domingo, 26 de fevereiro de 2017

Além de Padilha e Temer, denúncia de Yunes compromete Moro

Além de Padilha e Temer, denúncia de Yunes compromete Moro

JEFERSON MIOLA


O depoimento que José Yunes prestou ao Ministério Público Federal assumindo-se como simples "mula" para transportar os R$ 4 milhões da propina da Odebrecht destinada a Eliseu Padilha, é demolidor para o governo golpista.

A denúncia do amigo de mais de meio século do Michel Temer põe luz sobre acontecimentos relevantes da história do golpe, e pode indicar que os componentes do plano golpista foram estruturados em pleno curso da eleição presidencial de 2014:

1.           A Odebrecht atendeu ao pedido do Temer, dos R$ 10 milhões [os R$ 4 milhões ao Padilha são parte deste montante] operados através de Lúcio Funaro, ainda durante o período eleitoral de 2014;

2.           Mesmo sendo candidato a vice-presidente de Dilma Rousseff, Temer trabalhou, na campanha, pelo esquema do Eduardo Cunha [que na eleição apoiou Aécio Neves, e não a chapa do seu partido, o PMDB], que tinha como meta eleger uma grande bancada de deputados oposicionistas ao governo Dilma;

3.           A organização criminosa financiou com o esquema de corrupção a campanha de 140 deputados para garantir a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara;

4.           Lúcio Funaro, tido até então exclusivamente como o "operador do Eduardo Cunha", na realidade também atuava a mando de Eliseu Padilha e, tudo indica, de Michel Temer - José Yunes diz que Temer sabia tudo sobre o serviço de "mula" que Padilha lhe encomendara;

5.           Em janeiro/fevereiro de 2015, na disputa para a presidência da Câmara, embora em público Temer dissimulasse uma posição de "neutralidade", nos subterrâneos trabalhou pela eleição de Cunha;

6.           Mesmo sendo vice da Presidente Dilma Rousseff, o conspirador conhecia o plano golpista desde sempre, e participou desde o início da conspiração para derrubá-la. O primeiro passo, como se comprovou, seria dado com a vitória do Eduardo Cunha à presidência da Câmara para desestabilizar o ambiente político, implodir os projetos de interesse do governo no Congresso e incendiar o país.

A denúncia de Yunes reabre o questionamento sobre a decisão no mínimo estranha, para não dizer obscura e suspeita, do juiz Sergio Moro.

Em despacho de 28/11/2016, Moro anulou por considerar "impertinentes" as perguntas sobre José Yunes que o presidiário Eduardo Cunha endereçou a Michel Temer, arrolado como sua testemunha de defesa.

O juiz Sérgio Moro tem agora a obrigação de prestar esclarecimentos mais convincentes e objetivos que o argumento subjetivo de "impertinência", alegado no despacho.

Caso contrário, ficará a suspeita de ter prevaricado para proteger Temer e encobrir o esquema criminoso que derrubaria o governo golpista.

Afinal, sabendo do envolvimento direto de Michel Temer no esquema criminoso, Moro teria agido para ocultar o fato?

A cada dia fica mais claro que o Brasil está dominado pela cleptocracia que assaltou o poder de Estado com o golpe.

O melhor que Temer faria ao país seria demitir toda a corja corrupta – a começar pelo Eliseu Padilha – e renunciar, porque perdeu totalmente a confiança política e a credibilidade.

A permanência ilegítima de Temer na cadeira presidencial é um obstáculo instransponível à recuperação do Brasil, que assim seguirá o caminho acelerado do abismo.

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