A grande
pataquada
Hoje eu vou falar de patos, essas
simpáticas aves da família Anatidae. Fui ao Google para me ilustrar sobre o
assunto e aprendi que a família dos patos é enorme. Há o pato-mudo, o pato
corredor, o pato-ferrão, o pato papão, o pato-caipira e o pato da FIESP. E
assim por diante. Ah, sim! Os marrecos também fazem parte da família. E temos
aí a marreca-cricri, o marreco-gritalhão, o marrecão, o marreco-pompom, o
marreco de bico-amarelo...
Confesso que fiquei interessado pelo
pato-mudo. O pato mudo é assim chamado porque ele não emite sons altos; o macho
faz um som semelhante a um assopro; e a fêmea algo como um assobio bem
discreto.
É fácil criar patos e eles se reproduzem
com grande facilidade. No Brasil, os patos são milhões e milhões, embora
ultimamente, informam-me, talvez por causa do clima, da crise econômica, da
reforma da Previdência ou do desemprego, registra-se uma drástica diminuição na
população dos patos.
O coletivo de patos é bando ou
pataquada, como sugerem alguns.
Os patos são facilmente domesticados e é
possível conduzir o bando pata aqui, pata acolá, porque o pato sempre vem para
ver o que é que há, como diz a letra da música de Vinícius de Morais.
Assim, para amestrar e docilizar o pato,
especialmente o pato-mudo, muitos criadores colocam nos aposentos do bando
televisores e rádios, permanentemente sintonizados na Globo e na CBN. E, para
melhor acomodá-los, forram o ambiente onde vivem com jornais e revistas
criteriosamente selecionados.
Os criadores chegaram à conclusão que,
sob o efeito de certas vozes, masculinas e femininas, de apresentadores e
comentaristas do rádio e da televisão, os patos reproduzem-se com maior
velocidade.
Quanto à dieta dos patos, algumas
informações de tratadores referem-se à adoção exitosa da alfafa na alimentação
dessas aves.
Mas vamos ao que interessa. Embora minha
curiosidade sobre o pato-mudo, eu quero mesmo falar do pato da FIESP, um pato
que se notabilizou por seu ativo desempenho no primeiro semestre do ano passado
em algumas capitais brasileiras, especialmente na capital federal e em São
Paulo, hoje o maior centro criador de patos e referência mundial na criação da
ave. Tanto assim que alguns criadores russos já estão importando o pato da
FIESP, crentes possam reproduzir em Moscou e Petersburgo o mesmo resultado que
no Brasil.
Segundo o Google me informa, o pato da
FIESP tem lá suas idiossincrasias.
Por exemplo, não gosta de nada que seja
imposto. Tem horror ao imposto. Chegou até mesmo a criar um medidor para
espalhar a rejeição a tudo o que é imposto.
É um pato liberal, vê-se.
Outra coisa que as pesquisas no Google ensinaram-me
é que, frequentemente, os patos líderes trapaceiam a pataquada. Prometem levá-los
a descansar em verdes prados, a conduzi-los às águas refrescantes, a
reconfortar suas almas, a protegê-los de todo o mal, mas acabam por
pastoreá-los por ínvios e tenebrosos caminhos.
Verbi gratia.
O rei dos patos-FIESP, prometeu ao bando
que se a marreca-cricri fosse apeada do poleiro, haveria abundância, jorrariam
leite e mel.
E que nada seria imposto à patolândia.
Houve mesmo um grão-pato pernambucano que prometeu o milagre instantâneo da
multiplicação dos pães, dos peixes, do vinho e dos tecidos de tafetá ou de
morim se a referida madame fosse afastada.
Quem sabe seja por isso, porque tudo o
que é imposto aumenta; porque diminui a ocupação dos patos; porque se reduz a
ração do bando, e muitos se recusam a consumir alfafa como cardápio
alternativo; porque os patos mais velhos estão sendo ameaçados de nunca mais
poder descansar; ou seja, porque as tarefas dos patos estejam sendo
terceirizados para os urubus, corvos, quero-queros, a verdade é que mingua,
dissolve-se o número dos anatídeos a seguir seus líderes.
Parece que as generosas contribuições
financeiras dos irmãos Koch - ou do brasileiro mais rico do país e 19º mais
rico do planeta – não estão dando mais conta de mobilizar os patinhos e os
patões que haviam proclamado a República do Vão Livre do MASP ou o Consulado do
Pato FIESP.
Concluo esse mergulho no mundo dos
patos, marrecos e gansos com duplo e contraditório sentimento: otimista e
pessimista.
Pessimista por ver quanto é poderosa a
aliança mídia/grande capital, tão poderosa a ponto de fazer milhões de
brasileiros bem-intencionados a vestirem a camisa da CBF e marcharem pelas ruas
defendendo, em última instância, as teses de seus opressores.
Otimista por ver os brasileiros, que
foram feitos de patos, despertarem e, em movimento contrário, retomarem as ruas
contra a entrega do país ao grande capital global, especialmente ao capital
financeiro; contra a destruição da Previdência Social e da Legislação Trabalhista;
contra a terceirização que instaura no país a escravidão remunerada; contra a
destruição da nossa indústria e o extermínio dos empregos.
O Brasil desperta. Está na hora deste
Senado também acordar e a começar a pôr um freio nessas loucuras inspiradas nas
putrefatas ideias neoliberais.
Não somos o país dos patos. Não somos
patos.
Não há de ser o presidente de uma
entidade empresarial-industrial que se distingue pelo servilismo aos que
destroem as indústrias, o emprego, o consumo e a soberania que fará do Brasil o
país dos patos-FIESP.
* Senador da República (PMDB/PR)
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