os fragmentos de diretivas presidenciais secretas,  recolhidos e reconstituídos por um cientista canadense, F. Knelman (em “America, God and the Bomb”), consistiu em recuar para oito minutos, pelo princípio do prêmio por resposta rápida, o início de um ataque nuclear total à União Soviética a partir do primeiro alarme. Não se tratava de uma questão acadêmica. Como um hipotético míssil soviético em cruzeiro levaria 36 minutos para mergulhar em território nacional norte-americano (trata-se de míssil disparado de terra: não se menciona a frota indetectável de submarinos nucleares, por expediente elusivo de convencimento), o programa Guerra nas Estrelas só se justifica se houver uma capacidade efetiva de interceptá-lo no meio da trajetória, isto é, no mínimo 18 minutos depois do disparo.

O mesmo tempo é o que levaria um míssil americano disparado de terra para alcançar o míssil hostil na estratosfera. Entretanto, seria necessário um sistema de detecção instantânea do início do ataque. Para qualquer efeito prático, não há possibilidade de alcançar o míssil antes que cruze o ponto médio da trajetória, a não ser de uma base em órbita. O programa Guerra nas Estrelas pretendia pôr bases em órbita, mas até lá seria necessário contar com a boa vontade dos estrategistas soviéticos para não atacarem primeiro. Por isso reduziram o tempo de resposta do SIOP a oito minutos, pelo que ficou limitado a um nível de redundância o processo de checagem para confirmar se um disparo captado na tela de controle eletrônico era um disparo real. Com isso ficamos todos expostos à possibilidade de uma guerra nuclear casual na medida em que o SIOP reagiria automaticamente a uma checagem errada sem tempo de consulta para resposta ao falso ataque do Presidente da República.

O primeiro passo para implementar Guerra nas Estrelas era ignorar o tratado SALT II, que vedava a construção de sistemas antibalísticos por parte de EUA e União Soviética. A lógica do SALT II, jamais aprovado pelo Senado norte-americano mas até então respeitado pelo Executivo, era simples: a dissuasão nuclear só se efetiva na base da autodestruição assegurada por quem iniciar uma guerra nuclear. Se um dos lados conseguir construir um sistema operacional que efetivamente proteja seu território de um contra-ataque nuclear, ele estará livre para desencadear um primeiro ataque sem medo de retaliação. Cientistas de todo mundo, inclusive americanos, questionaram as bases técnicas de Guerra nas Estrelas, mas Reagan, a fim de esgotar a União Soviética numa corrida tecnológica para construir seu próprio escudo, levou Gorbachev a uma posição insustentável por falta de condições econômicas e técnicas para isso.

Foi a combinação de pressão tecnológica, econômica e política norte-americana que levou a União Soviética à autodestruição. É este mesmo caminho que está sendo seguido agora para levar a Rússia à exaustão econômica e à rendição política. Não se trata de teoria conspiratória. Os norte-americanos, conscientes de sua superioridade militar e econômica, nunca escondem suas reais intenções. Seus movimentos são explícitos e claramente apresentados em documentos estratégicos públicos. Assim, eis como a intenção de eliminar qualquer possibilidade de “um novo rival” era colocada em 1992, imediatamente depois da derrota da União Soviética, pelo neoconservador Paul Wolfowitz, do CPD, então Subsecretário da Defesa, no Manual de Planejamento de Defesa:
“Nosso primeiro objetivo é prevenir a re-emergência de um novo rival, seja no território da antiga União Soviética seja em outro lugar, que coloque uma ameaça do tipo que foi colocado pela antiga União Soviética. Isso é uma consideração dominante sublinhando a nova estratégia de defesa regional e requer que previnamos qualquer  tentativa de um poder hostil de dominar uma região cujos recursos poderiam, sob controle consolidado, ser suficiente para gerar poder global.”

Essa linha estratégica está sendo trilhada religiosamente no sentido de evitar que a Rússia seja um embaraço para a hegemonia militar absoluta norte-americana, contornando a realidade elidida da virtual paridade nuclear. O SALT II foi revogado,  unilateralmente, pelos EUA. Eles se recusam, por outro lado, a fazer um tratado de desmilitarização do espaço.  Assim, é necessário recuar à geopolítica anterior à Guerra Fria para entender os movimentos americanos. De fato, há uma década e meia a possibilidade real de uma guerra na Ucrânia está sendo preparada metodicamente pela OTAN, que agora mesmo acaba de decidir aumentar o comprometimento de orçamento militar de seus membros (2% do PIB) por pressão americana. Desde 1999 que a Organização avança para o Leste. Naquele ano, incluiu a República Checa, a Hungria e a Polônia. Uma segunda expansão se deu em 2004, incluindo Bulgária, Estônia, Latvia, Lituânia, România, Eslováquia e Eslovênia.  Com isso, quase metade dos países atualmente membros da OTAN foram incorporados, rumo ao Leste, depois do fim da URSS. Paralelamente expandia-se para Leste a União Europeia, cujo último movimento seria a tentativa de tomada de posse da Ucrânia. E só não houve a efetiva incorporação da Ucrânia e da Geórgia, formalmente sinalizada na cúpula de Bucareste em 2008, porque dessa vez Putin reagiu pela força, pois se tratava, a seu ver, de colocar uma fortaleza militar hostil no quintal de seu país.

O cerco militar à Rússia segue uma tríplice estratégia: alargamento da OTAN, expansão da União Europeia e promoção da “democracia”, obviamente desconsiderando o risco de uma guerra aberta. Diante do baile estratégico que foi a absorção da Crimeia pela Rússia, com apoio esmagador da população da península, os Estados Unidos se movem na direção da guerra através inicialmente de sanções econômicas, a partir de uma posição forte, recém-conquistada, no campo da energia. Contudo, não nos iludamos. Uma guerra convencional seria de alto interesse norte-americano, desde que ela pudesse esgotar a capacidade militar e econômica russa sem o risco de escalar para uma guerra nuclear. É com essa possibilidade que os neoconservadores contam para iniciar a guerra.

Sabemos, por outro lado, pela experiência histórica, que os Estados Unidos não se preocupam muito em como acabar com guerras. Para eles trata-se de um jogo estratégico para assegurar a afirmação da hegemonia mundial. Por isso, no momento, a única força capaz de parar a máquina de guerra americana é o povo dos Estados Unidos, tocado pela consciência de solidariedade com os bilhões de inocentes do mundo, e eles próprios, que sofreriam as consequência de uma guerra proto-nuclear. É necessário que os inocentes rompam com a passividade, falem e votem. De fato, os Estados Unidos podem esgotar as forças econômicas e militares dos russos numa guerra em território de terceiro. Mas o que acontece com uma potência derrotada, humilhada, sitiada, e não obstante de posse de um imenso arsenal nuclear?

Aos que consideram essa análise exagerada peço que leiam “Foreign Affairs”, uma das mais prestigiosas revistas do estabelecimento norte-americano, em detalhados e esclarecedores artigos sobre a “crise” na Ucrânia, na edição de setembro último. Um deles diz claramente: “a crise na Ucrânia é nossa culpa”, referindo-se aos Estados Unidos. No corpo da matéria vem a narrativa da marcha da OTAN para Leste, em confronto direto com entendimentos anteriores com os russos e sob constantes protestos destes. Ali também se encontra o relato do caos planejado pelo Departamento de Estado e ONGs patrocinadas pelo Governo norte-americano para derrubar o governo legítimo pró-russo de Kiev, colocando em seu lugar um governo que tem pelo menos quatro membros proeminentes neofacistas.

Ainda em termos de medidas provocativas contra a Rússia, destaca-se a monstruosa derrubada do avião comercial MH 17 sobre o Leste da Ucrânia, um típico atentado terrorista que os Estados Unidos pretenderam atribuir a forças pró-russas. Falso. O avião, de que já não se fala mais muito sintomaticamente, foi derrubado por forças do governo de Kiev, conforme denunciou o presidente russo Vladmir Putin, numa reunião internacional, com base em investigações independentes, e com praticamente nula repercussão no Ocidente.

O ânimo dos neoconservadores  norte-americanos para o confronto global com os russos, a partir da economia, ganhou força com a revolução energética representada pela exploração de gás de xisto nos Estados Unidos através de uma das mais criminosas tecnologias do ponto de vista ambiental, o fracting. O sucesso comercial do empreendimento, com rápida expansão de produção de gás e petróleo de xisto, possibilitou atacar o principal pilar da economia russa, grande produtora e exportadora de petróleo e gás, e, simultaneamente, “tranquilizar” os europeus quanto à possibilidade de cessação de suprimento de gás russo à Europa, o qual seria substituído pelo norte-americano.

Não se sabe se os sauditas entraram nesse jogo por razões geopolíticas, evitando reduzir a produção de petróleo para prejudicar os russos, ou por suas próprias razões de tentar inviabilizar economicamente a produção de hidrocarbonetos por fracting. O fato é que também grandes empresas norte-americanas, que investiram pesadamente no petróleo e gás de xisto, estão tendo pesados prejuízos com a redução do preço do petróleo, que agrada mesmo só ao consumidor. Por outro lado, as promessas supostamente infinitas do fracting  se revelaram surpreendentemente  limitadas nos últimos meses:  em Monterey, na Califórnia, reservas de petróleo de xisto antes avaliadas em 13,7 bilhões de barris foram reavaliadas oficialmente para 600 milhões, ou 96% menos. Além disso, a opinião pública norte-americana começa a ser mover contra o fracting: segundo uma pesquisa de opinião recente, em 2008, 48% a 38% dos norte-americanos apoiavam essa tecnologia; em novembro último, 47% a 41% se manifestaram contra. Isso certamente reflete a comprovação inequívoca da destruição ambiental, sobretudo de aquíferos, que essa tecnologia suja provoca no meio ambiente de forma irreversível.

Enquanto o mercado de hidrocarbonetos não sofrer nova reviravolta, refletindo o fracasso da Califórnia, a Rússia, sem dúvida, será penalizada pela estratégia norte-americana de seu estrangulamento econômico. Putin, com sua frieza característica, ponderou que a Rússia é um país autossuficiente e, de qualquer modo, tem meios de retaliação – imaginando certamente um embargo na exportação de gás para a Europa. Uma importante ficha para a Rússia é certamente a China, que já lhe garantiu um contrato de fornecimento de gás por 20 anos no montante de 400 bilhões de dólares, e que tem se alinhado com ela em questões geopolíticas, como no caso da Síria. Contudo, estamos claramente diante de uma escalada.

O novo passo estimulado pelos EUA foi a recente decisão do Parlamento da Ucrânia de renegar sua neutralidade. Note-se que o próprio Kissinger, num artigo recente, assinalou que a solução definitiva para a crise ucraniana, de uma forma aceitável pela Rússia, seria transformar a Ucrânia num país neutro entre a União Europeia/OTAN e a Rússia, como aconteceu com a Finlândia na Guerra Fria. Contudo, Kissinger é um velho conservador lúcido, não um neoconservador alucinado. Os EUA, sob controle destes, indicam que não aceitarão perder mais essa oportunidade de guerra. Tudo indica que forçarão a Rússia a aceitá-la. Com a integração da Ucrânia na OTAN, numa iniciativa indiferente aos milhões de russos e russófilos no Leste do país, a aliança militar ocidental estaria nas costas da Rússia, o que significa ameaça direta a seu território. O mínimo que a Rússia buscaria seria retalhar a Ucrânia com apoio local, o que de uma certa forma foi ensaiado na Crimeia. Seria então uma guerra global em território ucraniano?

E nós, que temos a ver com tudo isso? Os inocentes entre nós acham que os neoconservadores norte-americanos veem com muita naturalidade nossa aproximação, via BRICS, com sua arqui-inimiga Rússia. Acreditam que a gravação das conversas da Presidenta foi mero divertimento. Acham que as tentativas de desestabilização do legítimo Governo brasileiro atual, assim como o reeleito, são fenômenos exclusivamente internos, ou resultantes dos impulsos éticos de alguns tribunais. Pelo fato de termos passado à margem de guerras, e estarmos no centro de um continente  peculiarmente pacífico, nos acostumamos a não pensar geopoliticamente – mesmo porque, na era nuclear, a geopolítica devia estar definitivamente fora de moda. Contudo, querendo ou não, estamos no jogo. Se o preço do petróleo cair abaixo de 40 dólares o barril, a exploração do pré-sal estará inviabilizada. Se os Estados Unidos fizeram a guerra contra a Rússia em território ucraniano, teremos de fazer difíceis escolhas. 



J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares

 




A verdade que a direita esconde.
Apesar da gritaria da direita contra a Petrobras e o Governo Dilma, a verdade é que o escândalo do Banestado ainda é o caso público, conhecido, a envolver o maior volume de recursos: R$ 60 bilhões.
Segundo levantamento do Instituto Avante Brasil, em valores atualizados, os 31 principais casos de corrupção (de 1980 a 2014) geraram rombo ao erário público de R$ 120 bilhões.
O escândalo do Banestado foi descoberto em 2003, por uma força-tarefa que investigou o esquema que transferia dinheiro de corrupção, sonegação fiscal e tráfico de drogas para paraísos fiscais usando contas CC5 (de uso exclusivo para não residentes) abertas ilegalmente no banco.
O caso envolvia não apenas políticos ligados ao Governo Fernando Henrique Cardoso, como grande parte do empresariado nacional e donos de meios de comunicação, o que, talvez, explique a menor atenção dada ao episódio, principalmente no noticiário televisivo.
Em abril de 2013, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) extinguiu a punição aplicada na instância inferior a sete de 14 gerentes e ex-diretores do Banestado. O STJ alegou que os crimes já haviam prescrito.
Petrobras anuncia recordes históricos. A Petrobras informa que bateu um novo recorde histórico de produção própria diária de petróleo e gás natural liquefeito no último dia 21, quando produziu 2 milhões 286 mil barris. O volume produzido não considera a parcela de seus parceiros e supera o recorde anterior de 2 milhões 257 mil barris, alcançado no dia 27/12/2010. A Petrobras também bateu recorde diário de produção operada no dia 21, tendo produzido 2 milhões 470 mil bpd.
O novo patamar histórico decorre principalmente da contribuição de nove sistemas de produção. Cinco deles começaram a operar em 2013 e tiveram novos poços interligados ao longo de 2014. Outros quatro sistemas de produção foram instalados este ano.
Das plataformas instaladas em 2013, contribuíram para esse resultado a P-63, no campo de Papa-Terra, e P-55, no campo de Roncador - ambas na Bacia de Campos, além do FPSO Cidade de Itajaí, em Baúna, no pós-sal da Bacia de Santos. No pré-sal da Bacia de Santos, destaque para a produção dos FPSOs Cidade de São Paulo, no campo de Sapinhoá, e Cidade de Paraty, na área de Lula Nordeste.
A produção de 700 mil barris por dia foi alcançada apenas oito anos depois da primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal, ocorrida em 2006, e apenas seis meses após a marca dos 500 mil barris, obtida em junho. Essa produção representa uma marca extremamente significativa na indústria do petróleo, especialmente diante do fato dos campos se situarem em profundidade de água profundas e ultraprofundas.
O patamar de 700 mil bpd foi conseguido com a contribuição de somente 34 poços produtores. Isso evidencia a elevada produtividade dos campos já descobertos na camada pré-sal. Desses poços, 16 estão localizados na Bacia de Santos, que responde por cerca de 61% do volume produzido no pré-sal - aproximadamente 429 mil barris por dia. Os demais 18 poços estão localizados no pré-sal da Bacia de Campos e respondem pelos 39% restantes da produção - cerca de 273 mil barris por dia.
Mas os tucanos insistem em vender a Petrobras! O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), aproveitando-se do pânico que a imprensa criou contra a Petrobras, apresentou Projeto de Lei pondo fim ao regime de partilha, adotado por Lula para exploração do pré-sal.
O objetivo do vendilhão tucano é que, a partir de 2015, volte a valer o modelo de concessão, que vigorou desde 1997, no Governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), até a implantação da partilha.
Para a Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet), a troca seria “um retrocesso”: “Deixar o pré-sal no regime de concessão seria entregar o maior tesouro brasileiro às empresas estrangeiras”, denuncia a Aepet.
Nicarágua começa a construir o canal. Autoridades do Governo da Nicarágua, representantes da empresa chinesa HKND, membros da Comissão do Grande Canal Interoceânico, realizaram a cerimônia oficial de início das obras para a construção do desafiador projeto.
“No dia de hoje, damos início às obras que levarão à construção do Grande Canal”, disse o vice-presidente da Nicarágua, Moisés Omar Halleslevens. “Esse projeto gigantesco não só transformará a história da Nicarágua e sua geografia, mas também a economia de forma sustentável, necessidade de todo o povo nicaraguense”, disse em sua apresentação.
O representante da empresa chinesa HKND, Wang Jing, agradeceu de maneira muito especial ao Governo do presidente Daniel Ortega e ao povo nicaraguense por haver abraçado um projeto tão importante.
Uruguai aprova Lei de Meios! Lamentavelmente, parece que o Brasil está ficando “na rabeira” de uma importante mudança que se dá no mundo. Uma direita reacionária e o monopólio da imprensa no país impede que possamos debater uma regulamentação para a mídia, enquanto tantos outros países já avançam rapidamente neste sentido.
Após um ano e meio de tramitação, o Legislativo uruguaio aprovou a lei que regulamentará a reforma no setor de telecomunicações no país. Com 50 votos a favor e 25 contra, contando com o apoio dos parlamentares da governista Frente Ampla, a Câmara dos Representantes do Uruguai deu sanção definitiva à iniciativa, que será regulamentada pelo governo de Tabaré Vázquez, substitui José Mujica na Presidência.
Ao declarar os serviços de comunicação como “interesse público”, a Lei de Meios uruguaia, cujo nome oficial é Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual, regulamenta os setores de rádio, televisão, além de outros serviços de comunicação audiovisual — deixando de fora internet e redes sociais. Segundo os autores da reforma, o intuito da lei é evitar a concentração econômica no setor de telecomunicações e fomentar a diversidade e a pluralidade na oferta do serviço e na produção de conteúdos.
Alguns dos principais pontos da nova lei aprovada no Uruguai:
- lei proíbe o monopólio na radiodifusão; cada empresa poderá ter até seis concessões para prestar serviços televisivos (em caso de concessões na capital Montevidéu, o número cai para três);
- TVs públicas deverão ter pelo menos 60% da programação de origem nacional — deste percentual, um terço deverá ser realizado por diferentes produtores independentes;
- ficará fixado um horário de ‘proteção a crianças’ (das 6h às 22h), período em que deverão ser evitados programas que promovem condutas violentas, discriminatórias, pornográficas, ou relacionadas a jogos de azar e apostas;
- crianças e adolescentes não poderão participar de campanhas publicitárias de marcas de bebidas alcoólicas, cigarros ou qualquer produto prejudicial à saúde;
- será criado um Conselho de Comunicação Audivisual, composto por cinco membros (um indicado pelo Executivo e os outros quatro por meio de maiorias especiais do Poder Legislativo); e,
- distribuição da verba de publicidade eleitoral gratuita será feita de acordo com os votos de cada partido na eleição anterior.
A sessão foi turbulenta na sede do Legislativo uruguaio: a aprovação se deu sob fortes críticas dos 25 opositores. Por isso, a Frente Ampla, partido governista, precisava de cada um dos seus 50 votos para conseguir fazer passar a lei.
Como fazem aqui, a oposição fez duras críticas à legislação taxada de “inconstitucional”, dizendo que a Lei de Meios “afeta a liberdade de expressão” e “discrimina” e “atinge o setor privado em benefício do Estado”.
Mais 10 torturadores são condenados na Argentina! O Tribunal Federal de Tucumán condenou mais 10 implicados na repressão durante a ditadura militar argentina por crimes de lesa humanidade, aumentando para 576 o número de torturadores e repressores sentenciados no país.
Entre os 10 novos condenados, três receberam penas de prisão perpétua. Juan Carlos Medrano, Pedro García, antigo chefe da guarda do “pavilhão da morte” e  Héctor Valenzuela foram condenados por “violação de domicílio, privação ilegítima de liberdade, torturas, delitos sexuais e homicídio de Juan Torrente e Juan Carlos Suter.
Pobre México! Invadido e assaltado pelo seu vizinho do norte, conquistado em uma guerra que lhe tomou todo o estado da Califórnia e, atualmente, obrigado a se curvar diante de um “acordo de livre comércio” que só lhe rouba as riquezas e não produz frutos para seus cidadãos, o México vai afundando em crise e barbárie. Dominado pelas máfias estadunidenses que controlam o tráfico de drogas, o país que foi berço da grande civilização Maia está agora entregue ao banditismo e impunidade.
Mais de 500.000 crianças desapareceram nos últimos seis anos. Os dados foram divulgados por um grupo de ONGs do país para alertar que “há falta de vontade do governo para resolver os problemas”.
O deputado José Francisco Coronato Rodríguez, eleito pelo Movimento Cidadão e secretário da Comissão de Direitos Humanos do Congresso, fez as denúncias sobre o desaparecimento de crianças dizendo que os dados recolhidos pelas ONGs mostram que, a cada hora, desaparecem entre 9 e 10 crianças no país. Desse total, 58% entre quatro e doze anos de idade! Dois terços das crianças desaparecidas são do sexo feminino!
Venezuela bate novo recorde: mais de 10 milhões de estudantes! A Venezuela está encerrando o ano de 2014 com o maior número de matrículas escolares da sua história: são 10.508.538 estudantes registrados na rede escolar. O governo investiu, durante o ano, 6,9% do PIB na área de educação básica, média, universitária e tecnológica.
Do total de estudantes matriculados, 6.156.076 estão registrados em escolas públicas; 1.722.462 estão na rede privada e 2.630.000 são universitários! Nesses 15 anos de “Revolução Bolivariana”, o número de crianças entre 3 e 6 anos de idade matriculadas pulou de 45% para 77%; na rede primária, com crianças entre 6 e 12 anos, o índice cresceu de 86% para 96%; na rede secundária, com jovens entre 12 e 18 anos, o aumento foi de 48% para 77%. Mas no meio universitário o índice deu um verdadeiro salto: 294% a mais de estudantes.
Ucrânia continua fazendo “o jogo de Washington”. O parlamento da Ucrânia anunciou na terça-feira (23) que o país renunciou ao status de Estado “não-alinhado”. Ao modificar a legislação interna que impedia o alinhamento a blocos militares, a manobra do Legislativo revela o objetivo ucraniano de eventualmente juntar-se à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental que se opõe à Rússia.
O governo de Moscou reagiu classificando como “contraproducente” a mudança constitucional na Ucrânia. “Apenas serve para aumentar os confrontos e criar a ilusão de que a solução para a crise interna na Ucrânia possa ser solucionada por meio da adoção de leis como esta”, disse o chanceler russo, Serguei Lavrov.
As emendas legislativas foram propostas pelo presidente Petro Poroshenko e conseguiram a aprovação de 303 deputados, garantindo com folga de 77 votos a maioria constitucional necessária para sancionar as mudanças. Eleito presidente em maio deste ano, Poroshenko sempre reiterou que a entrada na Otan será decidida, em última instância, por meio de um referendo popular.
O status de “país não-alinhado” é uma classificação jurídica dada a Estados — como a Suíça, por exemplo — que se recusam a participar de alianças militares de quaisquer tipos, bem como exercer algum papel em uma eventual guerra.
Provas da farsa. Nosso Informativo já trouxe várias notícias e análises sobre a farsa montada pelos EUA para justificar o boicote contra a Rússia, no caso do avião da Malaysia Airlines abatido no espaço aéreo da Ucrânia. Mas, a cada dia, novos dados vão se somando para mostrar quem é o verdadeiro culpado. Lamentavelmente, a nossa imprensa nada divulga.
No dia da catástrofe do Boeing malaio na região de Donetsk o avião de assalto ucraniano Su-25 tinha levantado voo do aeródromo com mísseis ar-ar, mas retornou sem a carga de combate e o piloto estava muito assustado. Esta informação foi publicada pelo jornal Komsomolskaya Pravda que fala de certo empregado da base aérea, a que o periódico chama “testemunha secreta”.
O interlocutor do jornal revelou que se encontrava “na cidade de Dnepropetrovsk, povoado Aviatorskoe”. “É um aeroporto comum. Naquela época aí se baseavam caças e helicópteros”, informou.
“Os aviões levantavam voo e bombardeavam regularmente, os aviões de assalto SU-25 bombardeavam Donetsk e Lugansk. Isso se prolongou por muito tempo... À tarde, aproximadamente uma hora antes do abatimento do Boeing, três aviões de assalto levantaram voo. Não me lembro da hora concreta. Um destes aviões estava munido de mísseis deste tipo (ar-ar). Era um Su-25, disse o interlocutor do jornal.
Afirmou que não podia confundir estes mísseis com os mísseis tipo ar-terra. “Não, não pude confundir. As suas dimensões, empenagem e coloração são diferentes. Além disso, eles possuem a ogiva de guiamento. A sua identificação é fácil”, disse o empregado desta base aérea.
“Em poucas palavras, algum tempo depois retornou apenas um avião, mais dois foram abatidos. Segundo me disseram, foram abatidos em algum local do leste da Ucrânia. Retornou apenas o avião que estava munido destes mísseis... Retornou sem os mísseis. O piloto estava muito assustado”, disse o interlocutor do jornal.
Comitê de Investigação aceita “testemunha secreta”. Um detector de mentiras comprovou serem verdadeiras as afirmações do funcionário de uma base aérea da Ucrânia que informou ao jornal russo “Komsomolskaya Pravda” ter presenciado fatos que indicam ter sido um avião de combate ucraniano o responsável pela tragédia ocorrida em julho deste ano com o Boeing 777 da Malaysia Airlines que caiu na região de Donetsk. O Comitê de Investigação da Rússia afirma ter provas da participação do Su-25 na tragédia.
Um comunicado do Comitê diz que “o detector de mentiras confirmou a veracidade das declarações da testemunha da catástrofe do Boeing na Ucrânia”. Segundo Vladimir Markin, chefe da comissão, está em estudo a concessão de segurança de Estado à nova testemunha.
O Boeing 777 da Malaysia Airlines que fazia a rota entre Amsterdã e Kuala Lumpur caiu em 17 de julho na região de Donetsk, provavelmente abatido por um míssil. A bordo do avião estavam 298 pessoas, e todas morreram.
Putin preocupa o “Império”? Com certeza, a resposta é sim! Já no seu primeiro mandato com o presidente da Rússia, ele tomou providências para recuperar o controle do Estado sobre o petróleo e o gás! Mesmo dentro da esquerda, ouvimos alguns protestos e até certo desprezo pelas mediadas. Mas não restam dúvidas de que o ex-coronel da marinha russa é o principal alvo das operações do imperialismo. O que acontece atualmente na Ucrânia é a principal comprovação disso.
Putin tem levado adiante uma política de unificação de um campo anti-imperialista. De um lado, através de acordos energéticos e militares com a China, por outro, a partir da decisão de defender a Síria, para o que tem sido importantíssima, também, uma cooperação crescente, inclusive militar, com o Irã, outro defensor dos sírios e já com presença militar naquele país.
Diante da desvalorização artificial do petróleo, afetando acordos energéticos russos com inúmeros países, anuncia-se que a partir de janeiro o petróleo e o gás da Rússia somente serão comercializados em rublo. É um ataque frontal ao petrodólar, artificialmente emitido, sem lastro, aceito como moeda internacional face ao lastro-nuclear com que os EUA ameaçam o mundo. Mas, além da riqueza física energética, a Rússia também tem capacidade nuclear e já declarou que vai usá-la para defender-se.
O cenário exige uma evolução do posicionamento dos BRICS para a esfera militar, já que todos são afetados pela emissão sem lastro do dólar e desvalorização do petróleo.  Há sinais de que a cooperação entre estes países tende a expandir-se. Amplia-se a possibilidade de novos acordos com a Argentina, Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador. E também com o Brasil, seja na compra de armas, seja no anúncio de que os russos podem instalar aqui uma fábrica de aviões.
Futebol do BRICS. Um torneio de futebol acontecerá paralelamente à próxima cúpula do grupo, em julho do ano que vem, e tem por objetivo aproximar os cinco Estados-membros do BRICS, usando esporte como catalisador.
Durante a semana passada, a Embaixada do Brasil em Moscou apresentou o projeto para o Primeiro Campeonato de Futebol entre países do BRICS. Segundo o embaixador brasileiro Antonio Guerreiro, o torneio será realizado na cidade russa de Ufa, paralelamente à sétima cúpula do grupo, em julho de 2015, e contará com a participação das seleções juvenis de futebol do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“O efeito positivo gerado pelo futebol poderá facilitar o desenvolvimento das relações comerciais e culturais entre os nossos países, assim como os projetos conjuntos em outras áreas. Levando em consideração o clima político atual, o futebol poderá ser uma ferramenta importante para ajudar na resolução dos conflitos diplomáticos", diz João Gilberto Vaz, diretor da empresa de consultoria Arena Solutions, responsável pela organização do evento.
O empresário aproveitou para ressaltar que os países dos BRICS foram recentemente escolhidos pela Fifa como sedes da Copa do Mundo por três vezes consecutivas: a edição de 2010 foi realizada na África do Sul, de 2014 foi recebida pelo Brasil e em 2018 acontecerá em solo russo. “Todos os líderes que confirmaram presença na próxima cúpula são fãs de futebol.”
Rússia quer ampliar cooperação em alta tecnologia com o Brasil. O governo russo está oferecendo ao Brasil uma colaboração ativa em esferas de alta tecnologia, incluindo exploração do espaço, construção naval e setor de aviação. Delegação comandada pelo vice-premiê russo Dmítri Rogôzin tem expectativa de que visita ao país resulte em acordos e reforço da parceria estratégica.
Na quarta-feira (18), o vice-primeiro-ministro russo Dmítri Rogôzin participou de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e com o ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim. Além disso, visitou a estação terrestre do Glonass, na Universidade de Brasília, onde é realizado acompanhamento do sistema global de navegação por satélite.
“Os brasileiros não querem comprar produtos acabados, mas querem participar da concepção e instalação dessas tecnologias russas no país”, declarou o vice-premiê russo, ao mencionar o setor espacial.
A parceria militar entre os países não se limita ao fornecimento de produtos acabados para o país sul-americano, uma vez que “o Brasil está ajudando a criar um centro de serviços para trabalhos de reparo e manutenção de helicópteros russos”.
No setor de construção naval, os projetos e tecnologias brasileiras e russas destinadas a exploração de jazidas de petróleo e gás apresentam boa compatibilidade, apesar de determinadas tarefas serem executadas em diferentes condições climáticas e geológicas.
Itália: trabalhadores protestam contra reformas trabalhistas. As propostas do primeiro ministro Matteo Renzi para “aliviar” a crise interna (política, econômica e social) na Itália estão gerando uma forte resistência na população que já sofre há cinco anos com a situação. Uma pretendida “reforma trabalhista” anunciada por Renzi foi o estopim de uma série de protestos e para a greve geral realizada no dia 12 de dezembro.
Novas informações indicam que mais de um milhão de trabalhadores e trabalhadoras da Itália atenderam ao chamado da CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho) para protestar contra as medidas, no dia 25 de dezembro. Poucos dias antes, os trabalhadores do setor metalúrgico ligados à FIOM-CGIL e milhares de estudantes secundaristas participaram de grandes mobilizações e paralisações de serviços em todo o território nacional.
O novo governo da Itália, atendendo ao comando da “troika” está tentando desmontar toda a regulamentação trabalhista no país e retirar direitos antigos, conquistados ao longo de décadas de lutas.
Europa: 1 em cada 4 cidadãos em risco de pobreza! É grave a situação do “antigo continente”, antigamente visto como um exemplo de prosperidade, riqueza e trabalho. Muitas vezes, ao longo de nossa adolescência e mesmo na idade adulta, víamos e ouvíamos coisas sobre a Europa, transformando-a em uma espécie de “sonho” de cultura e avanços sociais. Mas o quadro está mudando muito rapidamente.
Segundo o instituto de pesquisas Eurostat, a proporção de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social na União Europeia já chega a 24,5% da população (cerca de 122,6 milhões de pessoas).
Entre os países mais afetados com a crise estão: Bulgária (48,0%), Romênia (40,4%), Grécia (35,7%), Letônia (35,1%) e Hungria (33,5%). Na Espanha o índice chega a 27,3%.
França vive novo recorde de desemprego. São 3.840.000 trabalhadores e trabalhadoras desempregados/as na França, segundo as estatísticas oficiais. Ou seja, um novo recorde para o país! A taxa de desemprego cresceu 0,8% entre os meses de outubro e novembro, segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Pôle Emploi (estatal). Isto representa um crescimento de 5,8% com relação ao mesmo período de 2013.
Se incluídas as pessoas que realizaram pequenas atividades, biscates ou serviços temporários sem registro o número chega a 5.170.000 de pessoas.
Wikileaks revela manual da CIA para assassinatos. O relatório secreto da agência de espionagem estadunidense analisa diversas operações de assassinato em vários países, principalmente contra líderes afegãos do Talibã, do grupo terrorista Al-Qaida e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Também aparecem como possíveis pontos de ataque dirigentes do grupo libanês Hezbolá, a Organização para a Libertação de Palestina (OLP), Hamas, o grupo guerrilheiro peruano Sendero Luminoso, Os Tigres de Libertação do Tamil Eelam (LTTE), o Exército Republicano Irlandês (IRA) e a Frente de Libertação Nacional de Argélia (FLN).
A publicação do Wikileaks chegou às redes sociais apenas dez dias depois que o Comitê de Inteligência do Senado dos EUA tornasse público um polêmico relatório secreto sobre o emprego da tortura em suas formas mais brutais contra prisioneiros supostamente vinculados a ações terroristas.
O manual revelado pelo Wikileaks data de 7 de julho de 2009, seis meses depois de Leon Panetta assumir a direção da CIA e pouco depois de que o agente John Kiriakou – atualmente preso – denunciasse pela primeira vez a prática de torturas por parte de oficiais interrogadores.
EUA: mais um jovem negro, desarmado, é morto pela polícia. Mais um caso de racismo policial está gerando protestos e muita indignação na cidade de Berkeley, a mesma onde foi assassinado um jovem de 18 anos.
Desta vez, Antonio Martin, um jovem negro, foi assassinado com um tiro mortal durante uma operação policial em uma estação de serviços. Segundo o relato policial, os agentes encontraram dois homens na estação de serviços e um deles teria apontado uma arma para o policial que apenas reagiu. Mas testemunhas confirmam que o jovem estava desarmado.
É uma longa lista de crimes contra negros, todos impunes. Em julho passado, Eric Garner, de 43 anos, morreu depois de ser estrangulado por um policial branco, Daniel Pantaleo, que foi absolvido pela justiça de Staten Island, em Nova Iorque, por “não haver provas”, ainda que tudo tenha sido filmado por populares.
Um mês mais tarde, o policial Darren Wilson matou o jovem negro Michael Brown, de 18 anos. A “justiça” sequer chegou a formular uma acusação contra o policial. No dia 20 de novembro, o policial Peter Liang matou com um tiro o negro Akai Gurley, de 28 anos, no Brooklyn, alegando “legítima defesa”, mesmo estando Akai desarmado. No dia 22 de novembro foi a vez de Tamir Rice, de 12 anos, ser crivado de balas pela Polícia de Cleveland, em Ohio, quando brincava em um parque da cidade. Ele estava com uma arma de brinquedo e os policiais alegaram “legítima defesa”.

A TODOS OS AMIGOS DO INFORMATIVO SEMANAL, UM BOM 2015!

QUE POSSAMOS CONTINUAR SONHANDO E LUTANDO POR UM MUNDO MELHOR!

Entrevista com Julian Assange

“O Google nos espiona e informa o Governo dos Estados Unidos”. Entrevista com Julian Assange

Há 30 meses, Julian Assange, paladino da luta por uma informação livre, mora em Londres, refugiado na Embaixada do Equador. Este país latino-americano teve a coragem de conceder-lhe asilo diplomático quando o fundador do WikiLeaks se encontrava perseguido e acossado pelo Governo dos Estados Unidos e vários de seus aliados (o Reino Unido e a Suécia). O único crime de Julian Assange é ter dito a verdade e ter trazido a público, via WikiLeaks, entre outras revelações, as sinistras realidades ocultas das guerras do Iraque e do Afeganistão, e as maracutaias e intrigas da diplomacia estadunidense.
A entrevista é de Ignacio Ramonet e publicada no Le Monde Diplomatique-Espanha, edição de dezembro de 2014. A tradução é de André Langer.
Como Edward SnowdenChelsea Manning e Glenn GreenwaldJulian Assange faz parte de um novo grupo de dissidentes que, por descobrir a verdade, são agora rastreados, perseguidos e hostilizados não por regimes autoritários, mas por Estados que pretendem ser “democracias exemplares”…
Em seu novo livro, Cuando Google encontró a WikiLeaks [Quando o Google encontrou o WikiLeaks] (Clave Intelectual, Madri, 2014), cuja versão em espanhol está nas livrarias desde o dia 01 de dezembro [a edição brasileira deverá estar nas livrarias em fevereiro de 2015 pela Boitempo], Julian Assange vai mais longe em suas revelações, estupendamente documentadas, como sempre. Tudo começa com uma longa conversa que Assange teve, em junho de 2011, com Eric Schmidt, presidente executivo do Google. Este veio para entrevistar o criador do WikiLeaks para um ensaio que estava preparando sobre o futuro da era digital. Quando o livro foi publicado, com o título The New Digital Era (2013), Assange constatou que suas declarações foram tergiversadas e que as teses defendidas porSchmidt eram consideravelmente delirantes e megalomaníacas.
O novo livro do fundador do WikiLeaks é sua resposta a essas elucubrações do presidente do Google. Entre muitas outras coisas, Assange revela como o Google – e o Facebook e o Amazon, etc. – nos espiona e nos vigia; e como transmite essa informação às agências de inteligência dos Estados Unidos. E como a empresa líder em tecnologias digitais tem uma estreita relação, quase estrutural, com o Departamento de Estado. Assange também afirma que, hoje, as grandes empresas da galáxia digital nos vigiam e nos controlam mais do que os próprios Estados.
Quando o Google encontrou o WikiLeaks é uma obra inteligente, estimulante e necessária. Uma festa para o espírito. Abre-nos os olhos sobre as nossas práticas de comunicação cotidianas quando usamos um smartphone, um tablet, um computador ou quando simplesmente navegamos pela internet com a candidez de quem se acredita mais livre do que nunca. Atenção! Assange nos explica que, como um Pequeno Polegar, você vai semeando rastros de si mesmo e da sua vida privada que algumas empresas, como o Google, recolhem com sumo cuidado e arquivam secretamente. Um dia, poderão utilizar essas informações contra você…
Para conversar sobre tudo isso e sobre algumas outras coisas, nos encontramos com um Julian Assange entusiasta e cansado, em Londres, no dia 24 de outubro passado, em uma acolhedora salinha da Embaixada do Equador. Chega sorridente e pálido, com uma barba ruiva de vários dias, com sua cabeça de anjo pré-rafaelista, cabelos compridos, traços finos, olhos claros… É alto e magro. Fala com uma voz muito baixa e lenta. O que diz é profundo e pensado. Tem um quê de guru… Havíamos previsto conversar não mais de meia hora, para não cansá-lo, mas com o passar do tempo a conversa foi ficando interessante. E, finalmente, falamos mais de duas horas e meia…
Eis a entrevista.
O miolo do seu livro – Quando o Google encontrou o WikiLeaks – é constituído por um encontro seu, em junho de 2011, com Eric Schmidt, o presidente-executivo do Google. Em um determinado momento você diz: “O Google é a companhia mais influente do mundo”. O que entende por “mais influente”?
O que tento dizer é que o mundo está vivendo uma mudança muito profunda, e o Google é a entidade que mais influência tem sobre a essência dessa mudança e talvez sobre a velocidade dessa mudança. Poderíamos nos perguntar inclusive se o Google não é a empresa mais influente em termos absolutos. Disto não estou certo. Há várias megaempresas que poderiam ocupar essa posição – a de ser a mais influente em termos absolutos. Mas ao menos, dentre as empresas de comunicação, sim, é a mais influente em termos absolutos. Outras companhias podem ter muita influência, como a General Electric ou o Raytheon ou a Booz Allen Hamilton ou a ExxonMobil, ou aChevron, mas todas elas têm, mais ou menos, um modelo de negócio estabilizado, e o tipo de influência que exercem não é tão evidente. São muito grandes, sim, mas são estáticas. Ao contrário, o Google está em evolução constante; duplicou seu valor bursátil entre 2011 e este ano, passando de 200 bilhões de dólares para 400 bilhões… E sua penetração na sociedade global, em termos de interação com os indivíduos, aumentou mais do que a de qualquer outra empresa de porte grande.
Mais que as empresas financeiras…?
Sim, não há dúvida.
Você escreve que “o avanço da tecnologia da informação, encarnada pelo Google, anuncia a morte da privacidade para a maioria das pessoas e reconduz o mundo ao autoritarismo”. Você não é muito pessimista?
Não creio que se possa olhar o mundo e decidir se alguém quer fatos otimistas ou pessimistas. Os fatos são como são. Há outros fenômenos que estão sendo produzidos e podemos considerá-los como otimistas, mas não aquilo que o Google está fazendo. Trata-se de outros processos que estão ocorrendo.
Falaremos desses processos mais adiante. Por enquanto queria perguntar: em que você se baseia para afirmar que “as tecnologias do Valei do Silício são um instrumento a serviço da política exterior dos Estados Unidos?
De várias maneiras, como descrevo no livro. Em primeiro lugar, a longa história de colaboração entre o complexo militar-industrial das Forças Armadas dos Estados Unidos e o Vale do Silício. Qualquer pessoa que tenha pesquisado sobre o Vale do Silício sabe que é assim. Noam Chomsky denunciou com contundência o que ocorria noVale do Silício nas décadas de 1970 e 1980. (1) De fato, se olhamos para trás e pensamos em qual era a percepção que se tinha nessa época dos computadores… Eram máquinas enormes que os militares faziam funcionar e colocavam a serviço das grandes empresas estadunidenses. A ideia que a gente se fazia do superpoder dos computadores está refletida em filmes como Colossus. (2) Em todo o caso, os militares, nessa época, pilotavam o desenvolvimento do Estado: ajudando a chegar à Lua, ajudando a construir armas atômicas, ajudando a projetar mísseis ICBM (3), ajudando a acelerar a velocidade dos submarinos nucleares, ajudando o Serviço de Impostos Internos a verificar a situação fiscal de cada pessoa…
Tudo isso mudou quando o Vale do Silício, nos anos 1990, começou a desenvolver um mercado de consumo, a colocar os avanços da tecnologia informática ao alcance do grande público. Foi então quando se começou a criar uma “bolha de percepção” que apresentava as empresas do Vale do Silício como “amigas” das pessoas, “amigas” do consumidor. AppleGoogleAmazon e mais recentemente Facebook estimularam esse aspecto e se beneficiaram com isso. E tudo isso criou uma ilusão… que permitiu obliterar a visão anterior, negativa, que havia a respeito e que a maioria dos acadêmicos tinha com relação ao Vale do Silício, aquele Vale do Silício que colaborava com os militares.
Em segundo lugar, estas novas companhias, como o Google, que descrevo no meu livro, estabeleceram uma estreita relação com o aparelho do Estado em Washington, em particular com os responsáveis pela política exterior. Essa relação é, agora, uma evidência. Têm-na os mais altos executivos do GoogleEric Schmidt (4), Jared Cohen (5)… têm ideias políticas semelhantes e compartilham uma visão de mundo idêntica. E, finalmente, esta associação tão estreita e esta visão de mundo compartilhada entre o Google e a Administração estadunidense estão a serviço dos objetivos da política exterior dos Estados Unidos.
Precisamente, nessa mesma linha, você escreve que quando Eric Schmidt visitou a China, a Coreia do Norte e a Birmânia, em 2013, era evidente que estava realizando uma operação “diplomática encoberta” para Washington. Que provas você tem disso?
Falo baseando-me na minha experiência. Pudemos demonstrar que quando havia um fluxo de informações entre Eric Schmidt e eu, imediatamente essa informação chegava aos níveis mais elevados do Departamento de Estado. (6) E quando Eric Schmidt utilizava a Lisa Shields (7) como canal para fazer contatos comigo, havia, antes disso, um fluxo de informações em sentido inverso, do Departamento de Estado para Eric Schmidt… A respeito deste e de sua diplomacia encoberta com a Coreia do Norte e com alguns países com os quais Washington não quer ser visto mantendo comunicações de forma direta, não sou eu quem faz essa afirmação, eu simplesmente repito e reproduzo as afirmações de outras pessoas. Mas eu, como lhe acabo de dizer, tive uma experiência concreta sobre a sua função de informante do Departamento de Estado; e outras pessoas também souberam avaliar o que Schmidt fez na Coreia do Norte e em outros países.
Há alguns meses, Eric Schmidt esteve em Cuba. (8) Você acredita que também era para realizar uma “diplomacia encoberta”?
Sim, creio que sim.
Você pensa que cometeu um erro quando recebeu, em 2011, Eric Schmidt e seus amigos próximos à Administração estadunidense? Foi ingênuo?
São perguntas interessantes. Eu estou acostumado a me reunir com muitas pessoas de todo tipo, há muito tempo. Por exemplo, jornalistas com antecedentes questionáveis. Mas não tinha tempo para avaliar quais eram suas motivações ao virem me ver. Assim que tratei o encontro com Eric Schmidt e as três pessoas que o acompanhavam [Jared CohenLisa SchieldsScott Malcomson] de forma similar a como sempre havia feito. Obviamente, tive muito cuidado para não revelar detalhes das nossas operações ou os nomes dos membros da minha equipe… Esse tipo de precauções… Se você lê cuidadosamente a transcrição da nossa conversa verá que tento escapulir-me um pouco de algumas perguntas muito incisivas de Eric Schmidt. Por exemplo, quando me pergunta como o WikiLeaks se defendia tecnicamente a si mesmo naquele momento… Em vez de responder, descrevo como o WikiLeaks se defendia… em etapas anteriores!
Mas há muitas coisas que se pode aprender sobre uma pessoa quando esta lhe faz uma visita durante um longo tempo. E neste caso, Eric Schmidt e seus três companheiros, membros do Departamento de Estado, me visitaram durante mais de cinco horas… É um tempo suficientemente longo para poder tirar uma impressão relativamente precisa sobre a saúde de alguém, seu estado de ânimo, o que lhe interessa, de que se ri, etc. E eu, agora, claro, seria um pouco mais cuidadoso se tivesse sabido que esse tipo de informação, recolhida sobre mim por Eric Schmidt, iria diretamente para o Departamento de Estado… Mas, dito isso, essa informação também eu a recolhi sobre ele, e isso me revelou quem era Schmidt, e creio que os leitores também o percebem. Se se analisa cuidadosamente o que ele e as três pessoas que o acompanharam me perguntaram, do que riam, a diferença entre uma risada verdadeira e uma risada falsa… Dá para deduzir coisas…
Por exemplo, está muito claro que Eric Schmidt vê a China como um inimigo… Porque quando eu fiz brincadeiras sobre como, com o WikiLeaks, havíamos enganado a segurança chinesa, o riso de Schmidt foi mais forte e espontâneo, ao passo que em outros momentos seu riso era falso.
Você se decepcionou ao ver a versão truncada dada por Schmidt sobre essa conversa em seu livro? (9)
Senti-me mais decepcionado pelo livro do Schmidt como livro. Isso sim me decepcionou. Mas também foi muito interessante descobrir o que esse livro tentava ser. E, naturalmente, como eu também havia gravado o nosso encontro, tive a experiência pessoal de saber exatamente o que eu havia dito a Schmidt e o que ele reproduziu da nossa conversa em seu livro. Portanto, pude ver o que ele estava tentando fazer. Pude vislumbrar o objetivo deSchmidt quando analisei quais partes da conversa havia conservado, quais havia ocultado e quais havia distorcido. Seu propósito não era me atacar, embora tivesse dito algumas coisas que ferem. O que ele tentava era posicionar oGoogle como o “visionário geopolítico” de que os Estados Unidos necessitavam. Para que as autoridades deWashington acudissem a ele e ouvissem o Google
Você diz que muitos cidadãos criticam a espionagem e o controle exercidos pelo Estado. No entanto, nota que são muito poucos os cidadãos que criticam a vigilância exercida pelas empresas privadas. Esta é tão perigosa como a dos Estados?
Você está pressupondo que haja uma diferença entre o Estado e as grandes empresas privadas? [risos]
Faço-lhe a pergunta… Tenho minha opinião… [risos]
Esta divisão está desaparecendo na maior parte dos países do Ocidente. Mas a cumplicidade é mais clara nosEstados Unidos onde, por exemplo, 80% do orçamento das agências de segurança nacional (10) é destinado à indústria privada. Inclusive a agência de inteligência mais secreta dos Estados Unidos, que faz parte do núcleo mais protegido do Estado, destina 80% do seu orçamento às indústrias do setor privado. Portanto, é interessante perguntar-se por que houve mais investigações sobre a espionagem do Governo do que sobre a espionagem das empresas privadas. Creio que estão ocorrendo duas coisas.
Em primeiro lugar, uma lei geral: quando aumenta o grau de abstração de um problema diminui o número de pessoas que podem entender essa abstração. Por exemplo, quando o Governo estadunidense contrata a empresa militar privada Blackwater (11) para que seus mercenários operem no Oriente Médio, quanta atenção se dá ao número de mercenários que intervieram no Iraque ou no Afeganistão, comparado com o que se publica sobre o número de militares das Forças Armadas? Quanta atenção se dá aos mercenários da Blackwater quando matam alguém ou quando cometem um crime, em comparação com a cobertura midiática que recebe o crime ou o delito cometido por um militar? E, no entanto, o Governo estadunidense, em ambos os casos, é o senhor que dá as instruções e financia as operações. Dá-se lhe um nome diferente, e dar um nome diferente a algo é suficientemente eficaz para esconder a verdade, e dissimular a realidade.
E, segundo, especialmente nos Estados Unidos, há o aspecto ideológico. Por um lado temos a esquerda norte-americana… Quase toda essa esquerda liberal está no Partido Democrata, em um sistema clientelista e, portanto, não está exercendo um exame adequado do que está acontecendo com os excessos do Governo, inclusive a privatização generalizada. E, portanto, temos a parte libertária do Partido Republicano que diz que só o Governo é o problema, e que o setor privado jamais é o problema. No entanto, é o setor privado que dirige, em grande parte, o Governo. E algumas megaempresas, como o Google ou o Goldman Sachs, com seu enorme tamanho e seus monopólios, estão administrando os serviços centrais do Estado como se fossem o próprio Governo… São megaempresas privadas que têm uma cifra de negócios anual superior ao PIB da Nova Zelândia ou de muitos outros Estados.
Do Equador, por exemplo…
Com efeito, do Equador. Se comparamos a empresa petroleira Chevron, que tem um faturamento anual de cerca de 300 bilhões de dólares, e o Equador, que tem um PIB de cerca de 90 bilhões de dólares ao ano… a diferença é abissal. Sabemos que há um conflito entre estas duas entidades. (12) A Chevron procura apresentar o Equador como um “Estado perigoso” que utiliza a força coercitiva para poder reduzir e intimidar uma empresa privada… Mas se consideramos os ingressos, não cabe dúvida de que entre o Equador e a Chevron, é esta que mais recursos têm. Ela é tão grande que poderia associar-se, além disso, ao poder dos Estados Unidos, que também possuem a habilidade de usar a força coercitiva, não de maneira direta, mas indireta, para tratar de intimidar o Equador… Mobilizando, caso for necessário, a chamada “sociedade civil”…
O conceito de “sociedade civil” é uma fábula?
O conceito não é uma fábula, mas a prática o é. Porque a maioria das organizações da chamada “sociedade civil” é financiada para serem agentes do Estado ou das empresas mais poderosas. No meu livro dou muitos exemplos sobre isto, não para provar este ponto, mas para estudar o que o Google faz. A New America Foundation, por exemplo, em Washington, quem a financia? A resposta é: Eric Schmidt pessoalmente, e o Google como companhia, e oDepartamento de Estado, e a Radio Free Asia, e várias outras entidades. Mas as que mencionei são as principais patrocinadoras. E sua diretora-geral, Anne-Marie Slaughter, trabalhou anteriormente como assessora muito próxima de Hillary Clinton no Departamento de Estado, e segue sendo uma assessora atual do Departamento de Estado. E é, ao mesmo tempo, professora em Princeton.
Portanto, aqui temos todos juntos: Eric Schmidt como indivíduo, o Google como companhia, o Departamento de Estado como parte do Executivo dos Estados Unidos. O mesmo acorre com a Radio Free Asia e com o mundo acadêmico representado, em parte, por Anne-Marie SlaughterEric Schmidt é membro da Junta de muitas destas fundações, junto com diretores do Facebook. De longe, parece que o Google e o Facebook são concorrentes. Na realidade, em nível social, não se opõem entre si, mas cooperam em fundações, e também trabalham com o Estado, como no caso da New America Foundation. No livro, entro mais em detalhes nesta fundação porque é a mais significativa do ponto de vista político. É como o “lar político” de Eric Schmidt em Washington. Embora ele e vários executivos do Google estejam envolvidos também em outras fundações que pretendem encarnar a “sociedade civil”.
Você diz que “por trás da fachada da democracia há, na realidade, um poderoso desejo de controlar os cidadãos”. Em que se baseia para fazer essa afirmação?
Tem a ver com sua pergunta com esta falsa “sociedade civil”…?
Sim, é a ideia. O que chamamos de ‘democracia representativa’, na realidade, esconderia, segundo você, um grande desejo de controlar as pessoas…
Com certeza você conhece a famosa afirmação de Noam Chomsky: “Os meios de comunicação são para a democracia o que a propaganda é para a ditadura”.
Sim, duas maneiras de manipular.
É uma parte necessária do sistema de controle.
A esse respeito, fala-me da Total Information Awareness. Não peço que a descreva, o que faz no livro, mas acredita que esse projeto foi realmente abandonado?
Total Information Awareness? Não, não, em absoluto. Dispomos de documentos que o WikiLeaks não publicou ainda sobre a criação da Total Information Awareness. E minha conclusão, após estudar a fundo sua evolução, é que imediatamente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 o complexo dos serviços de inteligência estadunidense quis obter mais poder. Conseguir muitas coisas que quiseram há muito tempo… Embora já fossem muito poderosos… Não é que não houvesse vigilância massiva antes do 11 de setembro, sim a havia. A Agência de Segurança Nacional (NSA) já era como “a grande besta” em Washington, e já reunia uma enorme massa de informações. Mas imediatamente depois do 11 de setembro, o Exército pensou que podia abocanhar parte deste bolo e enfraquecer a NSA. Fizeram essa proposta da Total Information Awareness, com algo chamado MOAD [em inglês Mother Of Oll Databases, “a mãe de todas as bases de dados], que incluía toda a informação que se havia reunido nos Estados Unidos, da CIA, dos satélites e das outras agências de inteligência.
Este projeto foi aprovado imediatamente. Mas a NSA viu esta intromissão do Exército como uma ameaça para o seu próprio poder institucional. Portanto, a NSA lutou contra a Total Information Awareness. E não ganhou inicialmente. Estabeleceu-se uma espécie de cibercomando supremo que não era dirigido pela NSA. E o escritório da Total Information Awareness também não era dirigido pela NSA. Então, a NSA uniu-se aos democratas, com os principais responsáveis democratas, e começaram a atacar esse projeto. Uma vez que o fragilizaram com o pretexto de que, de algum modo, constituía uma ameaça para as liberdades civis, começou a digerir os pedaços, as peças da Total Information Awareness, e a integrá-los na NSA… Finalmente, a NSA absorveu a maior parte dos elementos do projetoTotal Information Awareness. Ou seja, o projeto como tal desapareceu, mas todos os seus objetivos continuam em vigor e fazem parte, agora, das missões da NSA.
Você diz aos seus leitores: “Aprendam como funciona o mundo!”. Mas, onde pode aprender isso?
Em primeiro lugar, comprando e lendo livros… [risos]
Obviamente… e depois?
A revolução das comunicações conectou todas as sociedades umas às outras. Isso significa que conectou os principais espiões, os da NSA, e isso reforçou os aspectos negativos da globalização. Por exemplo, a competência econômica tão agressiva, as transferências financeiras na velocidade da luz… Isso significa que os grupos dominantes, já poderosos, podem agora multiplicar seu poder graças à internet e estendê-lo a todos os países, cujas sociedades estão se fusionando também graças à internet. Mas, por outro lado, este processo, esta mesma revolução tecnológica, permitiu a muitas pessoas, em todas as partes do mundo, educarem-se mutuamente mediante a transferência lateral de informações. E isso nos permite, em princípio, informar-nos melhor e compreender como funciona realmente o mundo.
É o aspecto positivo do que falávamos no princípio…
Sim. A NSA e as organizações de espionagem semelhantes a ela, como o Google e outras empresas cujo negócio é recolher informações privadas, passaram muito tempo extraindo informações das pessoas menos poderosas e arquivando-as para utilizá-las em seu benefício. E isto aumentou seu poder em grande medida. Aumentou o poder daqueles que já tinham muito. É o aspecto negativo.
Mas, por outro lado, essa transferência lateral de informação aumentou o conhecimento e, portanto, o poder de milhões de pessoas. E surgiram várias organizações, não muitas, como o WikiLeaks que se especializam em recolher dados secretos dessas informações super poderosas para disponibilizá-las para todo o mundo, para reequilibrar a falta de igualdade em matéria de poder. De certo modo, não respondi à sua pergunta, mas há tantas formas de aprender agora… E os últimos cinco anos foram a época de maior educação política de todos os tempos, não para todos os países, mas quando se olha esta educação que está sendo produzida simultaneamente em todo o mundo, isso nunca havia acontecido nunca antes.
Acredita realmente que a internet conseguiu acabar com a assimetria da informação?
Sim, mas, como acabo de explicar, as grandes empresas e o Estado estão tentando controlar este fenômeno recolhendo ainda mais informações.
Você diz que “não é o Estado que deve saber tudo sobre os cidadãos, mas os cidadãos que devem saber tudo sobre o Estado”.
Sim, é o que deve ser. A quem importa a transparência? A ninguém, realmente. As pessoas não nascem com o tema da transparência em seus corações. Não pensam na transparência no último instante de suas vidas, antes de morrer.
Com certeza…
As pessoas nascem com desejos de justiça, e antes de morrer, querem ter sido tratadas com justiça. O mesmo acontece com a privacidade. Transparência e privacidade são importantes apenas porque são mecanismos que dão ou tiram poder.
Você afirma que o WikiLeaks contribuiu para a queda de dois ditadores: na Tunísia e no Egito. Está convencido disso?
Muitas pessoas estão convencidas disso.
Está demonstrado?
Os ministros de Ben Ali admitem que a divulgação de cabogramas com informações explosivas pelo WikiLeaksquebrou a espinha dorsal do sistema de Ben Ali. Fica claro que estas divulgações representaram um papel importante. Chegavam no momento propício e em um contexto de grande descontentamento social. Porque, na realidade, o que fez Ben Ali cair foi o próprio Ben Ali.
A própria ditadura, claro…
Sim…
Gostaria de avançar. Você diz que houve as primaveras árabes e as revoltas de jovens mundo afora, desde os Indignados da Espanha até os manifestantes do Occupy Wall Street, “a internet converteu-se em um demos, um povo, que compartilha cultura, valores e aspirações, converteu-se em um lugar no qual a História tem lugar”. Não é excessivo dizer que a internet é um “povo”?
Antes de 2005, a internet era um lugar muito apático. Mas depois, em parte graças ao WikiLeaks, produziu-se uma mudança muito grande.
Mesmo assim, não acredita que é excessivo dizer que “a internet é um demos”?
É excessivo dizer que a internet, em sua totalidade, o seja. Mas há milhões de pessoas na internet – ignoro seu número exato – que se consideram a si mesmas como parte desse demos. Ao contrário, há outros milhões de pessoas que utilizam a internet e não se concebem a si mesmas como parte desse demos da internet. Mas isso não impede que haja milhões de pessoas, repito, que se percebem a si mesmas como fazendo parte desse demos. Conheço, inclusive, pessoas às quais perguntei: “De onde você é?” E algumas me responderam: “Sou da internet”.
Geração internet…
É divertido… Mas dizem-no seriamente, não em tom de brincadeira. Sentem genuinamente que a internet é o lugar de onde emergiu sua cultura pessoal.
Você continua pensando que compartilhar informação é uma maneira de libertar o mundo?
Não há outra esperança. Nunca houve nenhuma outra esperança. A luta sempre foi esta. Que as pessoas tenham informações. Se retrocedermos ao tempo dos gregos, ou aos debates durante o Iluminismo, ou aos enfrentamentos na China, ou às guerras de independência na América Latina, ou às lutas pós-coloniais, o primeiro passo sempre foi: compreender a situação, compreender o que é possível e o que não é possível. Mesmo quando nos afastamos das questões que têm a ver com a distribuição de recursos e o desequilíbrio dos poderes – porque, às vezes, penso que a esquerda se centra exclusivamente nestas questões… Se olharmos simplesmente para o que o ser humano é capaz quando está em suas melhores condições, e do que a civilização é capaz de fazer quando está também em seu melhor momento, qualquer cultura, qualquer civilização… está claro que não se pode fazer um plano para fazer algo a não ser que se pense nesse plano. Só se pode compreender se um plano de ação é válido ou não quando se analisa detalhadamente e se entenda a situação. Só quando que se compreende como funcionam os seres humanos.
Os seres humanos sempre se viram limitados pela falta de conhecimento. Imaginemos que amanhã todo o mundo fique surdo, mudo e cego; as pessoas não podem comunicar-se umas com as outras, nem transmitir seus conhecimentos, nem tampouco aprender do passado, nem dos arquivos escritos, não podem transmitir seus conhecimentos aos seus filhos, nem ao futuro. Imaginemos essa situação extrema… Então, as pessoas seriam como coelhos ou como pedras… Mas também podemos imaginar outra postura onde a aquisição de conhecimentos seria muito mais importante, e a educação muito melhor que agora, e a comunicação de maior qualidade e mais honesta que agora… Pois bem, neste momento nos encontramos entre esta posição elevada e a de sermos meras pedras… Há cinco mil anos, talvez, estávamos em um nível muito baixo, agora subimos um pouco, mas ainda nos resta muito para subir para alcançar, graças a uma educação e informações adequadas, um nível humano realmente superior.
Você falava antes de transparência. Um ex-ministro socialista francês de Relações Exteriores, Hubert Védrine, criticando o WikiLeaks, disse: “A transparência absoluta é o totalitarismo”. O WikiLeaks também foi acusado de “violar a vida privada dos Estados”. Pensa que deve haver limites à difusão de informações ocultas sobre os Estados?
Quando os responsáveis políticos, nos Governos, se queixam da transparência, me dá vontade de rir. Por trás dessas acusações há algo que é como dizer: eu penso que as pessoas não deveriam roubar. Pode-se acreditar nisso ou não. Mas na realidade não importa, porque não somos deuses, e os Estados também não o são. Na prática, sabemos que os Estados não podem autorregular-se para evitar que se tornem “maus”. Em consequência, os Estados devem ser regulados por outras instâncias, por pessoas que estão dentro desse Estado e por pessoas de fora do aparelho desse Estado. Isto é uma evidência, foi proposta por muitos humanistas.
Uma instituição que se autorregula, que não tem regulação externa, condena-se a cometer excessos ou à corrupção. Por isso, em termos práticos, algumas instituições do Estado, como a polícia que investiga as máfias, por exemplo, deve agir de forma profissional para garantir que suas investigações não sejam questionadas. Sem dúvida, oWikiLeaks age de forma profissional e verifica que a identidade de nossas fontes não se veja comprometida, ou a identidade da nossa equipe, do nosso pessoal, nunca seja revelada. E nunca foi. Mas manter os nossos segredos não é a responsabilidade de toda a sociedade. De forma similar, não é pelo fato de que a polícia ou as agências de inteligência agem de forma incompetente, os editores da imprensa ou os cidadãos devem censurar-se mutuamente.
Você diz que o WikiLeaks deu ao mundo “uma lição de jornalismo”, e que em relação aos meios de comunicação “seria preciso destruí-los todos” e substituí-los. Não é, também aqui, um pouco excessivo?
Eu trabalhei com os meios de comunicação como jornalista, como editor, em concorrência com outras publicações e, assim como todo o mundo, como consumidor ou leitor. Mas, também tive a experiência de algo que pouca gente experimentou, inclusive pouquíssimos jornalistas, que é padecer os meios de comunicação como sujeito, quando os meios falam de mim. E, portanto, desenvolvi uma percepção muito aguda sobre a sua falta de profissionalismo; comprovei que têm muitos preconceitos e que estão a serviço do poder dominante ao qual prestam contas. Embora, entre os jornalistas que trabalham para os veículos de comunicação dominantes, haja os bons, as limitações institucionais são muito severas e quase inevitáveis. Essencialmente, o poder os corrompe. E quando uma organização midiática se converte em influente, inclusive simplesmente porque está fazendo bem o seu trabalho, converte-se em poderosa e, em consequência, convida outras pessoas para que trabalhem para ela, e, essas pessoas, por sua, são convidadas por outros grupos sociais poderosos para que se sentem com eles num mesmo nível social, num mesmo nível de negócios e para trocar informações. E este processo é simplesmente um processo de sedução e de captação ao qual a maioria dos seres humanos não consegue resistir. Resultado: todo grupo midiático que tem influência e que a exerceu durante muitos anos já não é capaz de prestar informação de forma honesta.
Queria perguntar: que relação você tem com Edward Snowden atualmente? Se não for um segredo?
Não é nenhum segredo o fato de que o WikiLeaks, o fato de que eu e outras pessoas do WikiLeaks conseguimos tirar o Edward Snowden de Hong Kong para colocá-lo em um lugar seguro. Tem asilo na Rússia e agora montou uma organização em defesa das fontes dos jornalistas, que se chama Courage Foundation. Em relação a como nos comunicamos… Aí não posso entrar… Mas é interessante o motivo pelo qual não posso entrar nisso: é porque há um Grande Jurado nos Estados Unidos investigando o caso de Snowden, e os agentes do FBI vinculados a esse Grande Jurado andaram fazendo perguntas sobre o papel que Sarah Harrison (13) e eu, e outros membros do WikiLeaks, tivemos no caso de Edward Snowden. Mas estamos orgulhosos e muito contentes com o fato de que Snowden tenha asilo seguro. Sua família agora reuniu-se com ele na Rússia. E tem liberdade de movimento no maior país do mundo. Possui documentação para viajar. Ainda tem que ter muito cuidado na hora de sair da Rússia, devido às tentativas dosEstados Unidos para capturá-lo… Mas sempre e quando for muito cuidadoso no que faz, encontra-se em uma boa situação agora. E isto é um incentivo muito importante para que lançadores de alerta como ele deem um passo à frente e façam o mesmo que ele fez.
Você compartilha com Snowden o fato de ser, por sua vez, um dos homens mais perseguidos pelos Estados Unidos, e também ser considerado como um “herói do nosso tempo” por muita gente.
Sim… Nenhuma boa ação fica impune… [risos]
Você está disposto a negociar com os Estados Unidos para colocar um fim a esta situação?
Em relação aos Estados Unidos, tentamos negociar, e meus advogados, em Washington, negociaram. ODepartamento de Justiça estadunidense nega-se a falar com meus representantes. E a última atualização doDepartamento de Justiça diz que a investigação a meu respeito está em andamento, mas se negam a me informar, comunicam-no diretamente ao Tribunal, mas não querem falar com os nossos advogados nem comigo. E o Governo do Equador, enquanto Estado, tentou falar com o Governo estadunidense sobre esta questão. E também neste caso o Governo dos Estados Unidos se nega a entabular conversações.
Em junho passado, você anunciou publicamente que logo sairia daqui…
Não fui eu que fiz esse anúncio, mas os meios de comunicação.
Ah! Outra prova das “mentiras da imprensa”… [risos] Quando pensa em sair daqui?
Tenho muita confiança. A situação legal está absolutamente clara. Temos vários processos, entramos com uma dúzia de processos diferentes em diferentes jurisdições, que estão avançando. Sobre a metade delas estamos na ofensiva. Por exemplo, entramos com um processo penal contra as operações de inteligência contra mim na Suécia, outro contra as operações militares dos Estados Unidos contra nós na Alemanha, outro na Dinamarca contra a cooperação ilegal entre a inteligência dinamarquesa e o FBI contra nós. E em outro processo penal, na Islândia, também tivemos êxito e conseguimos fazer prender um confidente do FBI, que informava contra nós. Mas também entrei com um recurso de apelação na Suécia e esperamos algum resultado positivo.
Legalmente, a situação está muito clara há tempo. Por outro lado, à medida que o tempo passa, os Estados Unidos e o Reino Unido começam a tomar certa distância em relação ao tema do WikiLeaks… Agora, por exemplo, estão muito ocupados com a Organização do Estado Islâmico… No Reino Unido, além disso, há as eleições do ano que vem. E na Suécia há um novo Governo.
Socialdemocrata…
Sim, mas não devemos esquecer que foi um Governo socialdemocrata que tomou a decisão de colaborar com a CIAem 2001. (14) Na Suécia, não há muita diferença entre a centro-direita e a centro-esquerda… A realidade é que, emEstocolmo, estão agora em um período de transição. E durante um período de transição a pressão sobre o sistema judiciário não é tão grande, porque o novo Governo está em formação. No Reino Unido temos várias facções que estão do meu lado, e isto resultou em uma mudança na legislação. Devemos recordar que estive preso aqui sem acusações durante quatro anos, mas também não há acusações contra mim nos Estados Unidos, nem na Suécia
Isso é incrível para a maioria das pessoas, não acreditam que isso possa ser verdade. E eu também não creio que isso possa ser possível, mas, no entanto, é o que acontece comigo. Estive preso sem acusações durante quatro anos… E tentam me extraditar sem acusações… Por sorte, houve um reconhecimento, por parte do Reino Unido, doSupremo Tribunal, de que isso foi um abuso que, com a legislação anterior, não era possível evitar. Em consequência, o Parlamento modificou a lei. E agora já não é possível uma extradição sem acusação no Reino Unido.
Fizeram um caso especial com a sua questão?
Não. Embora haja um problema: essa nova lei não é retrospectiva. Essa cláusula de não retrospectividade foi introduzida na nova lei depois que um artigo no London Independent disse que se fosse aprovada a nova lei assim como está redigida, Assange ficaria livre. Provavelmente, não é legal, porque essa cláusula foi introduzida unicamente para causar um prejuízo a uma pessoa em concreto.
Mas não se pode fazer uma lei para uma única pessoa…
Bom, fizeram uma armadilha, não colocaram o meu nome, mas descrevem minhas circunstâncias exatas. [risos]
Vão chamá-la de “emenda Assange”, penso…
Meus advogados brincam. Dizem que é “a exceção Julian à lei Assange”. [risos] Mas estou confiante. Sou otimista.
Notas:
(1) Leia-se a entrevista com Noam Chomsky (realizada no dia 15 de agosto de 2012 por Jegan Vincent de Paul), “Noam Chomsky on Government, Silicon Valley and the Internet”.
(2) Colossus: The Forbin Project (Colossus: o Projeto Forbin), 1970. Diretor: Joseph Sargent. Filme de ficção-científica que conta como o Governo dos Estados Unidos cede a defesa do país a um supercomputador que, por sua vez, contata o supercomputador dos soviéticos, chamado Guardian, para formar um hipercomputador que toma consciência do seu poder e assume o controle do mundo.
(3) Míssil Balístico Intercontinental.
(4) Depois de ter sido, de 2001 a abril de 2011, diretor-executivo (conselheiro delegado) do GoogleEric Schmidt é, desde 04 de abril de 2011, presidente-executivo do Conselho de Administração do Google.
(5) Jared Cohen é diretor do Google Ideas, um think tank patrocinado pelo Google e dedicado a “identificar os desafios globais e a determinar quais soluções tecnológicas poderão ser aplicadas”. Foi assessor de Condoleezza Rice e de Hilary Clinton, secretárias de Estado (ministras de Relações Exteriores), respectivamente de George W. Bush e de Barack Obama.
(6) Ministério de Relações Exteriores dos Estados Unidos.
(7) Lisa Shields, diretora de comunicações do Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores), othink tank mais importante de Relações Exteriores, vinculado aos democratas do Departamento de Estado; noiva deEric Schmidt.
(8) Cf. “Presidente executivo do Google visita Cuba”, 14ymedio, Havana, 28 de junho de 2014.
(9) Eric Schmidt, Jared CohenThe New Digital Age. Reshaping the Future of People, Nations and Business [A nova era digital. Remodelando o futuro das pessoas, dos países e dos negócios], 2013.
(10) A United States Intelligence Community reúne 17 agências de segurança, entre elas a CIA, a NSA, a DEA e o FBI.
(11) A Blackwater USA (que depois mudou o nome e passou a se chamar Blackwater Worldwide, e que agora se chama Academi) é uma sociedade militar privada estadunidense considerada o “Exército privado mais poderoso do mundo”. Interveio em apoio das Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão.
(12) Leia-se Ignacio Ramonet, “Ecuador y la mano sucia de Chevron”, Le Monde diplomatique em espanhol, dezembro de 2013.
(13) Jornalista britânica, pesquisadora em temas de direito e conselheira jurídica de Julian Assange.
(14) Em 2001, a Suécia viu-se salpicada por um escândalo de torturas a dois cidadãos egípcios durante um voo secreto da CIA que partiu rumo ao Cairo saído do país escandinavo, governado então por uma coalizão de esquerda presidida pelo primeiro-ministro socialdemocrata Göran Persson.