O desfecho de
Temer será ainda pior do que o de Cunha
Carlos Fernandes
Fosse o Brasil um país com uma
democracia mais sólida e instituições mais isentas, a renúncia de Eduardo Cunha
à presidência da Câmara seria recebida como a desmoralização última do processo
de impeachment.
Responsável pela aceitação de uma
denúncia estapafúrdia assinada por gente como Janaína Paschoal, Cunha é a
tradução perfeita da ausência de moralidade e de legalidade que permeiam todo o
processo que levou ao afastamento de uma presidenta legitimamente eleita.
A sua queda – ainda que com uma demora
secular e, sobretudo muito longe de ser a que realmente importa: a sua prisão –
ratifica sobremaneira o vício e a injustiça do golpe que pretende cassar mais
de 54 milhões de votos soberanos.
O fato é que não vivemos num país justo.
Aliás, quem mais deveria zelar pela justiça, o Supremo Tribunal Federal,
contribuiu irreparavelmente pela desordem e pela instabilidade dos poderes.
Tivesse Eduardo Cunha sido tratado como
realmente é, um criminoso internacional e sociopata perigoso, muito
provavelmente não teríamos chegado a esse ponto.
A demora do STF em afastá-lo permitiu
que um desequilibrado fizesse da casa mais importante da República um
instrumento pessoal cuja única finalidade se resumiu a proteger e acobertar
toda a sorte de crimes, chantagens e ameaças.
E ainda pior.
Permitiu, com a sua inépcia, que um
traidor covarde, através da chancela de corruptos de igual estirpe, ocupasse um
cargo que jamais teria pela vontade irrestrita e declarada do povo.
Definitivamente, a única coisa mais
afrontosa que Eduardo Cunha na presidência da Câmara é, sem dúvidas, Michel
Temer na presidência da República.
Se ainda resta a Cunha o discurso de ter
chegado à presidência da Câmara pela via dos votos, nem isso Temer pode alegar.
A ilegalidade de sua presidência é ainda mais aviltante e se aprofunda à medida
que se aprofunda a ruína de quem deu início a tudo isso.
Humilhado, Eduardo Cunha saiu da
presidência que tanto sonhou através de uma carta de renúncia ridícula que nada
mais fez do que retratar toda a tragédia que foi a sua gestão.
Michel Temer terá, independente do que
aconteça no Senado, um desfecho ainda pior.
www.brasil247.com.br 14/09/2016
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