sábado, 25 de junho de 2016

As controversas bases estadunidenses na Argentina


 

Não é porque a gente não sabe, ou não enxerga, que não existe...

     Tânia Franco

Terça-feira, 21 de junho de 2016

As controversas bases estadunidenses na Argentina

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Um assunto que curiosamente tem sido muito pouco debatido pela grande mídia brasileira diz respeito ao acordo que prevê a instalação de duas bases militares estadunidenses na Argentina, uma em Ushuaia, na Terra do Fogo, extremo sul do continente americano, e outra na Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai.
 
Um pouquinho de geopolítica não faz mal a ninguém, a não ser que você não queira mesmo perceber que os diferentes interesses que fazem o mundo girar vão muito além de seu pequeno umbigo.
 
Ainda que o Brasil possua suas peculiaridades, analisar a situação de nosso país de uma forma totalmente isolada representa um erro grotesco de avaliação. Em outras palavras, não podemos deixar de considerar as diferentes instâncias da crise nacional sem que analisemos os pormenores que envolvem o atual contexto da economia global. Ou ainda, não devemos sequer desprezar que acontecimentos como o ressurgimento dos movimentos de direita estão diretamente relacionados a essa tendência em que o conservadorismo se revela e se expande em âmbito internacional.
 
Se você desconfiava da liderança de nossa política externa em relação aos países sul-americanos, certamente não percebeu que as estratégias adotadas desde o governo Lula representavam não só o fortalecimento de laços culturais ou o estabelecimento de programas de cooperação mútua com nações amigas, mas também uma forma de consolidação da presença brasileira como potência regional. Mas se você também acreditava que essa aproximação pudesse representar algum tipo de ameaça de implantação de um regime bolivariano (ou qualquer outra baboseira do gênero), tenho certeza que sequer notou que, ao mesmo tempo em que estranhamente os Estados Unidos se calavam diante da crise política brasileira, a recente visita do presidente estadunidense à Argentina de Macri servia para delinear um acordo para a instalação das duas bases militares no país vizinho.
 
Ao contrário do que tenho visto nas escassas matérias que abordam este assunto, entendo que o estabelecimento do aparato de guerra dos Estados Unidos numa área de importância estratégica para o Brasil representa muito mais do que a possibilidade de perdermos uma posição de liderança ou de nos enfraquecermos como potência regional, algo que não faz tantos anos assim era alvo de disputa e desavenças com nuestros hermanos.
 
Diante da importância da situação, se depois disso tudo você continua a não dimensionar que essa nítida demonstração da força e onipresença ianque nesta porção do continente americano evidencia uma situação de risco à soberania nacional, lembre-se que a ousadia de rompimento dos grilhões de todo um passado de submissão, adulação e dependência levado a cabo com alguns posicionamentos brasileiros adotados no decorrer dos últimos anos - como a rejeição à criação da ALCA ou a adesão ao grupo dos BRICS como uma outra alternativa de desenvolvimento - são motivos mais do que suficientes para desagradar e contrariar os interesses estadunidenses na América Latina.
 
Depois disso tudo, se ainda assim você acha que tudo isso é exagero de minha parte, não se esqueça que a postura do atual ministro das Relações Exteriores tem nos dado provas contundente de que esse governo de mentirinha instaurado no Brasil obedece a mesma cartilha muito bem aprendida pelo presidente argentino, que, por sinal, vem fazendo o jogo duplo para que as circunstâncias lhes favoreçam.
 
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Créditos da imagem: Politico Magazine
 
Leia a seguir um artigo publicado na página Sputnik Brasil em 25 de maio último que levanta algumas questões de extrema relevância sobre o tema.
 
Macri abre Argentina para duas bases estratégicas dos EUA: Cone Sul em perigo?
 
A visita do presidente Barack Obama a Buenos Aires selou um acordo com o chefe de Estado argentino Mauricio Macri para a instalação de duas bases dos EUA no país: uma em Ushuaia, na Terra do Fogo, e outra na Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai. Estaria o Cone Sul ameaçado militarmente em sua soberania econômica e política?
 
Segundo José Carlos de Assis, economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ e professor de Economia Internacional da UEPB, a resposta é sim. Em texto publicado na terça-feira (24), enquanto Obama decolava de Buenos Aires sob uma enxurrada de protestos contra sua presença no país, Assis ressalta que “a base em Ushuaia é uma projeção próxima e direta sobre a Antártica, a maior reserva gelada de água doce do mundo, além de conter importantes minerais estratégicos”.
 
“A base na Tríplice Fronteira é uma projeção sobre o aquífero Guarani, a terceira maior reserva de água doce do mundo. Obviamente, os interesses ‘científicos’ dos EUA em instalar essas bases se efetiva na realidade no campo geopolítico. Eles correram para fazer o acordo com Macri tão logo tomou posse porque, assim como no caso brasileiro, não querem correr risco de recuo”, continua o professor.
 
A referência aos interesses “científicos” diz respeito ao argumento apresentado pelos governos Macri e Obama para justificar as bases dos EUA em pontos de interesse estratégico vital para as nações do Cone Sul.
 
“É espantoso que justamente um governo argentino tome essa iniciativa em favor da ingerência norte-americana no Cone Sul quando foram os EUA, na única guerra em que a Argentina se envolveu do século XX para cá, a Guerra das Malvinas, que colocaram toda a sua infraestrutura de informação a favor do inimigo que saiu vitoriosos, a Inglaterra. Talvez Macri, por ser relativamente jovem, tenha se esquecido disso. Duvido, porém, que o subconsciente coletivo do povo argentino também tenha se esquecido”, prossegue Assis, atribuindo ao atual governo argentino uma “combinação de ideologia subserviente com ilusão de ganhos econômicos”.
 
Na semana passada, uma matéria do diário argentino Integración Nacional já ventilava a mesma opinião, expressa em palavras de Elsa Bruzzone, especialista em geopolítica, estratégia e defesa nacional e integrante do Centro de Militantes para a Democracia Argentina (CEMIDA).
 
“Os EUA utilizam diversos pretextos, entre eles o de ‘ajuda humanitária’ e ‘apoio diante de catástrofes naturais’, para instalar bases militares disfarçadas de bases científicas. Estas bases encobertas eles sempre as instalam em zonas onde há recursos naturais altamente estratégicos: água, terra fértil para produção de alimentos, minerais, petróleo, biodiversidade”, afirmou a analista argentina, em entrevista ao jornal.
 
Segundo Bruzzone, os EUA querem “fechar o cerco sobre todos os recursos naturais" da América.
 
“As bases militares, cobertas e encobertas, que instalaram na América Central e no Caribe, somadas às que possuem na Colômbia, no Peru, no Chile e no Paraguai, junto com a base militar da OTAN nas Malvinas mais o destacamento britânico nas Ilhas Georgias fecham o cerco sobre todos nossos recursos naturais e reafirmam sua presença na Antártida”, acresentou.
 
Por último, a especialista assinalou ainda que a Antártida, além de ser a maior reserva de água doce congelada no mundo, contém “as maiores reservas de petróleo da região” e “minerais altamente estratégicos que são indispensáveis para a indústria militar e a aeroespacial”.
 
Neste contexto, cabe lembrar que o Brasil, que compartilha mais de 1.200 km de fronteira com a Argentina, possui dois aquíferos subterrâneos de enorme importância: o Guarani e o Alter do Chão. Este último, aliás, é considerado o maior depósito de água potável do mundo, com 86 mil km³ de água doce.
 

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