O destino da
associação de judeus que apoiou Hitler e a palestra cancelada de Bolsonaro na
Hebraica
Kiko Nogueira
Coube a um gaúcho de Porto Alegre
chamado Mauro Nadvorny poupar a comunidade judaica de São Paulo de um mico
perigoso.
Nadvorny é o autor do abaixo assinado
contra a palestra de Jair Bolsonaro que o clube A Hebraica havia programado para março. Graças à petição no
change.org, mais de 3 mil pessoas fizeram com que a visita fosse cancelada.
Ele explicou a reação ao seu pleito.
“Tomou essa proporção por tudo de ruim que representa o Bolsonaro. Um racista,
misógino, antissemita, pensar em ser recebido em um clube da comunidade é, por
si só, terrível”, disse.
Completou: “Quando Hitler começou,
também teve apoio de judeus”. Não é exagero e Nadvorny tocou num ponto
sensível. Entre o início dos anos 20 até 1935, existiu a União Nacional dos
Judeus-Alemães.
Depois de Hitler assumir a Chancelaria,
o grupo chefiado pelo advogado Max Naumann, ex-capitão do exército bávaro na
Primeira Guerra, soltou uma declaração em que “saudava os resultados”.
Apesar do patriotismo extremista da
organização de Naumann, o governo alemão não aceitou o objetivo de assimilação.
A associação foi dissolvida e Naumann foi preso num campo de concentração em
Berlim. Morreu de câncer em 1939.
O organizador do encontro com Bolsonaro
é Alexandre Nigri, administrador e CEO de uma empresa chamada MCP Realty. Nigri
arriscou alguns artigos francamente constrangedores, publicados esporadicamente
na Gazeta do Povo, de Curitiba.
Num deles, em que defende o impeachment
da presidenta Dilma Rousseff, confessa que sentiu “aquela incontrolável
vontade” de pedir autógrafo a Roberto Setúbal depois de jantar ao lado do
presidente do Itaú num restaurante de São Paulo.
Noutro, igualmente imbecil, acusa o
cinema nacional de fazer “proselitismo satânico” (?!?) e torce por filmes sobre
os “heróis pracinhas da Segunda Guerra Mundial”. Enfim, é o típico inocente
útil de direita saído das avenidas Paulistas.
Nigri deveria agradecer a Nadvorny por
tê-lo poupado de dar palco e microfone a um fascista. Não bastassem todas as
qualidades listadas por Nadvorny, Bolsonaro deixou claro, num de seus comícios
recentes, que põe Deus acima de tudo.
Mas não qualquer Deus. Só o dos
cristãos.
“Não tem essa historinha de Estado laico
não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias
têm que se curvar para as maiorias”, falou para seus seguidores.
Onze semanas depois de virar chanceler,
os nazistas promulgaram a “Lei para a Restauração do Serviço Público
Profissional”. O objetivo era segregar os judeus da sociedade ariana. Estavam
expulsas pessoas “quando um dos pais ou avós pertencerem à religião judaica”.
Era esse o sujeito que iria palestrar na
Hebraica, trazido para dentro de
casa por uma de suas vítimas.
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