Voltamos a ter um mundo unipolar, diz Cristina Kirchner
Em entrevista a veículos internacionais, a líder argentina disse não ter medo de ser presa e que ideia de integração regional está sendo abandonada
Em entrevista coletiva concedida a meios de comunicação internacionais, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner afirmou na noite deste sábado (23/07) que seu país vive uma “diminuição intensa do Estado de Direito”, disse não ter medo de ser presa, diante do que considera ser uma perseguição judicial à sua figura e ressaltou o avanço de uma “direita conservadora” na América do Sul.
A seguir, publicamos os melhores trechos da conversa com os jornalistas de La Jornada, Reuters,Sputnik News, Al Jazeera y Telesur.
Acusações
Eu fui denunciada quatro vezes de não ser advogada e de ter diploma falso. Me investigaram por enriquecimento ilícito desde 1995 até 2012. (…) Nunca encontraram nenhuma conta minha no Panamá, não tenho nenhuma conta no exterior, nenhuma conta secreta.
Reprodução/ Facebook

Cristina considerou que governo de Maurício Macri está promovendo retrocessos no país vizinho
Cristina considerou que governo de Maurício Macri está promovendo retrocessos no país vizinho
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Com relação ao medo de ser presa, não o tenho. Se tivesse, não teria feito as coisas que fiz no meu governo e também não teria militado nos espaços políticos que militei desde muito jovem. Ser peronista nunca foi fácil neste país. E nunca foi de graça.
Judicialização da política
Creio que o fenômeno que se vive na Argentina [de judicialização da política] tem ocorrido em outros lugares do mundo. Pelo menos em determinadas regiões vemos muito claramente o aparecimento de um partido midiático que julga publicamente, um partido judicial que é como o espelho desse partido midiático.
Na região é muito claro, como no do Brasil, onde podemos ver muito claramente a intervenção desse partido judicial.
Avanço da direita
Parece que há um retrocesso com relação ao que foram os governos nacionais e populares na região. Há um avanço do que podemos denominar direita conservadora ou restauradora quanto à exclusão social, quanto a abandonar a unidade regional, que primou tanto o espírito [de iniciativas] como a Unasul, o Mercosul ou Celac.
Reprodução/ Facebook

Cristina respondeu apenas seis perguntas; uma de cada jornalista
Cristina respondeu apenas seis perguntas; uma de cada jornalista
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O que mais me preocupa [na Argentina] é que há uma diminuição muito notável da intensidade do Estado de Direito. Sempre a vigência do Estado de Direito tem sido um obstáculo para a imposição de programas [que provocam] miséria, fome, transferência de renda dos setores assalariados e classes médias aos setores mais ricos. Antes eram necessários golpes de Estado para colocar tais programas em marcha. Hoje, fazem por meio do partido midiático e do partido judicial.
Multipolaridade
O Mercosul está muito debilitado, a Unasul e a União Europeia também.
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O Brics se apresentava como uma alternativa com o fundo especial do organismo, que seria um tipo de fundo alternativo ao FMI, mas depois tiveram dificuldades econômicas.
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Em termos de economia e blocos econômicos, parecia que estava surgindo uma multipolaridade crescente no mundo, mas a situação de debilitamento da UE [União Europeia] nos revela como o que parecia ser uma multipolaridade sofreu uma deterioração e temos novamente um mundo unipolar ou algo que se parece bastante com isso.
Continente em disputa
Eu penso que [esta ideia de] continente em disputa começa a tomar forma claramente quando os governos nacionais e populares – Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia – começam a ter relações comerciais, políticas e econômicas com outros atores internacionais, fundamentalmente com a República Popular da China e com a Rússia.
A participação do Brasil com o Brics e a criação do fundo alternativo ao FMI, criou um alerta vermelho em um país como os Estados Unidos, que não está pensando em quem vai ganhar as eleições, se Hillary [Clinton] ou [Donald] Trump: o sistema norte-americano é o mesmo ganhe um ou outro.
Outra coisa fundamental: somos o grande produtor de alimentos, de matérias-primas no mundo. Por isso, somos uma região estratégica para o desenvolvimento e manutenção de qualquer país potência hoje no mundo. Eu considero que isso deve estar movendo os interesses, pensamentos e ações de tal maneira que exista uma limitação ao ingresso ou abertura dos nossos países a governos que obviamente também têm disputas comerciais e geopolíticas.
Veja a íntegra da entrevista (em espanhol):
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