sexta-feira, 10 de junho de 2016

O Colapso de Credibilidade de Michel Temer

O Colapso de Credibilidade de Michel Temer

Apenas 20 dias após assumir o poder, provas irrefutáveis do envolvimento do Presidente interino Michel Temer em escândalos de corrupção vieram à tona.


Glenn Greenwald - The Intercept
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Desde o começo, ficou evidente que o processo de impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff, tinha como objetivo principal o fortalecimento dos verdadeiros ladrões de Brasília, permitindo assim que impeçam, obstruam e ponham fim às investigações da Operação Lava Jato (além de imporem uma agenda neoliberal de privatizações e austeridade extrema). Apenas 20 dias após assumir o poder, provas irrefutáveis do envolvimento do Presidente interino Michel Temer em escândalos de corrupção vieram à tona. Dois ministros interinos de seu gabinete composto apenas de homens brancos, incluindo o Ministro da Transparência, foram forçados a abandonar seus cargosdepois do aparecimento de gravações secretas em que conspiram visando obstruir as investigações nas quais se encontram envolvidos, assim como 1/3 dos ministros do gabinete interino.

 
Mas os alarmantes níveis de corrupção de seus ministros têm por vezes servido para encobrir o envolvimento do próprio Temer. O interino também se encontra envolvido em diversas investigações de corrupção. Agora condenado formalmente por violações de leis eleitorais, encontra-se por oito anos impedido de se candidatar a qualquer cargo público. Ontem, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, estado do presidente interino, publicou uma certidão formal que o declara culpado e impedido de se candidatar a qualquer cargo público por ter se tornado um candidato “ficha suja”. Temer foi condenado por doações acima do limite de campanha permitido por lei.
Em meio a intrigas, corrupção e irregularidades no governo “interino”, as violações da lei não são a mais grave transgressão de Temer. Mas ainda assim revelam de forma evidente a fraude antidemocrática que a elite brasileira tenta perpetrar no país. Em nome da corrupção, a presidenta eleita democraticamente foi afastada e substituída por alguém que, apesar de não estar impedido por lei de assumir cargos públicos, encontra-se por oito anos impedido de se candidatar ao cargo que exerce no momento.

 
Apenas algumas semanas atrás, o impeachment de Dilma parecia inevitável. Até então, toda a atenção da mídia oligárquica brasileira era dirigida exclusivamente à presidenta. Mas gradualmente as atenções se voltaram para quem estava organizando o processo de impeachment, para quem se fortaleceria e para seus motivos reais.
 

Então, tudo mudou. Agora, o impeachment de Dilma, embora ainda seja provável, não parece mais ser completamente inevitável. O Globo, informouna semana passada que dois senadores anteriormente favoráveis ao afastamento da presidenta, já admitem rever seus votos por conta das gravações recentemente publicadas dos ministros de Temer. Além disso, aFolha de S.P. ontemtambém noticiou que diversos senadores estudam a mudança de seus votos. É importante observar que os meios de comunicação brasileiros pararam de publicar pesquisas de opinião sobre a popularidade de Temer e sobre o impeachment de Dilma.
 
Enquanto isso, a hostilidade a esse ataque à democracia cresce tanto no Brasil, quanto no exterior. Os protestos contra Temer têm crescido e se intensificado. Mais de vinte deputados britânicos revelaram queconsideram o impeachment um golpe. Mais de trinta deputados do Parlamento europeureivindicaram o fim das negociações comerciais com o governo “interino” brasileiro por considerá-lo ilegítimo. O grupo anticorrupção Transparência Internacional anunciou queinterromperia os diálogos com o novo governoaté que a corrupção fosse eliminada dos novos ministérios. Em umareportagem sobre a demissão do Ministro da Transparência nesta semana, oNew York Times descreveu-a como “mais uma derrota para um governo que parece se atrapalhar em sucessivos escândalos poucas semanas depois de Temer substituir Dilma Rousseff.”
 
Mas nada explica melhor a perigosa farsa que as elites brasileiras tentam impor à população do que o líder por eles escolhido ser impedido de se candidatar ao cargo que acabou de assumir, devido a uma condenação judicial. Não se trata apenas da destruição da democracia no quinto país mais populoso do mundo, tampouco da imposição de uma agenda de privatizações e ataque aos pobres para benefício da plutocracia internacional. Trata-se do fortalecimento de operadores corruptos – desrespeitando as regras democráticas – cinicamente conduzido em nome da luta contra a corrupção.
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Ontem, em um evento no Rio de Janeiro com David Miranda e Nathalie Drumond, fui perguntado – como sempre sou nestes eventos – sobre o possível envolvimento dos Estados Unidos na mudança do governo. Abaixo, um vídeo com 4 minutos de minha resposta:


Créditos da foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

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