terça-feira, 14 de junho de 2016

Relatório detalha como golpe desencadeou onda de abusos em Honduras

Relatório detalha como golpe desencadeou onda de abusos em Honduras

Pesquisa feita por 54 organizações da sociedade civil e movimentos sociais foi apresentada à ONU como alternativa a relatório oficial de Estado


Lauren McCauley, Common Dreams

O golpe hondurenho apoiado pelos Estados Unidos desencadeou uma onda de políticas neoliberais que têm sistematicamente violado os direitos sociais, econômicos e culturais do povo indígena da nação, das mulheres e dos fazendeiros enquanto têm deixado os ativistas e defensores dos direitos humanos – como a falecida Berta Cáceres – vulneráveis à criminalização e violência.

Essas foram as descobertas de um novo relatório, preparado por uma aliança de 54 movimentos sociais e organizações hondurenhos, e apresentado como uma alternativa ao relatório oficial do governo entregue ao Comitê de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais da ONU, que iniciou sua 58a sessão em Geneva na segunda-feira.

“O golpe de estado em 2009 significou um retrocesso dos direitos humanos e um baque sério nas instituições do país”, declara o relatório, que está disponível em espanhol aqui.

Enquanto o estudo não destaca governos internacionais que apoiaram a deposição do presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya, ele aparece no momento em que a ex-secretária de Estado Hillary Clinton se prepara para assumir o papel de nomeação Democrata para a presidência, o papel de Clinton no golpe foi objeto de escrutínio desde o assassinato de Cáceres, uma ativista hondurenha dos direitos dos indígenas e ambientais, em março.


A pesquisa feita pela sociedade civil e organizações regionais descobriu que a agenda econômica da direita ajudou a avançar projetos de desenvolvimento de extração enquanto ignorava os direitos daqueles que detinham a terra.

De acordo com o relatório, muitas concessões foram garantidas a projetos de mineração e hidroelétricas em áreas consideradas sagradas pelos povos indígenas ou vitais para assegurar a subsistência de comunidades locais”, disse o grupo global contra a fome FIAN Internacional, que publicou o estudo.

Como resultado, comunidades campesinas estão “lidando cada vez mais com despejos forçados” enquanto os indivíduos e organizações em oposição ao golpe encontram “violência, intimidação e criminalização”, descobriu o estudo – como no caso de Cáceres, que foi assassinada por oficiais do exército hondurenho e empregados do projeto de represa hidroelétrica ao qual ela fazia oposição.

“Isso demonstra que os mecanismos disponíveis em Honduras para sua proteção não são suficientes. A grande maioria dos casos acaba sem punição”,  segundo o relatório.

E ainda mais, essa violência tem atingido especificamente as mulheres – incluindo a violência estrutural como os direitos culturais, civis, políticos, econômicos e sociais. “O clima de medo em ambas esferas pública e privada, e a falta de responsabilização pelas violações aos direitos humanos contras as mulheres são a regra, não a exceção”, diz o relatório.

Tudo isso acontece em um contexto de extrema pobreza e distribuição de renda não balanceada que leva muitos à subnutrição”, continua o relatório. De acordo com o FIAN, 12.1% da população hondurenha é desnutrida enquanto um total de 95% de crianças indígenas abaixo dos 14 sofrem de subnutrição.

Completando o ciclo, o relatório nota que esse ciclo de violência e pobreza extrema está levando migrantes a procurarem asilo nos Estados Unidos, onde eles geralmente encontram a deportação e a cadeia.








Créditos da foto: reprodução

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