Cuba: um modelo de acordo com a Organização Mundial da Saúde
Salim Lamrani | Paris - 29/07/2014 - 15h07 Opera Mundi
De acordo com o organismo das Nações Unidas, o sistema de saúde de Cuba serve de exemplo para todos os países do mundo
O sistema de saúde cubano é mundialmente reconhecido por sua excelência
e eficiência. Apesar de recursos muito limitados e do impacto dramático
causado pelas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos há mais
de meio século, Cuba conseguiu universalizar o acesso à saúde para todas
as categorias da população e obteve resultados semelhantes aos das
nações mais desenvolvidas.
Durante sua visita recente a Havana, Margaret
Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, elogiou o sistema
de saúde cubano e se declarou impressionada com as conquistas nessa
área. “Cuba é único país que eu vi que tem um sistema de saúde
estreitamente relacionado com a pesquisa e o desenvolvimento em um
circuito fechado. Essa é a direção certa porque a saúde humana não pode
melhorar se não há inovação”, enfatizou. Destacou “os esforços da
administração desse país em colocar a saúde como pilar essencial do
desenvolvimento”.[1]
Cuba baseia seu sistema na medicina preventiva e os resultados são
excepcionais. Segundo Margaret Chan, o mundo deve seguir o exemplo da
ilha nesse campo e substituir o modelo curativo, pouco eficiente e
custoso, por um sistema baseado na prevenção. “Desejamos ardentemente
que todos os habitantes do planeta possam ter acesso a serviços médicos
de qualidade, como em Cuba”, destacou.[2]
Wikimedia Commons
Sede da Escola Latino-americana de Medicina, em Cuba
Sede da Escola Latino-americana de Medicina, em Cuba
A
OMS lembra que a falta de atenção médica no mundo não é de nenhuma
maneira uma fatalidade advinda de falta de recursos. Traduz, em vez
disso, a falta de vontade política dos dirigentes de proteger as
populações mais vulneráveis. A organização cita o caso da ilha do Caribe
como o perfeito exemplo contrário[3]. Por isso, em maio de 2014, Cuba presidiu a 67ª Assembleia Mundial da Saúde, como reconhecimento pela excelência em seu sistema
de saúde.[4]
Com
uma taxa de mortalidade infantil de 4,2 por mil, Cuba tem o melhor
indicador do continente e do Terceiro Mundo, refletindo assim a
qualidade de seu sistema e o impacto sobre o bem-estar das crianças e
das mulheres grávidas. A taxa de mortalidade de Cuba é inclusive
inferior à dos Estados Unidos e se encontra entre as mais baixas do
mundo.[5]
Com uma expectativa de vida de 78 anos, Cuba é um dos melhores alunos
do continente americano e do Terceiro Mundo, com um indicador semelhante
ao das nações mais desenvolvidas. Em 2025, Cuba terá a maior proporção
de pessoas de mais de 60 anos da América Latina.[6]
Cuba também beneficia as populações do Terceiro Mundo em seu sistema de
saúde. De fato, desde 1963, Cuba manda médicos e outros funcionários da
saúde para os países do Terceiro Mundo para atender aos deserdados.
Atualmente, cerca de 30 mil colaboradores médicos trabalham em mais de
60 países do planeta.[7]
O exemplo emblemático dessa solidariedade em relação aos despossuídos é
a Operação Milagre, que foi lançada por Fidel Castro e Hugo Chávez em
2004. Essa campanha humanitária, elaborada a nível continental no marco
do projeto de integração da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa
América (ALBA), consiste em operar gratuitamente os latino-americanos
pobres que sofrem de cataratas e outras enfermidades oculares.[8]
Em
uma década, cerca de 3,5 milhões de pessoas recuperaram a visão graças
ao internacionalismo cubano. Esse programa
social, criado em um primeiro momento para a Venezuela, se estendeu
para todo o continente com o objetivo de operar 6 milhões de pessoas.
Além das operações cirúrgicas, a Missão Milagre dá óculos e lentes de
contato a pessoas vítimas de problemas de vista.[9]
No total, cerca de 165 instituições cubanas participam da Operação
Milagre, que dispõe de uma rede de 49 centros oftalmológicos e 82
centros cirúrgicos em 14 países da América Latina: Bolívia, Costa Rica,
Equador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Granada, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, São Vicente e Granadinas, Venezuela e
Uruguai[10].
A
solidariedade médica cubana também se estende até a África. Em 2014, a
Labiofarm, empresa de produção química e biotecnológica cubana, lançou
uma campanha de vacinação contra a malária na África ocidental, em nada
menos que 15 países. [11]
Segundo a OMS, esse vírus, que afeta majoritariamente as crianças,
custa a vida de nada menos
de 630 mil pessoas por ano, “a maioria crianças de menores de cinco
anos que vivem na África”. “Isso significa que mil crianças morrem a
cada dia de malária”, lembra a Organização.[12]
Da mesma maneira, Cuba forma jovens médicos do mundo inteiro na Escola
Latino-americana de Medicina (ELAM). Desde a sua criação, em 1998, a
ELAM formou mais de 20 mil médicos de mais de 12 países. Atualmente, 11
mil jovens procedentes de mais de 13 países cursam medicina na
instituição cubana. Segundo Ban Ki Moon, secretário-geral das Nações
Unidas, a ELAM é a “escola médica mais avançada do mundo”.
Também
elogiou os médicos cubanos que trabalham em todo o mundo, e,
particularmente, no Haiti. “Chegam sempre primeiro e são os últimos a ir
embora, e permanecem depois da crise. Cuba pode mostrar a todo o mundo
seu sistema de saúde, um modelo para muitos países”.[13]
Ao citar o exemplo de Cuba, a Organização Mundial da Saúde enfatiza que
é possível para um país do Terceiro Mundo com recursos limitados
elaborar um sistema de saúde eficiente e oferecer proteção social a
todas as populações,
se existe vontade política de situar o ser humano no centro do projeto
de sociedade.
*Doutor
em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é
professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista,
especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último libro
se chama “The Economic War Against Cuba. A Historical and Legal Perspective on the U.S. Blockade”, New York, Monthly Review Press, 2013, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
Página no Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
[1] Prensa Latina, « Directora de OMS reconoció labor de Cuba en materia de salud », 16 de julho de 2014.
[2] Agencia Cubana de Noticias, « World Health Organization Praises Cuba’s Achievements », 14 de julho de 2014.
[3] Prensa Latina, « Directora de OMS reconoció labor de Cuba en materia de salud », op. cit.
[4] EFE, « Directora general de la OMS está en Cuba para ver avances en investigaciones », 15 de julho de 2014.
[5] EFE, « Cuba cierra 2013 con la tasa de mortalidad infantil más baja de su historia », 2 de janeiro de 2014.
[6] Oscar Alfonso Sosa, « Crece esperanza de vida geriátrica en Cuba”, Cubadebate, 29 de abril de 2014.
[7] Salim Lamrani, Cuba: les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, p. 49.
[8]Cubadebate, « La Misión Milagro
cumple hoy diez años : ha devuelto la vista a 3,4 millones de personas », 8 de julho de 2014.
[9] Ibid.
[10] Ibid.
[11] Agencia Cubana de Noticias, « Cuba’s LABIOFARM Launches Malaria Campaign in Western Africa », 30 de maio de 2014.
[12] Organisation mondiale de la santé, « World Malaria Report 2013 », 2013, p. v. http://www.who.int/malaria/publications/world_malaria_report_2013/report/en/ (site consultado dia 19 de julho de 2014).
[13] Nyliam Vásquez García, « La escuela médica más avanzada del mundo », Juventud Rebelde, 28 de janeiro de 2014.
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