Paulo Nogueira
O
crime dele é defender os oprimidos
Não poderia haver nada mais simbólico
que a prisão de Suplicy hoje em São Paulo num de seus melhores papeis, o de
ativista social.
Criou-se uma situação que ilustra o
Brasil destes tempos.
Um país que prende Suplicy e deixa solto
Eduardo Cunha é um país doente.
Não me venham com sofismas. Não me
venham dizer que são situações diferentes. Tudo isso é nada diante da
simbologia do caso.
Suplicy vai preso porque defende os
oprimidos. Cunha está solto porque defende os plutocratas.
Somos uma sociedade que pune quem se
coloca ao lado dos excluídos e protege os fâmulos da plutocracia. Por isso
somos um dos países mais brutalmente desiguais do mundo.
Veja Cunha.
Ele roubou, mentiu, ameaçou, mudou
projetos de lei para beneficiar empresas que patrocinaram sua eleição a
deputado federal.
Chamou os brasileiros de débeis mentais
ao negar contas milionárias na Suíça provadas pelas autoridades locais.
Escarneceu de todos ao fabricar lágrimas e se fazer de coitadinho depois de
agir como gangster a carreira toda.
Inventou uma palavra, estatutário, para
trapacear sobre a propriedade das contas. Depois se saiu com um golpe semântico
de bandido ao dizer que não eram contas, mas trusts — como se isso mudasse
qualquer coisa relativa ao dinheiro escondido na Suíça.
Fez um pau mandado seu na Caixa assinar
antecipadamente uma carta de demissão para a eventualidade de ele não praticar
as roubalheiras ordenadas.
Eduardo Cunha fez tudo isso, e muito
mais. E está aí, sem ao menos sequer uma tornozeleira que preservasse
parcialmente a indignidade que é ele permanecer livre.
Bastou a Suplicy agir pelos oprimidos
que foi carregado por policiais de Alckmin como se fosse um saco de lixo rumo à
detenção. Aos 75 anos.
E, no entanto, brutalizado por agentes
da plutocracia, mesmo sem pisar no chão, Suplicy protagonizou uma marcha
gloriosa.
Ele escancarou o que é o Brasil real, a
terra selvagem em que um homem puro como ele é preso enquanto um canalha
corrupto como Eduardo Cunha é recebido pelo presidente interino num palácio.
Paulo Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário