terça-feira, 23 de maio de 2017

AH, SE MORO NÃO TIVESSE QUEBRADO O BRASIL...

Ah, se Moro não tivesse quebrado o Brasil...

Teria sido possível prender os corruptos e salvar as empresas!

Entrevista
Paulo Henrique Amorim


Conversa Afiada reproduz importantíssima entrevista de Walfrido Jorge Warde Júnior, sócio da Warde Advogados, formado em Direito e Filosofia pela USP e doutor pela USP, a Alexa Salomão:

O advogado Walfrido Warde Júnior (...) defende: “Precisamos punir os responsáveis, mas também preservar os negócios”, diz.

(...)

Nós temos algumas leis que gravitam no entorno do problema da corrupção, especificamente da corrupção endêmica, que é o caso da Lava-Jato. Temos a lei de improbidade administrativa, pela qual o Estado busca ressarcimentos – condena quem causou o dano a pagá-lo e impõe outras punições. Por exemplo: não poder fechar contratos com o poder público – caso de empresas; ou perder direitos políticos – caso de pessoa física. Essa ação é pelo Ministério Público. Tem também o processo penal. O autor também é o Ministério Público. Além disso, tem o processo administrativo, que, no caso da Lava-Jato, é tocado pelo Ministério da Transparência (antiga Controladoria Geral da União, CGU), que pode levar à improbidade administrativamente. Então, fazer uma leniência com a ex-CGU não significa que o Ministério Público vá parar uma ação penal. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) busca infrações às regras de proteção à concorrência. TCU (Tribunal de Contas da União) vê se tudo é feito conforme as regras, se a indenização é correta, se a multa é adequada. E por aí vai.

·        O correto seria negociar com todos ao mesmo tempo?

Correto seria que tivéssemos uma legislação que trouxesse toda essa gente para sentar à mesa, em colaboração.

·        Mas o que estamos vendo é concorrência e busca de protagonismo entre eles.

Não podemos ter um combate inconsequente. Quando digo inconsequente é um combate que destrua a empresa brasileira, que acaba com o capitalismo nacional.

·        É isso que está acontecendo?

Estamos vendo isso acontecer. A gente tinha um modelo de capitalismo – podemos discutir se era certo ou errado, mas era assim – escorado em relações entre Estado e empresas. As construtoras eram como recheios do Estado. De um lado, negociavam com o Estado financiamentos para as suas atividades; do outro lado, desde os anos 90, passaram a exercer funções estatais, como concessionárias de serviços públicos.

O perecimento dessas relações tem impacto. Mesmo que elas não tenham sido condenadas, têm problema de reputação. O Estado não pode financiá-las, contratá-las. Simplesmente congelamos um setor importantíssimo da economia.

·        Como empresas corruptas são punidas em outros países?

Temos coisas que nos distinguem do resto do mundo. Primeiro, falta pragmatismo no tratamento dessas questões. No resto do mundo a lei põe todo mundo na cadeia, apresenta qual é o dano, qual indenização deve ser paga, de uma maneira possível, para impactar o mínimo possível a empresa. A segunda coisa é o nosso nível de concentração econômica. Essas empresas são todas pelos donos. É mais fácil quando são de capital aberto.

·        O executivo é uma peça móvel.

Exato. Não há dúvida que no caso brasileiro tem essa dificuldade: achar que uma organização vai deixar de ser como ela era porque você mandou o executivo embora, mas o controlador permanece, é uma ilusão.

(...)
Lá em 2015, a gente tinha uma proposta (veja no Conversa Afiada entrevista com o professor Gilberto Bercovici, um dos co-autores dessa proposta - PHA) que retornou há pouco na voz do ministro Bruno Dantas (do TCU). Você não vai na holding e tira o controlador, mas é possível fazer uma abertura do fechadíssimo mercado de infraestrutura transferindo as concessões. Vamos supor que após a investigação se conclui o tamanho do prejuízo que uma empreiteira causou ao erário. Ela paga transferindo ao Estado as ações do projeto dessa hidrelétrica e o Estado leva a leilão. Se der para cobrir a multa, maravilha. Se não, precisa dar ações de outros projetos.

·        Mas o Estado já foi lesado e ainda vai entrar nisso. Por quê?

Você tem ressarcimento rápido, permite que as empresas paguem a sua dívida com a sociedade e o País e destrava o mercado de infraestrutura.

·        Fazer algo assim não pode dar a sensação de que elas não estão sendo devidamente punidas?

Vão ficar sem punição se quebrarem e não pagarem o que devem. Podem achar que deixar que elas quebrem seria uma punição. Não é. Isso seria uma vendeta emocional.

(...)

Não existem Estados distintos. Existem agentes distintos do Estado. A força-tarefa tem um trabalho importantíssimo de combate à corrupção. Mas não é possível imaginar que Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário estão apartados de outros interesses nacionais. A minha ponderação é simples. Precisamos punir os responsáveis, mas também preservar os negócios.


Nenhum comentário:

Postar um comentário