Analfabetismo
Político
José de Oliveira Costa*
“Indiferença é abolia, parasitismo,
covardia”
Gramsci
Há provérbios gestados na
sabedoria popular que têm inegáveis traços de verdade. Por exemplo: “Há males
que trazem o bem”. Às vezes, até a nossa ingenuidade utiliza isto para consolo frente àquelas desilusões que a vida
nos proporciona. Mas o mal pode, sim, nos servir de advertência e o nosso
discernimento, apontar caminhos para a restauração da nossa paz interior.
O raciocínio, acima, bem que
pode caber ao caso do Brasil de hoje.
As pesquisas apontam que mais
de 90% da população está a proclamar seu repúdio à situação que está vivendo a
sociedade brasileira. A reação vai da revolta ao nojo.
Estaria aí o lado bom do mau?
Este sentimento individual de
pessoas pode transmudar-se em um processo de socialização ao exigir resposta,
de cada um para todos e de todos para cada um, a uma pergunta fundamental: de
quem é a culpa?
Se for buscar resposta no
mecanismo que rege uma democracia, topamos em dois elementos: o voto e a
consciência do eleitor. A simples manipulação física do voto, para distorcer
resultado de eleição, jamais teria força para produzir essa montanha de
políticos sem qualquer compromisso com a ética ou com ideais de uma sociedade
mais justa.
Qualquer mudança
significativa somente se dará quando a cabeça do eleitor se encher da convicção
de que ele é o principal responsável pelo comportamento do político que ele
escolheu para eleger. O voto irresponsável é o que produz o político corrupto
ou despreparado. Há também o voto ingênuo, cuja fonte é o eleitor desinformado
ou sem discernimento de buscar as informações corretas sem se tornar
instrumento da mídia manipuladora.
Mas o voto mais pernicioso é
o do eleitor indiferente e que para dissimular a sua irresponsabilidade diz-se avesso
à política, e não se dá conta de que, numa sociedade democrática, ou você
participa ou aceita a pecha de “analfabeto político” com que o genial poema de
Brecht, escritor alemão, pôs à luz a hipocrisia e a irresponsabilidade social
do eleitor indiferente ou resignado.
O indiferente é o ser
incompleto. Não tem rosto. O seu semblante é como o eco da multidão, sem
originalidade e sem identificação. O indiferente transita entre o psicológico e
o social numa tremenda angústia de identidade. Ora é “ele”, ora é o “outro”. Em
alguns poucos instantes se sente “nós”. Entretanto, quando comungamos esse
sentimento de “nós”, é aí que reside o lado precioso da humanidade. É quando
vivemos momentos que, por serem raros, são ao mesmo tempo intensos e fugazes.
Quando duradouros produzem milagres. A solidariedade social, o sentimento do
“Nós” é a única força capaz de induzir as transformações em direção ao bem
comum em contraposição às graves perversidades da desigualdade social que não
para de crescer no mundo às expensas do analfabetismo político.
* Engenheiro agrônomo, mestre em economia, professor
aposentado da UFPB
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