José Dirceu: Venezuela resiste, Trump ameaça e o Brasil se submete
É triste ver o Brasil perder a liderança diplomática ao abandonar os princípios da não intervenção nos assuntos internos dos demais países e da autodeterminação dos povos
Com o texto abaixo, o ex-ministro José Dirceu estreia coluna em Opera Mundi, na qual discutirá temas relativos à conjuntura internacional e aos posicionamentos diplomáticos e políticos do governo brasileiro.
Há semanas escrevi para o jornal espanhol El Pais um artigo sobre a Venezuela, indignado que estava com a política do governo brasileiro, através das operações diplomáticas do Itamaraty, agindo de forma absolutamente irresponsável e submissa aos interesses da direita venezuelana e dos Estados Unidos.
Há semanas escrevi para o jornal espanhol El Pais um artigo sobre a Venezuela, indignado que estava com a política do governo brasileiro, através das operações diplomáticas do Itamaraty, agindo de forma absolutamente irresponsável e submissa aos interesses da direita venezuelana e dos Estados Unidos.
Ao apoiar a oposição, o governo brasileiro alimenta as correntes favoráveis à guerra civil e à intervenção norte-americana, chancelando um noticiário que, no Brasil como na maioria da imprensa internacional, está comprometido com os inimigos do chavismo e sua versão dos fatos.
Não se trata de julgar o governo Maduro ou a revolução bolivariana, mas de buscar saídas pacificas para a crise política e econômica do país, sem intervenção externa e uso da força, até porque as Forças Armadas apoiam Maduro, o governo e a Constituinte.
A administração Trump ameaçou de público intervir na Venezuela a favor da oposição, recebendo imediatamente o repúdio dos governos do México, Peru e Colômbia, deixando a diplomacia brasileira isolada e em maus lençóis, obrigando-a tardiamente a condenar a ameaça norte americana.
O fato é que a oposição optou por derrubar o governo legal e constitucional de Maduro, nossos golpistas – acostumados à impunidade – logo a apoiaram e, submissos a Washington, silenciaram-se frente às ameaças da Casa Branca.
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As forças conservadoras tiveram a ilusão de que os milhões de beneficiados com a revolução e os governos chavistas se manteriam na defensiva, inertes frente a ataques armados, sabotagens, desabastecimento de produtos essenciais, locaute de empresários, agressões e assassinatos de apoiadores e liderança – a metade dos mortos nas manifestações são policiais e manifestantes a favor do governo Maduro.
Jamais previram a convocação da Constituinte e das eleições regionais e menosprezaram o apoio total das forcas armadas. Recorrendo a dispositivos constitucionais, o presidente Maduro chamou o povo a exercer o poder originário, colocou todas as instituições do Estado sob a batuta da instância democrática soberana e vem recuperando a normalidade política, enfrentando a crise criada pela oposição golpista a partir de sua maioria na Assembleia Nacional.
Agência Efe
Venezuelanos durante os exercícios militares da "Soberania Popular 2017"
Venezuelanos durante os exercícios militares da "Soberania Popular 2017"
Com a iniciativa política lhe escapando das mãos, depois do forte comparecimento às urnas constituintes e da marcação dos pleitos estaduais, restou à oposição apostar suas fichas na pressão que possa ser exercida pelos centros imperialistas, da qual são representativas as ameaças de Trump e as sanções ilegais decididas contra a Venezuela, repetindo o roteiro do fracassado e arbitrário bloqueio a Cuba, vigente desde 1962.
Nessa situação, também é triste ver como o Brasil perde a liderança diplomática, jogando no lixo o papel conquistado por Lula na América do Sul, sempre a favor de soluções negociadas e respeito absoluto aos princípios da não intervenção nos assuntos internos dos demais países e da autodeterminação dos povos.
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