O zumbi do golpe
Fernando Brito
Monica Bergamo diz, hoje, em sua coluna
na Folha, que a reação de Eduardo, em caso de derrota em seu pedido de
liberdade ao Supremo Tribunal Federal, é considerada “imprevisível” por seus
advogados.
Com o devido perdão da Monica, não há
nada de imprevisível: é mais uma ameaça de Eduardo Cunha para que os cordéis se
movam e tentem forçar uma decisão que – embora não seja impossível e fosse,
até, o normal num processo criminal – implicaria numa desmoralização ainda
maior da corte, agora sob acusações impensáveis em tempos normais, como as de
“disenteria verbal e decrepitude moral”.
Porque, desde que Sérgio Moro passou a
se mover com a desenvoltura que a atuação criminosa da mídia e o misto de
covardia e ódio ideológico lhe permitiram, o método de investigação, neste
país, tem sido um só. É meter o gajo na cadeia até que ele transacione uma
delação que lhe dê penas miúdas e em troca de versões que permitam aos senhores
do Ministério Público e seus mastins policiais partirem em busca de outros, os
que desejam, embora no caminho vão surgindo outras presas colaterais.
Com outros métodos, reconheça-se que não
sangrentos, é o mesmo do “pendura esse sujeito aí até que ele confesse” dos
tristes tempos do regime autoritário. Aceitou-se que a prisão passasse a ser
não um instrumento de proteção da sociedade e do processo para ser o meio
supremo de obtenção de prova, ou daquilo que será construído como prova.
E a caixa que o ex-presidente da Câmara
guarda são os intestinos do golpe de Estado. Certamente informações – embora
não interessem – sobre como se urdiu a derrubada de um governo eleito.
Cunha, portanto, é uma sobra, um zumbi
do golpe, que se deixou livre para sua obra de contaminação da democracia, até
que se prestasse a fazer o impeachment, execução dos desejos de seus mandantes.
É a ele, e a mais ninguém, que se
destinam os reclamos contra “as alongadas prisões de Curitiba, que a outros se
permitiram e prolongaram sem nenhuma consideração jurídica sobre os meios,
apenas aos fins que os “justificavam”.
Não foi assim que a 2ª instância
aprovou, por 13 votos a um, as violências praticadas contra Lula? “Situações
especiais exigem soluções especiais”.
Cunha, o zumbi, agora é um problema e
uma ameaça. Custará caro, politicamente – mas não só – arranjar-lhe uma
sepultura, digo, uma tornozeleira eletrônica, mas não é impossível.
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