quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A estupidez é uma gripe

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A estupidez é uma gripe

Por Alexandre Marini em 16/10/2017 na edição 962
Por que há tanta gente querida dizendo e escrevendo tanta bobagem? em todos os lugares, nada escapa. Redes sociais, então, nem se fala. Deve ser um vírus. A estupidez é uma gripe.”Mas sempre foi assim”, ponderei comigo mesmo.
Sim, mas antes podíamos, de alguma forma, mesmo que tortuosa, evitar ou diminuir o contágio: não chegar perto daquela pessoa em estado claramente estúpido. Evitar a exposição direta sempre foi uma opção viável e prática.
Por exemplo: se determinada pessoa começasse a falar bobagens ou absurdos quaisquer, podíamos evitar os mesmos ambientes, deixar de ir à sua casa por um tempo, desencontrar horários, mudar de calçada, sentar numa fileira mais longe, do outro lado da sala, etc. Mas mesmo quando, com todas essas “evitações”, sem querer o encontro acontecia, bastava jogar um “vamos marcar de se ver e conversar mais qualquer dia” no abismo das promessas que nunca cumprimos.
Mas eis que chega o coletivo das redes sociais com a promessa de trazer novos ares. E o que fazemos? Entramos todos dentro e fechamos as janelas. Resultado: um ótimo lugar para concentrar e viralizar a estupidez.
Agora a pessoa pode estar do outro lado do planeta, mas não adianta: a estupidez chega até você, na sua cara. Vem assim, no susto – pá! Não dá nem para virar o rosto. Está na sua timeline.
Fechamos mais janelas, mas não adianta. É parente próximo, parente distante, amigo de infância, colega do trabalho, pessoas que já foram ou são importantes para nós. É muita gente querida gripada, falando, espirrando, respingando estupidez.
As cepas virais mais fortes são, normalmente, antidemocráticas. Cérebros constipados, com problemas mais sérios de oxigenação, tendem a querer resolver desigualdades com consumo diferenciado, educação com censura, violência com mais armamentos e aprimorar a democracia com autoritarismos.
Tem quem confunda os próprios preconceitos com capacidade crítica (incluindo arte, tão na moda agora), censura com direito, ideologia com teoria, gênero com sexo, crença com conhecimento científico, religião com política, conservadorismo com discurso de ódio, diálogo com polarização, o próprio quintal com o mundo, o umbigo com o sol.
E, claro, tem quem se ache com mais direitos que outros, inclusive o de negar direitos aos outros. Também é comum que o paciente gripado pela estupidez não sinta seus próprios privilégios, mesmo quando estimulados e evidentes. Uma certa paralisia sensorial.
Por fim, ficamos diante de quem não entende de quase nada, falando sobre quase tudo, com a certeza de quem sabe muito, e sem ter muito o que fazer.
Por isso, não custa tentar…
“Querido Zuckerberg,
Não quero excluir ou bloquear indefinidamente as pessoas que eu gosto, pois é uma gripe, é gente boa, saudável que uma hora melhora. Assim, faço um pedido: crie um filtro temporário, um clique basta. Além daqueles curtir, amei, etc, um “gripado”.
Um emoticon com máscara no rosto que nos manteria a uma distância relativamente segura daqueles que insistem em espirrar estupidez. Poderíamos classificar, inclusive, alguém como portador de um pequeno resfriado ou até (em seu grau máximo) uma gripe suína, em que o espírito de porco parece já ter tomado conta. Tem certas horas que aproximar, afasta, caro Zuckerberg. Depois, quando melhorassem, voltariam para nossa timeline. Ia ser tão mais saudável. Questão de saúde pública.
Obrigado pela atenção.”
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Alexandre Marini é sociólogo e professor.
Fonte: Observatório da Imprensa

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