Dom Orvandil*
Prezada jornalista Meire
Bottura,
Agradeço muito pela
participação da amiga em forma de comentários no blog.
Na luta que fazemos com
outros blogs e sites buscamos desconstruir o bloco pesado de poluição do senso
comum, portanto cada contribuição é de inestimável valor. A sua, de modo
especial por ser trabalhadora das áreas do jornalismo e bancária.
Confesso que sinto nojo,
revolta e profunda tristeza com tudo o que vem à tona com as revelações que vêm
das prisões e delações dos ladrões de sempre, embora tudo seja muito restrito,
incipiente e seletivo.
Na verdade, não me
decepciono. Há anos que sei de tudo isso e como tudo é parte do jogo dessa
elite dominante, que arrasa o Brasil e nosso povo desde a invasão colonial a
partir de 1500.
Coisas como o espetáculo
chamado mensalão sob o comando de ministros medíocres do STF, aliados da mídia
pornográfica da verdade, como os shows pobres de inteligência e miseráveis de
patriotismo, nacionalidade e de democracia promovidos pela força – fraqueza –
tarefa da lava-jato, com seus juízes, promotores, procuradores e policiais
federais corruptores da justiça e da ciência, na afronta aos fatos e à
amplitude judicial, não me surpreendem.
As malas de dinheiro, andando
pelas ruas ou escondendo milhões em apartamentos fechados, com recursos
roubados do povo e do Estado assaltado pelos grupos mais apodrecidos do País,
entristecem-me, mas não me decepcionam.
Termos parlamento sujo com
deputados e senadores que serviriam mais para ocupar espaços em presídios ou
condenados a prestação de serviços pesados em lugares remotos como criminosos
de alta periculosidade e desrespeitosos às coisas públicas e à Constituição, me
envergonha sim, mas não me surpreende.
Contarmos com um STF composto
de 11 ministros apáticos, coniventes e cúmplices do grave golpe de Estado, que
o bando de assaltantes do poder armou para assaltar e estrangular a qualidade
de vida de nosso País e do nosso povo , me indigna mas não me surpreende.
Ver pobres torcendo pela
direita de tez fascista e se congestionando de ódio me choca, mas não me
surpreende.
Tentar ajudar a mobilizar
nosso povo e sentir dó por vê-lo tão alheio à depredação dos direitos sociais,
inclusive os de primeira necessidade, ao roubo em alta escala dos bens do nosso
solo, das nossas matas, das nossas águas e do nosso subsolo, me faz sentir dor
lacerante na alma, mas também não me surpreende.
É impactante ver centenas e
até milhares de grupos agindo contra o golpe, mas separados e se achando donos
da verdade, sem capacidade de mobilização e unidade, me assustam, mas não me
surpreendem.
Tudo, minha amiga, faz parte
da grande jogada da elite dominante, a mais podre, desumana, egoísta, perversa
e preguiçosa do mundo, com muitos desses desvalores já identificados por Darci
Ribeiro há muitos anos.
Essa elite apátrida é egoísta
porque no seu ideário o Brasil não passa de um canteiro de onde arrancam
produtos para comercializar e os brasileiros escravos que devem trabalhar sem
direitos para enriquecê-la.
A elite é burra porque ao
desvalorizar sua classe trabalhadora com a ilusão de que a tecnologia tudo fará
para levantar lucros, no fundo, ela mesma será arrasada e derrubada por ser
estúpida e abocanhadora de tudo sem nada repartir, não me surpreende, embora me
enoje de ver os seus mentindo e em alto estilo se achando eterna.
Os grupos dominantes são
imorais, porque não respeitam pactos, mesmo os defendidos por seus teóricos
burgueses. São predatórios destrutivos até mesmo de suas próprias fontes de
riquezas e isso não surpreende.
Tomaram o poder em todas as
suas instâncias: o executivo, o legislativo e o judiciário. Em todos eles fazem
o que vemos nesta conjuntura e isto era previsível, menos para os ingênuos.
Desgraçadamente muitos de nós
nos deitamos nas redes certos de que o Brasil e a felicidade do povo brasileiro
estavam salvos.
Nada, essa elite atuou sempre
na movimentação das peças da tomada do poder.
Eles tomaram o poder.
No mais, tudo é jogo de sena.
Rodrigo Janot confessa sua miséria moral, falta de coragem e se afirma como
medroso fiel a tudo o que há de mais sórdido a quem ele serve e com quem quer
assegurar emprego após deixar o cargo de chefe do MPF, que exerceu com
parcialidade seletiva e com muita mediocridade, também faz jogo de sena tendo
como palco a pocilga da mesma elite suja a quem serve.
Quanto mais a elite se
mostrar, melhor.
Quanto mais a sociedade
perceber, mais nos aproximaremos da verdade de que essa elite não serve ao
País. O que nos restará?
Essas seleçõezinhas dos
lavajateiros, de ministério público, de delações e de prisões coercitivas são
todas material intestinal, que de vez em quando esborrifam nos ventiladores,
fazendo shows mediáticos estilo programas policiais de baixa qualidade, porque
agem nas superfícies dos chiqueiros da elite. E nada mais.
Até mesmo eleições não
servirão para nada.
Não haverá salvação fora da
insurreição, da mobilização organizada, na luta com o povo nas ruas e no
levante popular para varrer todos eles.
Nesta luta, nós, o povo
brasileiro, temos que recuperar o significado constitucional de que todo o
poder emana do povo.
Emana do povo e não de leis
frias, mortas e atingidas pelas ejaculações estuprantes golpistas.
O grito dos excluídos tem que
virar tomada da República de fato e por vias de fato, sem enrolação!
Chega! Basta de golpe!
Abraços críticos às obras
malcheirosas e putrefatas da elite, excludente e injusta, mas abraços fraternos
a quem sonha e luta para tomar o poder e realizar a democracia que merecemos.
* Dom Orvaldil é Arcebispo,
Campo Grande/MS
Nenhum comentário:
Postar um comentário