quarta-feira, 27 de abril de 2016

O GOLPE, A ELITE E A MÍDIA




O GOLPE, A ELITE E A MÍDIA
Sebastião Costa*
Corria o ano da graça de 1998 e o príncipe andava pra lá de preocupado com sua reeleição. Preocupações econômicas - PIB crescendo a 0,1%, as reservas cambiais minguadas e a dívida externa de 100 bilhões pulando em um ano para 180 bi. Num ano eleitoral e a SELIC beirando os 40%, a inflação insistindo em ficar nos dois dígitos e a BOVESPA com incrível queda de 33%. Sem falar nas três visitas ao FMI. Um caos! Até a imprensa(direita volver) tradicional começou a botar as unhas de fora. Falava de seca no Nordeste, desemprego e vejam só, até de privataria. Pra completar o inferno astral do tucano, Lula subindo toda semana nas pesquisas.
O que fez o “príncipe”?  Paulo Henrique Amorimno livro O Quarto Poder, fala na convocação de  um grupo de pessoas muitíssimo influentes, descritas por um assessor como os 'barões da elite brasileira'. Sem muitos rodeios, o presidente foi no coração da seleta plateia:"Eu não sou candidato de mim mesmo. Isso comigo não existe. Ou eu tenho apoio, ou volto pra casa e deixo a farra por conta de vocês". Deu no que deu! Enquanto avoz de Lula era proibida nos telejornais da Globo, as agruras da economia desapareceram do noticiário e o “príncipe”, sem sobressaltos, aplicou uma imensa goleada já no primeiro turno.
Mas aí chegou 2002 e Lula desembestado na frente em todas as pesquisas. Para complicar mais a situação dos tucanos, o destemido Ciro Gomes com sua verborragia sem cabresto, começou a surgir como candidato ao segundo turno, deixando Serra num longínquoterceiro lugar. E o que fez o príncipe dessa vez? Vejamos PHA na mesma obra: "Reuniu em São Paulo, Antônio Ermírio de Moraes, Olavo Setúbal e o filho Roberto, Joseph Safra entre outros e disse que ia lavar as mãos. Ele, FHC já fez o que tinha que fazer: derrotar Lula duas vezes". Entraram em ação A mídia e "um jovem banqueiro que encomendou pesquisa aoIBOPE" e em duas semanas Ciro caiu em desgraça  e Serra foi ao segundo turno.
É assim que funciona!
 Corte para 2015/2016. Lá pelos meses de outubro, novembro, banqueiros e várias personalidades do mundo empresarial não enxergavam motivações consistentes para o impeachment da presidenta. Foi só viraro ano e os homens passaram a falar outro idioma. O fato é que o próprio Eliseu Padilha, braço direito de Temer, admitiu com todas as letras, que a turma da FIESP disponibilizou jatinhos para garantir a participação dos deputados na farsa do golpe e muitos aliados do governoadmitiram,  sem reservas, terem sofrido pressão do empresariado (financiamento de campanha?).O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, já admitiuinclusive, que vai  acionar a PF para   investigar compras de votos  para favorecer o projeto do impeachment.
 Fala-se muito no Brasil atual em golpe parlamentar, feito o Paraguai de Lugo. A bem da verdade, uma observada mais atenta no cenário político, fica fácil visualizar uma participação ativa, competente e persistente do Sistema Globo, Veja e os jornalões, Folha e Estadão,lembrando com insistência a Venezuela  de 2002, quando os barões da mídia local  desferiram  um golpe no presidente Chávez.
 Talvez para ser mais fiel às condições que foram e estão sendo conduzidas as ações do impeachment de Dilma, mais adequado seria falar numa junção dos golpes venezuelano com o paraguaio e aí poderíamos falar em golpe midiático-parlamentar, com a participação efetiva, desenfreadae escancarada da elite nacional.
Um simples repeteco de 54 e 64!

* Médico

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