quinta-feira, 7 de setembro de 2017

DECADÊNCIA DA REPÚBLICA QUADRILHEIRA

decadência da república quadrilheira

Dom Orvandil*


Prezada jornalista Meire Bottura,

Agradeço muito pela participação da amiga em forma de comentários no blog.

Na luta que fazemos com outros blogs e sites buscamos desconstruir o bloco pesado de poluição do senso comum, portanto cada contribuição é de inestimável valor. A sua, de modo especial por ser trabalhadora das áreas do jornalismo e bancária.

Confesso que sinto nojo, revolta e profunda tristeza com tudo o que vem à tona com as revelações que vêm das prisões e delações dos ladrões de sempre, embora tudo seja muito restrito, incipiente e seletivo.

Na verdade, não me decepciono. Há anos que sei de tudo isso e como tudo é parte do jogo dessa elite dominante, que arrasa o Brasil e nosso povo desde a invasão colonial a partir de 1500.

Coisas como o espetáculo chamado mensalão sob o comando de ministros medíocres do STF, aliados da mídia pornográfica da verdade, como os shows pobres de inteligência e miseráveis de patriotismo, nacionalidade e de democracia promovidos pela força – fraqueza – tarefa da lava-jato, com seus juízes, promotores, procuradores e policiais federais corruptores da justiça e da ciência, na afronta aos fatos e à amplitude judicial, não me surpreendem.

As malas de dinheiro, andando pelas ruas ou escondendo milhões em apartamentos fechados, com recursos roubados do povo e do Estado assaltado pelos grupos mais apodrecidos do País, entristecem-me, mas não me decepcionam.

Termos parlamento sujo com deputados e senadores que serviriam mais para ocupar espaços em presídios ou condenados a prestação de serviços pesados em lugares remotos como criminosos de alta periculosidade e desrespeitosos às coisas públicas e à Constituição, me envergonha sim, mas não me surpreende.

Contarmos com um STF composto de 11 ministros apáticos, coniventes e cúmplices do grave golpe de Estado, que o bando de assaltantes do poder armou para assaltar e estrangular a qualidade de vida de nosso País e do nosso povo , me indigna mas não me surpreende.

Ver pobres torcendo pela direita de tez fascista e se congestionando de ódio me choca, mas não me surpreende.

Tentar ajudar a mobilizar nosso povo e sentir dó por vê-lo tão alheio à depredação dos direitos sociais, inclusive os de primeira necessidade, ao roubo em alta escala dos bens do nosso solo, das nossas matas, das nossas águas e do nosso subsolo, me faz sentir dor lacerante na alma, mas também não me surpreende.

É impactante ver centenas e até milhares de grupos agindo contra o golpe, mas separados e se achando donos da verdade, sem capacidade de mobilização e unidade, me assustam, mas não me surpreendem.

Tudo, minha amiga, faz parte da grande jogada da elite dominante, a mais podre, desumana, egoísta, perversa e preguiçosa do mundo, com muitos desses desvalores já identificados por Darci Ribeiro há muitos anos.

Essa elite apátrida é egoísta porque no seu ideário o Brasil não passa de um canteiro de onde arrancam produtos para comercializar e os brasileiros escravos que devem trabalhar sem direitos para enriquecê-la.

A elite é burra porque ao desvalorizar sua classe trabalhadora com a ilusão de que a tecnologia tudo fará para levantar lucros, no fundo, ela mesma será arrasada e derrubada por ser estúpida e abocanhadora de tudo sem nada repartir, não me surpreende, embora me enoje de ver os seus mentindo e em alto estilo se achando eterna.

Os grupos dominantes são imorais, porque não respeitam pactos, mesmo os defendidos por seus teóricos burgueses. São predatórios destrutivos até mesmo de suas próprias fontes de riquezas e isso não surpreende.

Tomaram o poder em todas as suas instâncias: o executivo, o legislativo e o judiciário. Em todos eles fazem o que vemos nesta conjuntura e isto era previsível, menos para os ingênuos.

Desgraçadamente muitos de nós nos deitamos nas redes certos de que o Brasil e a felicidade do povo brasileiro estavam salvos.

Nada, essa elite atuou sempre na movimentação das peças da tomada do poder.

Eles tomaram o poder.

No mais, tudo é jogo de sena. Rodrigo Janot confessa sua miséria moral, falta de coragem e se afirma como medroso fiel a tudo o que há de mais sórdido a quem ele serve e com quem quer assegurar emprego após deixar o cargo de chefe do MPF, que exerceu com parcialidade seletiva e com muita mediocridade, também faz jogo de sena tendo como palco a pocilga da mesma elite suja a quem serve.

Quanto mais a elite se mostrar, melhor.

Quanto mais a sociedade perceber, mais nos aproximaremos da verdade de que essa elite não serve ao País. O que nos restará?

Essas seleçõezinhas dos lavajateiros, de ministério público, de delações e de prisões coercitivas são todas material intestinal, que de vez em quando esborrifam nos ventiladores, fazendo shows mediáticos estilo programas policiais de baixa qualidade, porque agem nas superfícies dos chiqueiros da elite. E nada mais.

Até mesmo eleições não servirão para nada.

Não haverá salvação fora da insurreição, da mobilização organizada, na luta com o povo nas ruas e no levante popular para varrer todos eles.

Nesta luta, nós, o povo brasileiro, temos que recuperar o significado constitucional de que todo o poder emana do povo.

Emana do povo e não de leis frias, mortas e atingidas pelas ejaculações estuprantes golpistas.

O grito dos excluídos tem que virar tomada da República de fato e por vias de fato, sem enrolação!

Chega! Basta de golpe!

Abraços críticos às obras malcheirosas e putrefatas da elite, excludente e injusta, mas abraços fraternos a quem sonha e luta para tomar o poder e realizar a democracia que merecemos.


* Dom Orvaldil é Arcebispo, Campo Grande/MS

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