Núcleo dos Irredentos com a publicação do livro Calabouço – Rebelião dos Estudantes contra a Ditadura Civil-Militar em 1968, de Geraldo Sardinha pretende levar à nova geração do movimento estudantil um exemplo de luta que marcou profundamente toda uma época, e permanece na memória de todos que viveram diretamente os acontecimentos. Com a morte de Edson Luis, dezenas de milhares de pessoas foram se incorporando ao movimento de combate à Ditadura.
Capa-do-Livro-Calabouco
Geraldo Jorge Sardinha foi um participante direto dessas lutas, esteve na diretoria da FUEC, foi ele junto com Paulo Gomes que levou o corpo de Edson Luís para a Assembléia, como mostra a foto da capa. Escreveu este texto em 1973, quando esteve preso no Uruguay, pretendendo relatar a sua experiência e resgatar a história de luta de uma geração.
Calabouço – Rebelião dos Estudantes contra a Ditadura Civil-Militar em 1968
Autor: Geraldo Jorge Sardinha
Palestrantes: Edilberto Veras, Zumira Batista, Paulo Gomes Neto (participantes do Calabouço), Matheus Nunes (diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES e membro da União da Juventude Rebelião – UJR)
Apresentação Musical: Vidal França (cantor, compositor e maestro arranjador) e Luiz Carlos Bahia (diretor de teatro, ator, músico e cineasta)
História  
Calabouço – Rebelião dos Estudantes contra a Ditadura Civil-Militar em 1968O Calabouço era um restaurante popular, criado no governo de Getúlio Vargas, para atender os estudantes carentes e se tornou uma concentração importante de oposição ao regime civil-militar instaurado em 31 de março de 1964.
Em 28 de março de 1968, os estudantes do Rio de Janeiro estavam organizando uma passeata-relâmpago para protestar contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço, que deveria acontecer no final da tarde do mesmo dia. Por volta das 18 horas, a Polícia militar chegou ao local e dispersou os estudantes que estavam na frente do complexo. Os estudantes se abrigaram dentro do restaurante e responderam à violência policial utilizando paus e pedras. Isso fez com que os policiais recuassem e a rua ficasse deserta. Quando os policiais voltaram, tiros começaram a ser disparados do edifício da Legião Brasileira de Assistência, o que provocou pânico entre os estudantes, que fugiram.
Durante a invasão, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, atirou e matou o secundarista Edson Luís com um tiro a queima roupa no peito.
Temendo que a PM sumisse com o corpo, os estudantes não permitiram que ele fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML), mas o carregaram em passeata diretamente para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado. A necrópsia foi feita no próprio local pelos médicos Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bastos na presença do Secretário de Saúde do Estado. No período que se estendeu do velório até a missa da Igreja da Candelária, realizada em 2 de abril foram mobilizados protestos em todo o país. O Rio de Janeiro parou no dia do enterro.
Na manhã de 4 de abril foi realizada um missa na Igreja da Candelária em memória de Edson. Após o término da missa, as pessoas que deixavam a igreja foram cercadas e atacadas pela cavalaria da Polícia militar com golpes de sabre. Dezenas de pessoas ficaram feridas.
Outra missa seria realizada na noite do mesmo dia. O governo militar proibiu a realização dessa missa, mas o vigário-geral do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, insistiu em realizá-la. A missa foi celebrada com cerca de 600 pessoas.
Temendo que o mesmo massacre da manhã se repetisse, os padres pediram que ninguém saísse da igreja. Do lado de fora havia três fileiras de soldados a cavalo com os sabres desembainhados, mais atrás estava o Corpo de Fuzileiros Navais e vários agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Num ato de coragem, os clérigos saíram na frente de mãos dadas, fazendo um “corredor” da porta da igreja até a avenida Rio Branco para que todos os que estavam na igreja pudessem sair com segurança. Apesar desse ato, a cavalaria aguardou que todos saíssem e os encurralaram nas ruas da Candelária. Novamente o saldo foi de dezenas de pessoas feridas.
A mobilização em torno da morte do estudante foi o estopim para a primeira grande manifestação pública daquele ano, que culminaria três meses depois na Marcha dos 100 mil. O evento foi um dos principais protestos contra a Ditadura Militar.
Hoje, a memória de Edson Luís segue viva no dia-a-dia do movimento estudantil. A luta por mais qualidade nos restaurantes universitários, bibliotecas e laboratórios, mais investimentos na educação mostra que suas reivindicações não foram em vão.Já é tradicional no calendário do movimento estudantil brasileiro ocupar as ruas das capitais do país na chamada Jornada de Lutas da Juventude Brasileira, que acontece anualmente em março, mês simbólico justamente pela morte de Edson. Neste ano, jovens da capital paulista e de Brasília inauguraram o evento, saindo às ruas para reivindicar pautas como a democratização da mídia, o fim do extermínio da juventude negra e a aprovação do Plano Nacional da Educação (PNE) com 10% do PIB para a educação pública.