O GOLPE, A
ELITE E A MÍDIA
Sebastião Costa*
Corria o ano da graça de 1998 e o príncipe andava pra
lá de preocupado com sua reeleição. Preocupações econômicas - PIB crescendo a
0,1%, as reservas cambiais minguadas e a dívida externa de 100 bilhões pulando em um ano para 180 bi. Num ano eleitoral e a SELIC
beirando os 40%, a inflação insistindo em ficar nos dois dígitos e a BOVESPA
com incrível queda de 33%. Sem falar nas três visitas ao FMI. Um caos! Até a
imprensa(direita volver) tradicional começou a botar as unhas de fora. Falava
de seca no Nordeste, desemprego e vejam só, até de privataria. Pra completar o
inferno astral do tucano, Lula subindo toda semana nas pesquisas.
O que fez o “príncipe”? Paulo Henrique Amorimno livro O Quarto Poder, fala na convocação
de um grupo de pessoas muitíssimo
influentes, descritas por um assessor como os 'barões da elite brasileira'. Sem
muitos rodeios, o presidente foi no coração da seleta plateia:"Eu não sou
candidato de mim mesmo. Isso comigo não existe. Ou eu tenho apoio, ou volto pra
casa e deixo a farra por conta de vocês". Deu no que deu! Enquanto avoz de
Lula era proibida nos telejornais da Globo, as agruras da economia
desapareceram do noticiário e o “príncipe”, sem sobressaltos, aplicou uma imensa
goleada já no primeiro turno.
Mas aí chegou 2002 e Lula desembestado na frente em
todas as pesquisas. Para complicar mais a situação dos tucanos, o destemido
Ciro Gomes com sua verborragia sem cabresto, começou a surgir como candidato ao
segundo turno, deixando Serra num longínquoterceiro lugar. E o que fez o
príncipe dessa vez? Vejamos PHA na mesma obra: "Reuniu em São Paulo,
Antônio Ermírio de Moraes, Olavo Setúbal e o filho Roberto, Joseph Safra entre
outros e disse que ia lavar as mãos. Ele, FHC já fez o que tinha que fazer:
derrotar Lula duas vezes". Entraram em ação A mídia e "um jovem
banqueiro que encomendou pesquisa aoIBOPE" e em duas semanas Ciro caiu em
desgraça e Serra foi ao segundo turno.
É assim que funciona!
Corte para
2015/2016. Lá pelos meses de outubro, novembro, banqueiros e várias
personalidades do mundo empresarial não enxergavam motivações consistentes para
o impeachment da presidenta. Foi só viraro ano e os homens passaram a falar
outro idioma. O fato é que o próprio Eliseu Padilha, braço direito de Temer,
admitiu com todas as letras, que a turma da FIESP disponibilizou jatinhos para
garantir a participação dos deputados na farsa do golpe e muitos aliados do
governoadmitiram, sem reservas, terem
sofrido pressão do empresariado (financiamento de campanha?).O ministro da
Justiça, Eugênio Aragão, já admitiuinclusive, que vai acionar a PF para investigar compras de votos para favorecer o projeto do impeachment.
Fala-se muito
no Brasil atual em golpe parlamentar, feito o Paraguai de Lugo. A bem da
verdade, uma observada mais atenta no cenário político, fica fácil visualizar
uma participação ativa, competente e persistente do Sistema Globo, Veja e os
jornalões, Folha e Estadão,lembrando com insistência a Venezuela de 2002, quando os barões da mídia local desferiram
um golpe no presidente Chávez.
Talvez para ser
mais fiel às condições que foram e estão sendo conduzidas as ações do
impeachment de Dilma, mais adequado seria falar numa junção dos golpes
venezuelano com o paraguaio e aí poderíamos falar em golpe
midiático-parlamentar, com a participação efetiva, desenfreadae escancarada da
elite nacional.
Um simples repeteco de 54 e 64!
* Médico
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