PHA: Vagner, o que é que para amanhã (28/4)?
·
Vagner:
Tudo. Nós vamos fazer a maior greve geral da história do Brasil. Nós estamos
muito animados, ainda mais com a palhaçada feita pelos congressistas ontem.
Isso colocou mais fogo na greve, ainda. Estou em contato com nossos sindicatos,
com as demais centrais sindicais. A revolta pelo fim da CLT, ontem,
potencializa mais a greve. Então, são todos os setores.
E não é verdade que é uma greve só do
transporte, não. O Setor de transporte é essencial na greve, e vai parar junto.
São Paulo, por exemplo, não vai acontecer amanhã. Os ônibus estarão em greve,
os trens, os metrôs, aeroporto. Agora, as categorias estarão em greve, os
trabalhadores estarão em greve, por conta do desmonte da CLT, da possibilidade
de perder a aposentadoria... Eu acho que vai ser um movimento muito forte, com
todas as centrais sindicais - é importante citar, não é só a CUT. Todas as
centrais sindicais estão organizando a greve com muita fibra.
Acredito muito na força da greve. E isso
já se demonstra hoje pelo poder público tentando inibir a greve. O bufão do
prefeito de São Paulo, tentando aparecer, porque ele só é um prefeitinho
midiático. São Paulo está jogada às traças e tem um palhaço, um bufão, na
cadeira de prefeito, que tenta aparecer criando factoides a todo momento -
xingando o Lula, agora xingando a greve e o sindicalismo, tentando impedir a
greve.
Não adianta: a greve em São Paulo vai
acontecer com muita força. Há bom apoio à greve na sociedade, mais de 70% a 80%
das pessoas que estamos ouvindo em pesquisas, até nos portais conservadores,
têm demonstrado apoio em relação à greve. Líderes religiosos, líderes
nacionais... Acho que vai ser a maior greve que já fizemos.
PHA: Quando você fala em todas as centrais sindicais,
você inclui a central do Paulinho da Força - que aqui no Conversa Afiada
chamamos de "Pauzinho do Dantas"?
·
Vagner: A
Força Sindical estará na greve. Seus sindicatos estão convocando a greve. Tenho
acompanhado, agora, inclusive o portal da Força e dos seus sindicatos, eles vão
estar na greve, sim, estão convocando a greve. Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo, que é ligado à Força, é muito forte. Outros sindicatos, como todo o
setor químico de São Paulo, que é ligado à Força também - tem químicos de São
Paulo ligados à Força e ligados à CUT - também estão chamando a greve. São
grandes sindicatos da Força, e a Central também, enquanto Central, também está
chamando a greve.
Não tem muito jeito: é por conta do
desmonte da CLT. Independente da opinião da Central sobre a conjuntura, sobre o
governo e tal, não dá pra suportar o desmonte da CLT e, obrigatoriamente, vai à
greve, empurrada pelos trabalhadores.
PHA: E os petroleiros, Vagner?
·
Vagner:
Estaremos em grande manifestação nos petroleiros. As refinarias estarão
paralisadas, as principais delas, no Brasil inteiro. Fundamentalmente, no Rio
de Janeiro, na Bahia, aqui em São Paulo, no Ceará, no Paraná... Vai ter até por
conta do desmonte da Petrobras. Os petroleiros sabem que ao fim e ao cabo significa o fim de seus empregos. Não
tenho dúvida nenhuma que vai ter uma adesão muito forte no ramo petroleiro em
todo o país.
PHA: O que você acha que foi mais decisivo para mobilizar
a greve: esse fim da CLT, a reforma da previdência, ou o desemprego
propriamente dito?
·
Vagner: O
Temer! Acho que o que mobiliza a greve é o Temer! A desgraça que ele traz pro
Brasil, com a paralisação da economia, a falta de esperança do povo brasileiro,
a mentira que eles fizeram com o impeachment. Disseram que o impeachment -
impeachment não! Golpe! - que o Golpe que deram contra a presidenta Dilma
resolveria as questões econômicas, que o Brasil voltaria a crescer, que ia
gerar empregos... Pelo contrário: o Brasil piorou, com a crise econômica,
política e moral de legitimidade enorme que faz com que os brasileiros não
tenham esperança e sabem que precisam acabar com esse governo, ter o Fora Temer, ter eleições diretas para
Presidente da República, para o congresso, para poder sair dessa crise.
Isso é uma coisa que impulsiona muito a
greve, esse desencanto com a mentira golpista, as pessoas caíram na real. E as
propostas de mudanças, as reformas, os desmontes. É um governo louco, corrupto,
que não tem autoridade política, ética ou moral, e vem com a proposta de acabar
com aposentadoria, com férias, décimo-terceiro salário... Acabar, enfim, com a
CLT. A junção da mentira golpista com a proposta das reformas é o que faz a
greve e constrói a mobilização junto com a capacidade que os sindicatos tiveram
de ler esse momento e propor a greve.
PHA: Qual o efeito do fim da CLT sobre a CUT e os
filiados da CUT?
·
Vagner: A
CUT surgiu questionando alguns pontos importantes da organização trabalhista e
sindical brasileira. Nós acreditamos que a CLT é extremamente importante pro
Brasil hoje, até por conta de ter um governo golpista, um congresso eleito
pelos empresários - e que estão aí apenas para atender aos interesses dos
empresários. A CLT, embora tenha que ser modernizada, ela é um arcabouço de
defesa importante dos trabalhadores no momento de Golpe contra os
trabalhadores. Então temos que defender a CLT neste momento.
A CUT nem quer fazer debate neste momento
sobre as coisas que têm de ser alteradas positivamente na CLT, porque não cabe
debate com golpista. Debate de mudanças sérias, não só na CLT, como em qualquer
outra questão da política nacional, só deve ser feito com quem foi eleito e com
um congresso que não seja corrupto e eleito pelos banqueiros, empreiteiros,
como é esse aí.
Pra CUT, o que muda em relação à CLT é
que, se os trabalhadores perdem sua carteira assinada, perdem os vínculos com
sua empresa, eles também perdem os vínculos com seu sindicato. E, por trás
disso, tem a questão do desmonte da CUT, do movimento sindical. O que Temer e
os golpistas querem fazer é que os trabalhadores não tenham carteira assinada
e, logo, eles não têm uma categoria profissional nítida, legal e,
consequentemente, ficam com dificuldade de ter um sindicato que os proteja,
onde ele possa estar engajado.
Acho que esse é um dos principais
motivos dessa reforma: o enfraquecimento do movimento sindical. O
enfraquecimento, fundamentalmente, da CUT - se eles desmontam os principais
sindicatos organizados e transformam, por exemplo, os metalúrgicos, bancários,
químicos, os petroleiros, os professores em pessoas jurídicas, com a
terceirização, obviamente vamos ter uma reformulação na atuação da CUT pra
representar esses trabalhadores numa outra esfera.
Não tem nada a ver com dinheiro.
Gostaria de dizer claramente isso. A CUT não está preocupada com o fim do
imposto sindical. Sabemos que nós temos que ter uma sustentação financeira além
da associação, porque o Brasil tem política antisindical, os trabalhadores são
impedidos de se associar livremente, os sindicatos são impedidos de entrar no
local de trabalho, consequentemente ele não tem a condição de representar todos
os trabalhadores porque a lei antisindical brasileira impede. Agora, a CUT pode
suportar o fim do imposto sindical, porque ela tem capacidade de filiar
trabalhadores, ela tem fonte de receita por conta do trabalho de seus
sindicatos.
O problema não é só esse. O grande
problema é que muda a base de representação dos trabalhadores. Deixam de estar
nos sindicatos que estão para entrar em outros sindicatos. E isso pode, sem
dúvida nenhuma, enfraquecer a CUT.
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