24/10/2016 12:23 - Copyleft
Martín Granovsky, para o Página/12Violência em cadeia
A luta contra a violência de gênero não defende uma solução penal mágica, mas sim a prevenção e o fortalecimento de ferramentas simbólicas e práticas.
Os protestos produzem maior impacto quando são facilmente entendidos.
O #NiUnaMenos, realizada esta semana em várias cidades da Argentina, e também no Chile, no Peru, no Uruguai e na Colômbia, foi dessas de simples compreensão. É preciso dar um basta à violência de gênero.
O detonante foi o macabro assassinato de Lucía Pérez, uma jovem argentina de 16 anos que foi torturada, estuprada e morta por empalamento.
Toda violência tem uma lógica por trás. Ela sempre supõe que a vítima não é uma pessoa, nem que tem direitos ou a capacidade de exercer sua vontade. Toda violência contra a mulher enquanto tal se baseia na lógica de que a mulher é uma coisa a qual o homem pode se apropria naturalmente. Aqueles que mataram a jovem Lucía se sentiram donos de sua vida, e por isso, capazes de decidir sobre a sua morte.
A violência institucional ou social tem uma lógica ainda mais nítida. Ela mata – como mataram durante as ditaduras, como matam diariamente através das polícias, dos grupos clandestinos, dos parentes, dos vizinhos – por um imperativo estratégico de extermínio, ou por uma cadeia de atos de violências que também inclui o Estado, mas que não termina nele.
A morte de Lucía Pérez foi a gota d´água, mas não despertou uma reação delirante, como aconteceu no caso do assassinato do também jovem Axel Blumberg, em 2004, quando o próprio pai da vítima decidiu se transformar na bandeira em favor do projeto de diminuição da idade penal na Argentina. No caso atual, a diferença é que já havia, desde antes, muitas agrupações e coletivos com alto grau de articulação, responsáveis por um debate prévio de longa data.
A luta das mulheres é contra a violência, e não defende uma solução penal mágica, mas sim a prevenção, e inclusive o fortalecimento de ferramentas simbólicas e práticas para a defesa própria das mulheres.
O caminho não só é longo, é perpétuo. Como acontece com o movimento operário e a luta pela jornada de trabalho de oito horas, a natureza da dinâmica social tende a facilitar o discurso pela extensão. Manter as oito horas requer uma lucha permanente, porque o natural não é a emancipação, e sim a falta de limites.
Preservar a dignidade e a vontade das mulheres também vai contra a corrente social de domínio, discriminação e até mesmo de escravidão.
Reduzir drasticamente a violência, e sobretudo a violência extrema consumada no assassinato, é um grande desafio, que deve ser enfrentado, como outrora, com inteligência. Não colocando a sociedade somente contra os monstros, como se fossem eles alheios ao gênero humano, e sim contra o seu próprio espelho.
Tradução: Victor Farinelli
O #NiUnaMenos, realizada esta semana em várias cidades da Argentina, e também no Chile, no Peru, no Uruguai e na Colômbia, foi dessas de simples compreensão. É preciso dar um basta à violência de gênero.
O detonante foi o macabro assassinato de Lucía Pérez, uma jovem argentina de 16 anos que foi torturada, estuprada e morta por empalamento.
Toda violência tem uma lógica por trás. Ela sempre supõe que a vítima não é uma pessoa, nem que tem direitos ou a capacidade de exercer sua vontade. Toda violência contra a mulher enquanto tal se baseia na lógica de que a mulher é uma coisa a qual o homem pode se apropria naturalmente. Aqueles que mataram a jovem Lucía se sentiram donos de sua vida, e por isso, capazes de decidir sobre a sua morte.
A violência institucional ou social tem uma lógica ainda mais nítida. Ela mata – como mataram durante as ditaduras, como matam diariamente através das polícias, dos grupos clandestinos, dos parentes, dos vizinhos – por um imperativo estratégico de extermínio, ou por uma cadeia de atos de violências que também inclui o Estado, mas que não termina nele.
A morte de Lucía Pérez foi a gota d´água, mas não despertou uma reação delirante, como aconteceu no caso do assassinato do também jovem Axel Blumberg, em 2004, quando o próprio pai da vítima decidiu se transformar na bandeira em favor do projeto de diminuição da idade penal na Argentina. No caso atual, a diferença é que já havia, desde antes, muitas agrupações e coletivos com alto grau de articulação, responsáveis por um debate prévio de longa data.
A luta das mulheres é contra a violência, e não defende uma solução penal mágica, mas sim a prevenção, e inclusive o fortalecimento de ferramentas simbólicas e práticas para a defesa própria das mulheres.
O caminho não só é longo, é perpétuo. Como acontece com o movimento operário e a luta pela jornada de trabalho de oito horas, a natureza da dinâmica social tende a facilitar o discurso pela extensão. Manter as oito horas requer uma lucha permanente, porque o natural não é a emancipação, e sim a falta de limites.
Preservar a dignidade e a vontade das mulheres também vai contra a corrente social de domínio, discriminação e até mesmo de escravidão.
Reduzir drasticamente a violência, e sobretudo a violência extrema consumada no assassinato, é um grande desafio, que deve ser enfrentado, como outrora, com inteligência. Não colocando a sociedade somente contra os monstros, como se fossem eles alheios ao gênero humano, e sim contra o seu próprio espelho.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: reprodução
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