Um Brasil para
derrotados
Janio de Freitas
O impasse entre a Lava-Jato e a
Odebrecht deixou bem caracterizado o seu início: os vazamentos da força-tarefa
curitibana de repente arrefeceram, e logo sumiram mesmo por largo tempo. As
informações propostas pela Odebrecht, para análise da possível delação, davam
rumo diferente à temática da Lava-Jato: entrevam lideranças do PSDB, governo
paulista, Michel Temer e PMDB, enfim, muitos daqueles que, se mencionados em
depoimentos distantes, foram entregues depressa aos resguardos do silêncio.
A Lava-Jato nada foi verificar ou quis
descobrir nesses veios da corrupção, como sabem, não o digam ou digam o
contrário, os que têm as informações básicas sobre o que se passa lá e nas
adjacências. A confluência de novos citados e o sumiço de vazamentos faz
parecer a existência de uma contradição nessa fase da Lava-Jato, em cobrar mais
delações e desprezar delações a mais do que o esperado ou desejado.
Só há quatro dias um assunto da nova
temática apareceu, com a revelação da Folha, pela repórter Bela Megale, de que
dirigentes da Odebrecht informaram à Lava-Jato sobre doação "por
fora" de R$ 23 milhões (hoje, R$ 54,5 milhões) "à campanha"
presidencial de José Serra em 2010.
Além daquele montante, haveria ainda R$
2,4 milhões (R$3,6 milhões de hoje) doados por meio do Comitê Financeiro
Nacional da Campanha, portanto, legais em princípio.
Parte daquele montante anterior foi
depositada no exterior. E aí há, digamos, um equívoco. Partido não precisa de
dinheiro no exterior, o que até exige complicadora remessa para o Brasil.
Depósito no exterior indica como destino, não campanhas, mas bolsos e contas
pessoais, mesmo se encobertas por terceiros.
Ainda no ramal novo, o aparecimento de
Michel Temer e Eliseu Padilha, se bem que citados por "Veja", traz
delicada contribuição para o seu governo. Não foi por casualidade destoante que
a composição do ministério encheu-se de pendurados na Justiça e estrelas das
citações a jato. Pode-se agora deduzir afinidades a conduzirem as escolhas. No
fundo, é de fato o mesmo grupo do PMDB e da Câmara. O governo montado por Temer
tem unidade, pois. De cima a baixo.
Nem mesmo é casual a proteção que Michel
Temer e seus aliados proporcionam a Eduardo Cunha, para protelar sua cassação,
já adiada, e agora marcada para 12 de setembro.
http://www.conexaojornalismo.com.br (publicado em Folha de São Paulo)
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