sábado, 12 de setembro de 2015

De repente, a esquerda 'is back'

12/09/2015 - Copyleft

De repente, a esquerda 'is back'

De repente, não mais que de repente, uma centelha de esperança: Jeremy Corbyn venceu a eleição para a liderança do Partido Trabalhista britânico.


Flavio Aguiar
Chris Beckett / Flickr
Pelo mundo afora, a direita rola e deita. Na Alemanha, incendeia casas à noite e urina em famílias num trem em pleno dia. Na França, papai Le Pen, deserdado pela filha (!) Marine, quer fundar um novo partido, mais retrógrado do que o que fundara antes. Na Hungria, o governo xenófobo ergue muros e promete prender quem os atravessar. Não para fugir, como nos antigos tempos da DDR em Berlim, mas para entrar… Uma jornalista de um canal de direita distribui pontapés contra crianças e adultos dos refugiados, e é elogiada por sectários no Brasil. A Macedônia também ergue seus muros. A mídia Ocidental pró-Mercado elogia a Espanha e o México e desce o cacete no Brasil e nos BRICS. Parlamentares de um Congresso desacreditado, no Brasil, abrem chamada pelo impeachment de uma presidenta eleita legitimamente, enquanto seletivamente agentes da PF e da mídia, irmanados, miram no ex-presidente Lula. Na Europa, durante um semestre inteiro, Bruxelas, Frankfurt e Berlim se esmeraram em dobrar e desacreditar o governo de esquerda da Grécia, com sucesso. Enfim, um Carnaval dos Esqueletos.

De repente, não mais que de repente, uma centelha de esperança.

No sábado, 12, saiu o resultado da eleição para a liderança do Partido Trabalhista britânico (Labour), às 12:30, hora local, 08:30, hora de Brasilia. E deu-se o já esperado, como vitória para uns, catástrofe para outros. O esquerdista Jeremy Corbyn venceu no primeiro turno: 59% dos votos. Seus adversários, todos ligados ao establishment direitista do partido, ficaram assim: Andy Burnham, 19%, Yvette Cooper, 17%, e Liz Kendall, 4%.

Em junho, quando sua candidatura foi lançada, os prognósticos eram de 100 contra um nas chances de sua eleição. O que aconteceu? Primeiro, os sindicatos se mobilizaram de um modo como não se via desde os tempos de Margareth Thatcher, que destruirá seu poder de fogo judicialmente quando da greve (derrotada) dos mineiros de carvão. Segundo, o partido passou a cobrar uma taxa de apenas 3 libras para quem quisesse votar. Terceiro, os outros candidatos não conseguiram mobilizaram essa massa de novos votantes. Segundo pesquisas,  de 105 mil novos inscritos, 88.499 votaram em Corbyn.

Este promete lutar contra a desigualdade social, contra os planos de austeridade, contra os desmandos do sistema financeiro. Alem disto, ele é um conhecido militante pacifista, anti-nuclear e anti-intervenções militares sem licença da ONU. Promete lutar contra a “punição dos pobres” pelos desmandos econômicos dos últimos tempos na Europa e no Reino Unido.

Esta é uma inflexão decisiva no Labour e na Europa, desde a rendição aos princípios neoliberais promovida por Tony Blair e sua terceira via. A direita trabalhista argumenta que a vitoria de Corbyn é um desastre eleitoral para o partido. Mas não consegue reconhecer seu próprio papel em reduzir o poder do partido ao torna-lo uma copia descorada do ideário conservador, rompendo sua aliança com o mundo sindical e do trabalho.

Mas como dizem alguns analistas, vencer este pleito foi a parte mais fácil para Corbyn. Agora vem o mais difícil: manter a unidade do partido, rachado entre uma base que apoia maciçamente o vencedor, e um corpo parlamentar também maciçamente contrário a ele. Depois, apresentar-se como um politico consistente contra a hegemonia neoliberal que campeia no espaço politico institucional europeu.

O impasse a que chegara a Syriza na Grécia rebaixara as expectativas do Podemos na Espanha. Elas agora estão reerguidas, conforme atesta a entusiasta saudação da vitória de Corbyn feita pela liderança do novo partido espanhol.


Créditos da foto: Chris Beckett / Flickr

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