Aliados de
Temer já pensam em descartá-lo em nome de eleições indiretas em 2017
José Cássio
Os protestos contra Michel Temer se
intensificam por todo o país à medida que a debilidade do seu governo, e a sua
em particular, vai ficando mais evidente.
Neste próximo domingo, 18, por exemplo,
as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo voltam à Avenida Paulista
numa manifestação que promete ser maior que a da semana passada – reuniu 60 mil
pessoas e consolidou a tese de que os jovens estão mesmo dispostos a se manter
na rua contra o que consideram um golpe contra a democracia.
A impopularidade é apenas uma das
facetas de Temer.
Além de sua perversa trajetória rumo ao
poder e sua postura retrógrada, que são os principais pontos levantados nos
protestos, o atual ocupante do Palácio do Alvorada também tem o nome citado na
Lava-Jato.
Temer é acusado, entre outras coisas, de
solicitar R$ 1,5 milhão em propina para a empreiteira Queiroz Galvão. O
dinheiro seria usado para financiar a campanha de um aliado nas eleições em
2012.
Já sabíamos que o presidente não era
nenhum santo, mas agora as evidências concretas estão colocadas na mesa, na
forma de processo criminal.
Não bastassem as citações, Temer está
apavorado com o desfecho da cassação de seu amigo, e também alvo da Lava-Jato,
Eduardo Cunha.
Temer sempre atuou nos escaninhos do
poder.
Foi assim, nas sombras, como na vez em
que se encontrou com Cunha na calada da noite de um domingo, que consolidou sua
carreira política. Por isso não surpreende a sua inépcia em lidar com assuntos,
seja ele qual for, que se relacionem à opinião pública.
O vice decorativo que o Brasil passou a
conhecer, a se considerar o seu ministério machista, o gestual brega e,
principalmente, a agenda conservadora e antipopular, se revelou um homem
arcaico. Um típico fora de moda. E, convenhamos, aos 76 anos não lhe resta mais
tempo, tampouco disposição, para se reciclar.
Não surpreenderia, portanto, se fosse
descartado pelos próprios aliados.
E fazer isso acontecer é mais simples do
que você pode imaginar.
De acordo com o artigo 81 da
Constituição Federal, diante da vacância do presidente e de seu vice nos dois
últimos anos do mandato presidencial, a eleição para ambos os cargos deve ser
indireta e comandada por deputados e senadores.
Significa que, para o Congresso ter a
prerrogativa de eleger um novo mandatário de forma indireta, basta cozinhar
Temer em banho-maria até o réveillon – ou seja, mantê-lo na Presidência por
mais alguns meses até que ele se inviabilize por si só.
É uma tese que começa a ganhar corpo e
que tem tudo para se consolidar. Inclusive porque há duas importantes frentes,
o PSDB e o empresariado, que podem se interessar por uma saída nesta direção.
Para os tucanos, seria a forma de
legitimar o impeachment de Dilma, minimizando a vergonha alheia no exterior e,
na melhor das hipóteses, apostando na possibilidade de indicar um “salvador da
pátria” – Serra ou Aécio, para ficar em apenas dois nomes.
Já os representantes do mercado, que têm
interesse no ministro da Economia, Henrique Meirelles, poderiam finalmente
colocar em prática as reformas que Temer prometeu, mas que não está conseguindo
entregar.
Com Eduardo Cunha ameaçado de prisão, a
temperatura tende a se elevar. E se tem uma coisa que Temer está mostrando que
sabe fazer bem feito é se atrapalhar nos momentos difíceis.
Enquanto isso, nas ruas o bloco dos descontentes
só aumenta: neste domingo mesmo os protestos ganham o apoio institucional do
PSTU – o presidente nacional do partido, Zé Maria, garantiu que estará lá
pessoalmente para incentivar a Greve Geral a partir do final do mês.
Dois outros importantes adversários na
disputa pela prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad e Luiza Erundina, já
estão discursando de mãos dadas pela saída do que consideram o “usurpador e
golpista”.
Temer está virando o único que pode
trazer o que tanto prega: a pacificação e a unificação do país.
Só que não com ele no papel de
presidente.
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