quarta-feira, 18 de outubro de 2017

ANALFABETISMO POLÍTICO

Analfabetismo Político

José de Oliveira Costa*


“Indiferença é abolia, parasitismo, covardia”
Gramsci

Há provérbios gestados na sabedoria popular que têm inegáveis traços de verdade. Por exemplo: “Há males que trazem o bem”. Às vezes, até a nossa ingenuidade utiliza isto para  consolo frente àquelas desilusões que a vida nos proporciona. Mas o mal pode, sim, nos servir de advertência e o nosso discernimento, apontar caminhos para a restauração da nossa paz interior.

O raciocínio, acima, bem que pode caber ao caso do Brasil de hoje.

As pesquisas apontam que mais de 90% da população está a proclamar seu repúdio à situação que está vivendo a sociedade brasileira. A reação vai da revolta ao nojo.

Estaria aí o lado bom do mau?

Este sentimento individual de pessoas pode transmudar-se em um processo de socialização ao exigir resposta, de cada um para todos e de todos para cada um, a uma pergunta fundamental: de quem é a culpa?

Se for buscar resposta no mecanismo que rege uma democracia, topamos em dois elementos: o voto e a consciência do eleitor. A simples manipulação física do voto, para distorcer resultado de eleição, jamais teria força para produzir essa montanha de políticos sem qualquer compromisso com a ética ou com ideais de uma sociedade mais justa.

Qualquer mudança significativa somente se dará quando a cabeça do eleitor se encher da convicção de que ele é o principal responsável pelo comportamento do político que ele escolheu para eleger. O voto irresponsável é o que produz o político corrupto ou despreparado. Há também o voto ingênuo, cuja fonte é o eleitor desinformado ou sem discernimento de buscar as informações corretas sem se tornar instrumento da mídia  manipuladora.

Mas o voto mais pernicioso é o do eleitor indiferente e que para dissimular a sua irresponsabilidade diz-se avesso à política, e não se dá conta de que, numa sociedade democrática, ou você participa ou aceita a pecha de “analfabeto político” com que o genial poema de Brecht, escritor alemão, pôs à luz a hipocrisia e a irresponsabilidade social do eleitor indiferente ou resignado.

O indiferente é o ser incompleto. Não tem rosto. O seu semblante é como o eco da multidão, sem originalidade e sem identificação. O indiferente transita entre o psicológico e o social numa tremenda angústia de identidade. Ora é “ele”, ora é o “outro”. Em alguns poucos instantes se sente “nós”. Entretanto, quando comungamos esse sentimento de “nós”, é aí que reside o lado precioso da humanidade. É quando vivemos momentos que, por serem raros, são ao mesmo tempo intensos e fugazes. Quando duradouros produzem milagres. A solidariedade social, o sentimento do “Nós” é a única força capaz de induzir as transformações em direção ao bem comum em contraposição às graves perversidades da desigualdade social que não para de crescer no mundo às expensas do analfabetismo político.


*  Engenheiro agrônomo, mestre em economia, professor aposentado da UFPB

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