Paulo Henrique Amorim
Tá
dando alpiste pro passarinho?
Era a senha do Temer para o Joesley
comprar o silêncio do Cunha!
O passarinho tá tranquilo na gaiola?
Segundo Ricardo Saud, executivo da
holding J&F, essas frases foram usadas pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB)
para se referir à propina dada ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB),
detido pela Operação Lava-Jato.
Ainda de acordo com Saud, um dos sete
delatores da JBS, Cunha e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro -- que também está
preso -- recebiam dinheiro para ficar em silêncio, sem colaborar com as
investigações.
Em delação ao Ministério Público no dia
10 de maio deste ano, o executivo contou que Joesley Batista, dono da JBS, se
encontrou com Temer para dizer que "estava acabando o alpiste do
passarinho". Ou seja, que a empresa deixaria de pagar a propina.
No que o presidente teria afirmado:
''Continua, isso é muito importante''.
A companhia então continuou com os
repasses. "Vamos pagar mais um ou dois, só, até o Michel Temer resolver
como é que vai pagar isso. Porque nós já cumprimos nossa parte, não vamos mais
ficar segurando ninguém", teria dito Batista a Saud.
Saud acredita que a fala dos detidos
poderia comprometer "a República e a nossa empresa". "A
República como um todo. Não é só político. É o Executivo, o Legislativo todo.
Ali todo mundo trabalha junto."
Na gravação divulgada pelo STF (Supremo
Tribunal Federal), o momento em que Temer diz "Temos que manter isso,
viu?" conta com vários trechos inaudíveis. Sem a transcrição oficial do
diálogo, não é possível cravar que o presidente fez o comentário dando aval aos
pagamentos.
Em pronunciamento público, Temer negou
ter dado aval à compra de silêncio. "Ouvi realmente o relato de um
empresário, que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do
ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento
de fato dessa conversa pedida pelo empresário. Repito e ressalto: em nenhum
momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não
comprei o silêncio de ninguém, por uma razão singelíssima: exata e precisamente
porque não temo nenhuma delação. Não preciso de cargo público nem de foro
especial, nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome: na universidade, na
vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos, e
nunca autorizei, por isso mesmo, que usassem meu nome indevidamente".
Em nota, Temer confirmou o encontro, mas
disse que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do
ex-deputado Eduardo Cunha" e negou ter participado ou autorizado
"qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a
Justiça pelo ex-parlamentar".
Já Cunha, em nota redigida de próprio
punho, afirmou que Joesley Batista mentiu ao dizer que estava pagando pelo seu
silêncio. "Estou exercendo o meu direito de defesa, não estou em silêncio
e tampouco ficarei", diz Cunha no texto. Ele reforçou ainda que
"jamais" pediu "qualquer coisas ao presidente Michel
Temer".
O executivo da J&F não especifica o
valor pago a Cunha, mas diz que Funaro recebe R$ 400 mil mensais da empresa
desde que foi preso, em julho de 2016. "Criou-se um mensalinho",
resumiu. O repasse era feito inicialmente ao irmão de Funaro. Depois, passou a
ser recebido por Roberta, a irmã. Em um desses encontros, gravado pela Polícia
Federal, ela estava acompanhada de uma criança de quatro anos.
Antes do "mensalinho", a
J&F já pagava propina ao doleiro referente a um processo da Eldorado
Brasil, empresa de celulose da holding. "O Lúcio nunca foi próximo do
grupo, sempre foi uma pessoa que chantageou muito o grupo. [...] Ele procurava
as peças nos lugares certos para sair cobrando propina das pessoas",
resumiu Saud.
O UOL tentou contato com os dois novos
advogados de Eduardo Cunha - Rodrigo Rios e Ticiano Figueiredo -, mas nenhum
deles atendeu aos telefonemas.
Segundo o advogado do doleiro Lúcio
Bolonha Funaro, Bruno Espiñeira, ele e o cliente só vão se posicionar após
analisar cuidadosamente o material da denúncia. "Estamos encarando da
mesma forma como qualquer delação, que muitas vezes acontece com o delator
apenas querendo se librar de problemas e distorcendo fatos".
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